AMIGOS DO PEITO (84)

MINHA TIA EDI, AS IRMÃS GÊMEAS NA EXPOSIÇÃO GIGANTO DO SESC BERTIOGA

O Projeto GIGANTO (https://www.facebook.com/projetogiganto) do SESC é o maravilhamento retratando as pessoas que mais precisam ser vistas e expostas em tamanhos agigantados, os nossos idosos. Só tomei conhecimento dele por causa de minha tia, EDI PERAZZI, 76 anos (irmão gêmea de minha falecida mãe), quando me enviou uma foto dela pelo e-mail, uma enorme silhueta, tendo ao fundo outra, essa de duas meninas, as duas irmãs, Eni (minha mãe) e Edi, quando crianças. A junção das duas fotos foi tirada e montada para uma das muitas exposições desse projeto e abrilhanta a entrada principal do SESC Bertioga. Algumas outras pessoas de Bauru tiveram suas fotos expostas lá. Uma turma daqui da cidade foi lá visitar, a maioria lá retratada e voltaram todos pimpões, pois quando achavam que suas fotos seriam meramente reproduzidas em tamanhos para exposição interna no SESC, eis que se deparam com elas ampliadas, gigantes e ocupando espaços nunca dante imaginados. Um deslumbre.

Num dos blogs com texto sobre a criativa obra, propositura da fotógrafa RAQUEL BRUST, algo explicando o que vem a ser essa exposição, circulando por vários SESCs (ainda não aportou por Bauru): “O Projeto Giganto nasceu da vontade de levar a fotografia pra fora das exposições e molduras convencionais e da ideia de usar a cidade como plataforma pra exibir os trabalhos, na mesma lógica do grafite. O resultado: fotografias enormes coladas pelas ruas da cidade”. O negócio está virando febre nas unidades do SESC e os retratados, pessoas simples, com histórias de luta e resistências, os que verdadeiramente merecem terem suas carinhas expostas em tamanho agigantado pelas cidades. Quando minha tia me enviou o e-mail com a foto dela não havia sacado a grandiosidade de tudo. Fui perceber quando foi pessoalmente ao Encontro Ferroviário só para me mostrar a que tinha ela e minha mãe.

Bati os olhos naquilo e disse para mim mesmo: “Isso deve ser bonito demais da conta”. E era. Ou melhor, é, pois continua acontecendo pelo estado afora. Muitas cidades já receberam a exposição. Imagine o caso de um senhor cuja história está ali contada. Ele mora numa região onde a especulação imobiliária avançou e comprou quase todas as casas ao redor da sua. Ele resistiu, ficou meio que só, uma casinha no meio dos prediões. Raquel o descobriu e levou as fotos dele para diante de seu portão, dimensionando o seu problema e de uma certa forma dando visibilidade para uma melhor compreensão de sua vida, dos motivos de não querer sair dali e da insensibilidade dos que querem comprar tudo, para que se aquietem diante desse e de outros casos. Cada foto tem uma história linda, uma vida e um sentimento latente.

Por fim, escrevo de minha tia. Tirei algumas fotos dela ao lado do folder que me levou. Outra amiga sua, Leonilda (foto ao lado), esteve em Bertioga foi fotografada junto do seu próprio painel. Imagine o que isso provoca na cabeça dessas pessoas. Pois bem, minha tia está radiante, clama para que o SESC traga a experiência do GIGANTO para Bauru e eu e uma legião que vai tomar conhecimento disso nesse momento, faremos o mesmo. Tia Edi, ao 76 anos, dirige seu carro pela cidade, viaja para todos os lados (vai e volta de ônibus para Palmas TO, onde mora sua filha, após descobrir ter passagem rodoviária gratuita pela idade), frequenta o SESC regularmente, dança que é uma maravilha e toda vez que a vejo, não existe como, bate uma saudade incomensurável de minha querida e saudosa mãe, que já se foi há dois anos. Na verdade queria escrever dela, minha tia, mas acabei por fazê-lo da exposição e mais, dos nossos velhinhos de uma forma geral. Eu moro com o meu, seu Heleno, meu pai, 85 anos e cheio de lucidez, sem a disposição do passado, mas querendo e disposto a sair sempre, lépido e fagueiro para ver a rua e nela estar. Olhando para a foto de minha mãe criança, lembro também de mim, hoje aos 53, careca e barrigudo, mas em exposição, como deve ser a vida enquanto ela resistir dentro da gente.

Minha tia merece mais do que um abraço por me apresentar a essa exposição e ter resgatado essa foto de duas jovenzinhas, na flor da idade, cheias de sonhos, olhares expressivos de quem esperavam muito da vida que teriam pela frente. Eu tinha que escrever delas e também do SESC. Mais um bocadinho do projeto clicando a seguir: http://projetogiganto.wordpress.com/