quinta-feira, 2 de maio de 2013

DROPS – HISTÓRIAS REALMENTE ACONTECIDAS (87)

PASSEIO PELA LIVRARIA CULTURA RIO E DESABAFO LIVRESCO
Nas viagens que faço por aí afora, algo quase obrigatório são as visitas às livrarias. Conheço quase todas por onde passo e nos mais diferentes lugares. Só deixo de visitá-las por dois motivos, primeiro quando a correria não me permite e depois, quando não existem livrarias nas cidades. No segundo item, essas cidades já caem no meu conceito de imediato. Tem algumas com mais de dez mil habitantes e nem uma mera banca de jornal possui. Como viver sem uma boa e necessária leitura diária? Detesto consultar pessoas e ao perguntar-lhes pelos livros lidos, vem com aquele resposta pronta: “Leio a Bíblia. Ela é tudo”. Como se isso bastasse. Ninguém pode se espelhar e querer tocar suas vidas com a leitura de um só texto, uma só visão de mundo, pois com toda a certeza estará sendo conduzido. E um mundo sendo conduzido, sendo teleguiado é um mundo de visão restrita, limitada e seguindo conforme o interesse de uns poucos sobre os da maioria. Com certeza, pelo que tenho visto hoje, quem se espelha só na Bíblia para viver, segue como manada, conduzido por uns espertalhões, que prejulgam e indicam um só caminho, sem nenhuma outra alternativa e emburrece as massas. Ler é tão bom e algo que não sai da cabeça é o que ouvi da bibliotecária de Reginópolis, cidade de 3 mil habitantes, 70 km de Bauru. “A grande maioria dos frequentadores são estudantes. Eles vem só buscar os livros para fazer trabalhos. Na terceira idade, só umas poucas senhoras, nenhum homem e na meia idade, ninguém”, conta diante de bem montadas estantes de livros, com novidades mil. Isso dói.

Eu insisto e quero conhecer todas elas. Outro dia levei o filho em Araraquara, onde está estudando e morando, fazendo questão de conhecer todas as que ainda se mantém de portas abertas nas ruas da cidade. Eram três e uma delas, está prestes a abrir uma filial, mais um sebo e diante da imensa Biblioteca Municipal. Fico radiante diante disso e triste ao saber, como o fiz semana passada, que uma das librarias lá dentro do campus da Unesp Bauru, a Prosa & Verso, quase junto da lanchonete, comandada pela Emilla, fechou suas portas no começo do ano. Ver aquelas portas cerradas é algo muito triste. Adoro ver livrarias sendo abertas e não fechadas. O fato é que lemos pouco. Eu mesmo, confesso aqui, que com o advento do facebook (não posso culpar somente ele), leio menos. No máximo uns cinco ou seis anos atrás lia até cinco livros por mês, hoje quando consigo ler um, fico radiante. Revistas, compro e ainda consigo devorar a Carta Capital, Brasileiros, Piauí, História da Biblioteca Nacional e Samuel, além de tentar ler pela internet o Página 12 e o Carta Maior.


Leio menos, é fato, mas não deixo de frequentar esses templos divinais. Nesse começo de semana estive pela segunda vez na novíssima Livraria Cultura na cidade do Rio de Janeiro, irmã daquela gigantesca encravada no Conjunto Nacional, na avenida Paulista, no coração paulistano. Posso criticar a linha de pensamento do seu proprietário, Pedro Herz, neoliberal até a medula, mas tenho que confessar, seu templo é lindo. Numa travessa ao lado da Cinelândia, na rua senador Dantas nº 45, onde décadas atrás funcionou o Cine Vitória, louvável o espírito empreendedor de recuperar o espaço e ali montar um dos maiores espaço culturais do centro da cidade sempre Maravilhosa. Senti o mesmo, um deslumbramento visual, quando adentrei a famosa Livraria Atheneu, no centro de Buenos Aires. Tudo muito grande, escadas levando de um lugar a outro, gente sentada em poltronas e podendo curtir uma boa leitura até sem ter a obrigatoriedade de levar o livro.

É desses espaços que tem de tudo, muita coisa além dos livros. Quem já foi numa das FNACs sabe do que estou escrevendo. Virou um grande supermercado cultural. Não sei bem como conciliar essa grandiosidade com a manutenção das pequenas livrarias, as de um só dono, sem filiais e tentando se manter de portas abertas diante de algo tão grandioso. “Quando vou comprar, as editoras já não me atendem como antes. Não tem interesse em vender picadinho, três livros de um, dois de outro, quando o fazem aos milhares para as grandes redes. Não consigo desconto nenhum e não tenho como competir com nada disso. Me mantenho aberto, pois não sei fazer outra coisa e ficaria muito caro fechar o negócio. Vou tocando”, me confessa um dos livreiros de Araraquara. É isso que sinto num lugar desses, ando livremente, não sou importunado a todo instante por vendedores ao meu redor, mas penso muito na hora de gastar algo num lugar assim (por isso destesto o Wal Mart). Penso, por exemplo na Folha Seca, do já amigo Rodrigo Ferrari, única, pequena, porém vistosa livraria na rua do Ouvidor, pertinho do CCBB, incrustrado no meio de bares e no meio de shows do autêntico samba carioca rolando defronte suas prateleiras. Sei que na Cultura posso encontrar algo mais barato, mas quero que a Folha Seca continue aberta. E daí? Mesmo sendo um duro, acabo gastando um bocadinho mais, mas tento privilegiar as pequenas.
Abri uma exceção dessa vez, pois estava quase no horário de fechar e estava num outro templo, a Livraria da Travessa, com três endereços só no centro do Rio. Fui no seu mais antigo, o junto da Travessa, que hoje mudou de endereço, estando virando a esquina. Como é gosto adentrar ali (a da avenida Rio Branco tem o mesmo sabor), pois viajo naquele ambiente. Saio do prumo, navego, chego a levitar de contentamento. Sei que o Rodrigo vai ficar puto da vida comigo, mas dessa vez não resisti e comprei ali algo que ao pegar nas mãos, delas não mais consegui me separar, um livro sobre uma das pessoas que mais admiro nos dias de hoje, o “Aldir Blanc – Resposta ao Tempo – Vida e Letras”, do Luiz Fernando Vianna, com 650 letras do grande “ourives do palavreado” (como Caymmi o denominou). Por R$ 55 em duas vezes, arrebanhei para meu acervo mais essa. A Livraria Cultura, assim como o Atheneu, mesmo lindas e valorosas que me desculpem, mas sou cria do jeito antigo de viver, queria poder continuar consumindo algo da mercearia da esquina, aquela que também foi detonada com a chegada das grandes redes de mercado. A Cultura do Rio é tudo de bom, revitalizou o pedaço, fez bem para os amantes de leituras, tanto que as fotos desse texto são todas de lá, mas meu coração me arrasta, como uma espécie de imã, para outros cantos. Não deixo de frequentar, mas consumir é diferente. Quando por lá peguei nas mãos, manuseei, acarinhei muito um pacote com tudo do João Antonio (minha atual paixão literária), o “Contos Reunidos”, mas ao ver o preço (R$ 99 reais), conferir o que tinha nos bolsos, fui embora sem olhar para trás. E é claro, sem os livros.
Não sei se deu para entender. Gosto de todas, visualmente as grandonas são lindonas, mas como massacram as pequeninas (coisas do mercado), prefiro continuar ao lado dessas menos privilegiadas. Lindos cantinhos, sobreviventes, quase à beira da extinção. Como seria bom poder reverter isso.

3 comentários:

  1. são estas andanças pelo rio complicadas. já não basta o acervo que compartilhamos? mas, sempre siga em frente meu amor. e, estarei firme ao teu lado. assim vivemos na nossa intimidade. beijos da ana bia

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  2. E a, Henrique! É o Bruno do SLAM, por aqui estamos! :) livrarias é um tema que me interessa. Aliás, interessa aos viciados em livros, né? rs. Sobre as grandes e pequenas livrarias, lembro da primeira vez que entrei naquela livraria do Conjunto Nacional, em SP: eu parecia estar em um mundo paralelo, eu queria morrer e habitar naquele lugar de uma vez por todas! hehehe... brincadeiras à parte, é o sentimento que se tem quando se sai do interior e se observa o quanto a leitura (e, olhe, nem é a LITERATURA, mas a leitura msm) não ganha o mesmo tratamento do da capital. Lá, eles são mais eruditos? Mais numerosos? Triste é ver uma Nobel fechar as portas, a livraria da UNESP fechar as portas, pessoas escrevendo com qualidade não terem mtas chances de publicarem seus textos... bom, pelo menos nisso a livraria cultura é democrática, já achei livros de conhecidos da internet que estão engatinhando na literatura, e que estão compartilhando espaço com autores já consagrados, estejam eles vivo ou mortos. No fim das contas, há que se ressaltar o trabalho guerreiro destes, que continuam empenhando-se na venda de livros nos rincões deste país, que carece muito (e ainda) de leitores. Abraço

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  3. aprendo sempre com os livros que caem na minha mão. Estou lendo.
    Elisa Carulo

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