domingo, 29 de setembro de 2013

FRASES DE UM LIVRO LIDO (72)


“OS VOLUNTÁRIOS DA PÁTRIA”, JÚLIO JOSÉ CHIAVENATO, GLOBAL EDITORA, 1983
Fui um devorador de livros nos anos 80. Entusiasmado pelos novos rumos da História do Brasil, desvendando segredos ocultados pelo regime militar, esse um dos meus temas preferidos na época da leitura desse livro, 1990, a Guerra do Paraguai. Naquelas 250 páginas, não só o escancaramento das mazelas do país ao adentrar uma guerra que nunca foi sua (e sim, de interesses ingleses), mas mostrando claramente que a corrupção foi a norma no nascente Exército brasileiro. Belas comparações podem ser feitas com algumas das guerras propostas nos dias atuais, a da Síria uma delas (Líbia, Iraque...). Uns são instigados a fazer a luta para outros. Algumas das frases selecionadas:
- “Negros escravos e brancos pobres – os mulatos alvos – iam como gado para o Paraguai, núcleo do nosso Exército. Tremiam e fugiam do inimigo sempre que podiam”.
- “Não se deve esquecer que a herança legada pela Guerra do Paraguai agudizou a luta pela libertação dos escravos, plasmou na jovem oficialidade do Exército os ideais reprublicanos, atrelou o Império aos empréstimos e agiotagem da Inglaterra, acentuando sua decadência e antecipando a proclamação da República”.
- “Até a Guerra do Paraguai, entrar para o Exército era uma desonra. (...) Provando-se ser um bom homem, escapava-se do Exército”.
- “a Marinha do Brasil, reformada após a independência, com a exclusão da oficialidade portuguesa, era toda estrangeira”.
- “Os voluntários estavam longe de ser patriotas apresentando-se espontaneamente para defender a pátria”.
- “Qualquer cidadão descuidado poderia ser arrebanhado na rua e à força conduzido a um quartel. (...) Valia tudo para o recrutamento”.
- “Deus é grande mas o mato é maior”. (...) Cair no mato era a solução dos pobres”.
- “A guerra do Paraguai foi, principalmente, uma luta pela sobrevivência, antes de ser a aplicação da arte militar”.
- “...nunca houve tanto roubo de cavalos no mundo, como no Rio Grande do Sul às vésperas do Brasil invadir o Paraguai. (...) Mas ninguém respondeu pelos roubos. E a historiografia oficial cuida de escondê-los. Até com relativo sucesso”.
- “Deserções, fugas e covardias foram o comportamento normal desse exército, até o fim da guerra”.
- “...mantem-se o mito da integridade de velhos chefes, meros caudilhos, e não se atreve a examinar os atos de Osório – herói intocável, mito sempre a mão”.
- “A maioria dos voluntários eram os raquíticos nordestinos, enfrentando um clima duro para eles e uma alimentação inadequada para todos. (...) Caxias encontra um terço do exército doente, incapaz sequer de marchar. (...) O cólera foi trazido do Rio de Janeiro pelos voluntários contaminados. (...) Os paraguaios sofreram o contágio, através dos prisioneiros ou pelo envio deliberado de doentes pelo comando da Tríplice Aliança até seus acampamentos, para levar-lhes a epidemia”.
- “O grande inimigo não era o Paraguai: eram os frutos apodrecendo durante a guerra, da triste herança da tradição militar brasileira. Tradição oriunda de Portugal, marcando um verdadeiro horror aoi serviço das armas”.
- “Sobrava dinheiro para tudo, menos para alimentar e vestir a tropa”.
- “Enquanto o Império importava agulhas e alfinetes, o Paraguai fundia diariamente uma tonelada de ferro. Essa independência econômica tinha que ser destruída. (...) A sua indústria, proporcionalmente à população, era muito superior à do Brasil e Argentina”.
- “...não bastava vencer o Exército paraguaio, era necessário liquidar o seu governo, ou seja, Francisco Solano López”.

- “...a guerra destruiu toda a possibilidade de sobrevivência de um país livre, com a posse da terra mais ou menos comunitária e socializada. (...) É sintomático que o último tiro da guerra do Paraguai seja nas costas do marechal moribundo. (...) O imperialismo inglês, destruindo o Paraguai, mantém o status quo na América meridional, impedindo a ascensão de seu único país livre”.
- “Todo poder no Brasil identifica-se no culto dos mitos históricos, produto das distorções na interpretação da sociedade e enganos dolosos sobre os fatos. (...) Alguns intelectuais dóceis ao Poder, no geral, foram criaturas do próprio Poder. (...) Não existe uma Universidade Popular no Brasil. Existe uma espécie de cumplicidade entre os acadêmicos que elude essa realidade”.

- “Hoje, a permanência do mito não se faz pela falsificação dos fatos históricos, mas pela omissão quanto a eles. (...) Absorvendo os mitos científicos do seu tempo – a ciência cria seus mitos, a serviço dos grupos dominantes”. 

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