ALGO SOBRE OS QUE QUEBRAM REGRAS – CONFINADOS EM PROCEDIMENTOS
Gosto muito mais das pessoas que fogem do trivial, correm até riscos, mas não deixam de atender os justos pedidos. Existem regras bestiais em alguns lugares, limitando tudo e impondo o modo de agir medíocre, tudo certinho, dentro de padrões de pouca serventia. Alguns foram feitos mesmo para serem desrespeitados. Conto algo ocorrido ontem, trivial e simples. As agências dos Correios normalmente atendem até às 17h, mas algumas continuam com o horário estendido para Sedex. Fui numa delas ontem 18h30 e postei dois Sedex e quando ia fazer outro pelo PAC (a encomenda simples do Correios, com entrega mais demorada, em alguns casos de 5 a 7 dias, mais barata), esse não podia ser feito naquele horário. A atendente postou minha encomenda, pois viu que seria totalmente bestial voltar amanhã só para postar isso. Informou que só seria enviado hoje, mas resolveu meu problema. Simples, decisão sensata de quem ouve e entende o outro lado, sem intransigência e intolerância. Facilitou algo que foi criado por algum chefete só para dificultar.
Existem normas hoje em dia feitas para dificultar. A sensibilidade humana de quem atua com algo assim é salutar. Alguns foram feitos somente para cumprir ordens e assim seguir para o resto de suas vidas. Os que as quebram são mais ousados, entendem o outro lado, ouvem mais, sacam que algo ali no que faz está errado e de certa forma reavaliam o procedimento e fazem como deveriam mesmo ser feito. Mais valoroso quando discutem internamente como alterar aquilo em definitivo. Não escrevo aqui sobre o jeitinho brasileiro com propina, esse execrável. Tem aquele propondo fazer algo irregular e recebe por baixo do pano para isso. Isso é uma coisa e o que escrevo é outra, pois não existe relação com dinheiro, só melhorando o atendimento, propondo o algo novo.
Já contei aqui algo que fiz quando na Cultura municipal. O Poupatempo estava sendo reformado e eu era responsável por designar os três carros férreos que seriam restaurados. Fiz isso, mas me pediam se tínhamos a posse definitiva dos carros. Se dissesse que não tinha o projeto de restauro seria inviabilizado e eles continuariam no pátio e em estado de abandono. Disse que tinha e tudo foi feito. Ficaram lindos. Lá na frente, Poupatempo inaugurado vieram pedir os documentos definitivos. Já estávamos correndo atrás disso, mas ainda não o tínhamos. “Mas como você fez uma coisa dessas”, me disseram. Assumi os riscos e se não o fizesse, o galpão do Poupatempo não teria os tais carros férreos impecáveis. Meses depois a posse definitiva saiu e hoje ao passar por lá sei que só estão lá, um bocadinho é por causa de minha irresponsabilidade. Achei que seria o melhor para Bauru tê-los restaurados e imponentes naquele pátio e ciente também de que depois de feito o serviço, tudo seria sacramentado mais rapidamente. A burocracia (na maioria das vezes burrocracia) foi vencida.
Tudo isso para contar um caso que li ontem num belo texto do jornalista Maurício Dias, seção Rosa dos Ventos, Carta Capital edição 778 (a das bancas), com o título “Um retrato de Marina”. Eis o trecho sobre outro que pulou por cima da legislação e produziu um belo gesto humanitário: “Marina em 1992 foi diagnosticada como portadora de mercúrio no sangue, doença rara que a levaria à morte. Esse diagnóstico só foi dado a partir de perícia médica de David Capistrano Filho, que sugeriu exames na raiz do cabelo de Marina. Ela morava em Rio Branco (AC) e era deputada estadual pelo PT. Não podia, portanto, ser tratada da rede pública de Santos (SP), então governada por Telma de Souza. Capistrano era o secretário municipal de Saúde. Veio deste a ordem para o tratamento dela. Apoiou-se no que acreditava, como disse, e botou a legalidade burguesa na lata do lixo. Capristano morreu em 2000, sem ouvir o obrigado de Marina”. Política ou não, sei que no caso dela isso pode ter facilitado, mas pelo que conheço de gente igual a Capistrano (que também atuou aqui na área da Saúde, governo de Tuga Angerami), ele devia quebrar regras uma atrás de outra. Nada é impossível quando se quer fazer. Conheço muitos assim e gosto de enaltecer os que driblam a burocracia.
HENRIQUE
ResponderExcluirEsse seu texto pode ser estendido para outros assunto, todos com correlação. Veja o que está acontecendo hoje nos Postos de Saúde Municipais. Antigamente os que precisavam de medicamentos pegavam tudo nos Postos, localizados nos bairros e mais perto da residência de cada pessoa. Hoje, nem tudo é mais encontrado nos postos e o doente tem que ir até uma Farmácia localizada ali na rua Quinze de Novembro. O lugar é impróprio, numa movimentada esquina e vive cheio de gente, saindo pelos tubos e muitos na calçada, esperando horas e horas. Quer dizer, tudo piorou. Se antes já era difícil, hoje está piorando e me diga, por que isso? Não entendo o pessoal da prefeitura dificultar as coisas, quando facilitar seria o melhor. O que eles estão querendo com isso, caro Henrique?
Sonia Vieira - vila Cardia