A VELHINHA E
SUA PARAFERNÁLIA MUSICAL NAS RUAS DE SAN TELMO
Hoje é um
dia meia boca (ou até boca inteira), pois a grande maioria das pessoas já se
encontra em compasso de espera para o Ano Novo. Véspera de Natal, uma data hoje
marcada pelo consumismo desenfreado, eu mesmo já encerrei minhas atividades profissionais
no ano, devendo recomeçar no início de janeiro. Vendedor tira férias desse
jeito, entre feriados. Vejo muitos trabalhando e ralando muito nesses dias e é
pensando nesses que posto aqui de forma despretensiosa, mas para uma reflexão
sobre o que vemos por aí nas nossas andanças, algo que na maioria das vezes nos
faz parar, fotografar, ter posicionamentos breves, passageiros e depois, na
sequência da vida, tudo continuar da mesma forma que dantes. O que foi visto ali
já foi devidamente esquecido, mas ali na próxima esquina existe algo novo, com
o mesmo significado, propiciando a continuidade do questionamento: Por que
disso? Isso não só nos alegra, pela emoção das imagens que posto, a da sensibilidade de ver uma musical velhinha, mas também muito entristece pelo
seu significado oculto. Escrevo isso pensando numa pessoa, pois nos meus
retornos à Buenos Aires, bato cartão na feira dominical de San Telmo, o
tradicional bairro boêmio da capital portenha e ali uma das mais famosas do
mundo ao ar livre, de artesanato e antiguidades. Num dos seus cantos, a velhinha com mais de 80 anos, que inventou uma parafernália linda, tocando e encantando os
presentes. Bate naquilo tudo com gosto, arranca aplausos e a grana necessária
para continuar tocando sua vida dignamente. Pessoas como ela estão por todos os
cantos, aqui e acolá, cada qual tocante e encantante ao seu modo e jeito. A pergunta que não me sai da cabeça é só uma: Não seria
muito mais interessante vê-la tocar e cantar não movida pela necessidade, mas
pelo amor ao que faz? Ela deve fazer isso pelas duas coisas juntas, mas... Tento
me reprogramar e voltar à Buenos Aires em julho do próximo ano e irei na
expectativa de reencontrá-la e se não o fizer, triste ficarei, mas sei que
outros estarão ocupando seu espaço e ela terá ido. Esse mundo onde vivemos não será nunca um primor no atendimento das reais necessidades do ser humano. Aqui em Bauru outros tantos
fazem o mesmo, como o cego que toca seu instrumento na feira dominical. Até
quando terá forças para lá estar? Que tenham todos bons dias nesses que nos
restam nesse bocadinho de ano.
putz, gostei da cornetinha, na peça que estou dirigindo, toco flauta, prato, caixa e buzina, se eu tivesse uma cornetinha dessas, seria uma pessoa mais feliz...
ResponderExcluirSilvio Selva