quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014
PRECONCEITO AO SAPO BARBUDO (70)
UM BLOCO DO BALACOBACO ESSE “BAURU SEM TOMATÉ É MIXTO”
(Foi-me pedido um breve release para imprensa do que é o tal bloco e diante da rapidez que se fazia necessário, sem consultar ninguém, o que saiu foi isso).
Uma proposta diferente para o Carnaval de Bauru, um bloco carnavalesco que não sai no Sambódromo, não necessita de verba (nem pública, muito menos privada), não cobra nada de seus participantes, não possui abadá, muito menos cercados proibitórios e impeditivos, sai no sábado em pleno meio dia e por fim, reunindo todos os predispostos a populares e além disso, promoverem uma crítica social em cima de temas bem candentes no cenário da cidade Bauru. Trata-se do BAURU SEM TOMATE É MIXTO, com a volta da irreverência, da picardia, do bom humor e da necessária crítica social.
Focado em Bauru e cujo tema de sua marchinha para esse ano é “Bauru – Alegria sem Mixaria!”, numa alusão evidente com algo saído de dentro da Câmara dos Vereadores de Bauru, quando um dentre os três médicos vereadores, lá num certo dia, no auge da crise médica na cidade, do alto da tribuna profere algo assim: “Médico não trabalha por mixaria, quem trabalha por mixaria é médico cubano”. Pronto estava dado o mote para o bloco fazer sua rima principal, a “Bauru, Bauru, Bauru, cidade da alegria/ Bauru, Bauru, Bauru, onde o doutor não ganha mixaria!”. A partir daí, os autores Silvio Selva e Tatiana Calmon versam sobre um amplo universo, desde a enxurrada de títulos de cidadania (a maioria para pastores evangélicos – ainda faltaria um sem o tal título?), os problemas com os médicos que dão cano no atendimento (“estou querendo mesmo logo um doutor cubano”), a contenda na Seplan, o viaduto inacabado, a dívida crescente na COHAB, culminando com o tema da camiseta, “aquela coisa verde imitando Nova Iorque”, a estátua da Liberdade da Havan, cuja polêmica começo aqui e foi parar até no New York Times.
A estampa da camiseta desse ano é obra do artista Fausto Bergocce, seguindo indicação fomentada pelo bloco, passando literalmente o rodo na réplica da estátua da liberdade (essa em letra minúscula) da loja de departamentos Havan e fazendo sua festa no entorno dela deitada. Esse o melhor jeito encontrado pelos integrantes do bloco para continuar se divertindo e em cima de uma esdrúxula situação, a de uma está tua fincada no trevo de maior circulação da cidade, permanecendo ali como se fosse o portal de entrada de Bauru. Não o sendo e de gosto mais do que duvidoso, portanto, merecedora de toda jocosidade de quem ainda possui dentro de si o espírito livre, jovial, desordeiro e, principalmente, carnavalesco. Esse o espírito retratado no desenho, esse o espírito principal dos integrantes do bloco.
Pergunta-se muito sobre a “organização” do bloco e a melhor resposta é a de que ele prima pela desorganização. Quando organização houver, com certeza, ele terá perdido o seu espírito principal. O mesmo pode ser dito sobre seus organizadores. Existe sim um grupo que o fomentou ano passado, quando saiu pela primeira vez, mas afirmar que alguém possui o título de mando do bloco é algo que nenhum desses quer ter isolado sobre si, até porque os credores cairiam em cima dele assim de imediato. No grupo criado, me incluo, Henrique Perazzi de Aquino, assim como Oscar Sobrinho, Tatiana Calmon, Sílvio Selva, Rose Barrenha, Gilberto Truijo, Alberto Pereira, Helena Aquino, Ana Bia Andrade, Kananga do Alemão, Leandro Gonçalez e tantos outros.
Sairemos sempre no sábado de Carnaval, concentração na praça Rui Barbosa e descida pouco depois da doze badaladas da igreja da Matriz, descendo todo o calçadão da rua Batista de Carvalho e terminando seu percurso na praça Machado de Mello. Contamos sempre com a colaboração da CUT –Central única dos Trabalhadores que graciosamente nos empresta sua carriola móvel de som, que o ano todo é utilizada em atividades sindicais e nesse dia, para os festejos junto ao bloco (atividades também reivindicatórias, de cobrança e de contestação). Uma das únicas despesas é com os músicos, sendo que nas duas edições contamos com o Regional do Kananga do Alemão (seis componentes), descendo a pé, tocando instrumentos e cantando junto dos componentes do bloco e dos agregados que vão se juntando no percurso.
Esse ano por iniciativa coletiva foi instituído uma espécie de homenagem anual para alguém que o grupo considere relevante como pessoa humana, não só no ambiente do Carnaval, mas no da cidade num todo e como primeiro homenageado por decisão unânime o escolhido foi o artista plástico e multi polivalente Esso Maciel, com mais de 70 anos de irreverência, picardia e ousadia. Pensamos em dar-lhe como justa homenagem o título simbólico de Madrinha do Bloco, mas ele mesmo, após aceitar a comenda, o fez com uma só ressalva: "Prefiro MadrinhO, no masculino, pois sabidamente homossexual, sou macho". E assim o será.
A festa não seria completa sem a participação popular, aquela que se junta ao grupo ao longo do percurso, juntamente com muitos que aderem e já vem de casa com alguma fantasia previamente preparada. Todos são muito bem vindos. A cobrança da venda de camisetas se faz necessário, sendo essa a única fonte de renda do bloco para poder quitar seus compromissos financeiros com os músicos, os únicos também que estarão trabalhando no evento. Porém, quem estiver sem camiseta é muito bem vindo e poderá participar sem qualquer tipo de constrangimento. A intenção é continuar festando com o Carnaval, a maior festa popular brasileira e junto dela, poder unir a tão necessária crítica em cima dos problemas locais, pois dos nacionais as instâncias de cobrança são outras. Esse texto é mais um chamamento para os que ainda estão indecisos se devem ou não deixar o conforto de suas casas no próximo sábado e aderirem pelo festar na Batista. Espero ter convencido a todos e todas no sentido de que ainda vale muito a pena botar o bloco na rua. Contamos com a presença de todos (as). Quem perder essa é a “mulher do padre”.
HENRIQUE PERAZZI DE AQUINO – pela desorganização do BAURU SEM TOMATE É MIXTO
Henricão, você escolheu fotos e pessoas que personificam o balacobaco de nosso bloco: o sorriso espetacular e de total alegria inocente da Denise Amaral, o nosso onço madrinho, Esso Maciel, a o texto escolhido a dedo pelo coração de nosso Silvio Selva, que de bobo não tem nada...não é fácil ser louco nas horas de enfrentamento do sistema que manda no mundo, onde somos encarados como subversivos, idiotas, personas non gratas e outras coisas muito piores que não quero nem falar. Mas vale á pena! Ah, que delicia que é o que temos e vivemos no carnaval da vida, quando nos abraçamos no calçadão e na avenida e percebemos que no fundo o que SOMOS é o que todo mundo queria e não tem coragem...nós estamos do lado de cá. LOUCOS POR ALEGRIA, POR AMIZADE, POR AMOR, POR SOLIDARIEDADE E POR JUSTIÇA. Tô nessa pra sempre, porque é a herança que quero deixar para filhos, netas e agregados.beijo no coração. Rose.
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