O VALE TUDO DO FACEBOOK – publicado edição de 08/03/2014
Quando dizem que o facebook se transformou numa terra de
ninguém, queria não acreditar. Hoje percebo a degradação e o mau uso desse útil
instrumento de contato. Da febre inicial, a possibilidade das aproximações
todas, acabou se transformando num reduto de recadinhos sem sentido. Pior que
tudo são as mentiras espalhadas, tudo no maior descaramento, como se verdade
fossem e contando com o beneplácito de uma legião de seguidores da mesma linha
de pensamento do mentiroso. Na tentativa de demostrar a farsa, o mínimo que
ocorre é a pessoa ser destratada e desqualificada. Recebo uma foto de uma imensa
fila e lá a legenda: “É uma fila de alimentos na Venezuela, vergonha para o
mundo. Ditadura”. Quando respondo afirmando que a Venezuela pode ter mil
problemas, mas a fila da foto não é de lá e nem o país é uma ditadura, recebo
como resposta uma saraivada de críticas. Na maior delas, alguém sugere: “Os
fins justificam os meios”. Se bem entendi, para fazer valer o que vai pela
cabeça de alguns vale tudo. Num outro postam uma foto da Dilma, tendo ao fundo
a marca da revista veja (minúscula mesmo) e uma mais do que improvável fala da
presidenta entre aspas: “A Zona Franca de Manaus, ela está numa região. Ela é o
centro dela porque ela é a capital da Amazônia”. Claro, reclamei da escancarada
mentira. Outra saraivada de críticas. Numa delas algo assim: “Pelamor, você vem
de novo defender essa ANTA”. Isso mesmo e em maiúscula. Não dá para discutir
com gente assim. A razão e o bom senso passam muito longe desses posts. Num
outro espalham foto da ministra da Cultura Marta Suplicy como destruidora da
família brasileira, propondo projetos e em fase de votação contra a moral e os
bons costumes (sic). Falácia mentirosa de gente inescrupulosa. Eu quero dar
risada disso tudo, mas a coisa é séria, pois o mundo virtual está cheio de
incautos. Um renomado jornalista de Bauru, anos de estrada, tarimbado na
profissão é mais um dos que compartilham a montagem. Não entendo o que querem de
fato. E o abilolado sou eu. Daí, o “terra de ninguém” é pouco.
ÔNIBUS CIRCULAR É COISA PARA POBRE – publicado edição de
15/03/2014.
Eu nunca tive problema nenhum em andar de ônibus
circular, mas parcela significativa dos brasileiros parece ter. Uma pena isso,
demonstração clara de que, como afirmou a atriz Lucélia Santos, “o Brasil é o
único país que conheço em que andar de ônibus é politicamente incorreto”. A
frase foi proferida após ser flagrada por outro usuário, demonstrando
abestalhamento por encontrar uma famosa atriz de TV dentro de um lotado ônibus,
no caótico trânsito carioca. A frase deste foi lapidar: “524 lotado. Me ofereço
para segurar a bolsa da moça. E quando olho é a atriz Lucélia Santos". Daí
por diante, com a foto reproduzida nas ditas redes sociais, começa a ladainha,
reproduzida por um dos jornais, com o título: “Estaria ela em não muito boas
condições financeiras?”. Sim, no Brasil andar de ônibus é coisa para pobre,
isso está implícito e quem o faz fica com a pecha. No Brasil perdura a máxima
de que o sujeito ”por fora bela viola, por dentro pão bolorento”, ou pior que
isso, a de que muitos dirigem belos carrões pelas cidades, exposição necessária
para continuarem passando a ideia de que tudo anda bem, sendo a realidade bem
outra. Comem mal, mal conseguem pagar suas contas, joias no prego, mas nada
pode ser exposto, tudo para não parecer pobre. Seria essa a mentalidade
predominante da classe média brasileira, a que “come frango e arrota peru”? Sim, exatamente essa. Essa mesma classe média
se diz muito preocupada com os rumos da nação e marca uma Marcha com a Família
com Deus e pela Liberdade, aos moldes de ocorrida quando do golpe militar de
64, promovendo caça aos comunistas, mas nenhuma crítica aos que promovem
verdadeira adoração do deus dinheiro, aliás fruto da adoração coletiva desses. Criticam
a corrupção de uns, os adversários e inimigos, mas fazem vista grossa para os
de sua laia, ou melhor, de sua linha de pensamento, a neoliberal predatória. “Terminando: o Brasil deveria ler mais, se instruir
mais, desejar mais e sair da burrice de consumo idiota e descartável que lhe dá
carros!”, conclui Lucélia e dou-lhe toda razão.
CAUSA DO ATÁVICO ATRASO BRASILEIRO – texto de hoje para o BOM DIA BAURU
e algo de dois médicos vereadores de Bauru:
Raphael Martinelli, ferroviário de velha cepa foi homenageado com o
título de Cidadão Bauruense nesse mês de março. Em seu discurso pós-homenagem
algo não mais me sai da cabeça. “O capitalismo brasileiro difere em muito do
europeu. Os capitalistas do velho continente se contentam com 7% de lucro. Os
daqui não, 100% é pouco, querem sempre mais e mais”, disse. É a mais pura
realidade. A casa-grande até hoje conseguiu manter a senzala a uma enorme distância
do reconhecimento, desde o elementar direito ao básico, salário mais justos,
como espaços em suas mídias. Tudo é enormemente dificultado ao trabalhador. Tem
aqueles divulgando com alarde e estardalhaço um painel com os aumentos do
“Impostômetro”, isso em plena avenida Paulista, no coração do capital e da capital
paulistana, mas nada informando sobre a aberração praticada pelos seus, o que
poderia gerar outro painel, mais realista, o do “Sonegômetro”. Sonegam até
nisso, informações honestas. Os ricos sonegam demais nesse país, reclamam muito, choram copiosamente,
tudo para continuarem ocultando o serviço sujo feito pelos seus. Não é por
acaso que ostentamos o desonroso título de quarto país mais desigual do
planeta. Isso não se deve a nenhuma ação governamental e sim, a ação dos ditos
empresários, agro negocistas, os ditos empreendedores da nação. Esse querer
ganhar sempre mais, a qualquer custo possui um custo e um alto preço. Para uns
continuarem ganhando tanto, lucros estratosféricos, a massa vai continuar
perdendo e muito. Essa a lógica capitalista. O intrépido observador Martinelli sacou tudo numa curta frase. Não
precisou viajar mundo afora para entender que, as contas não batem nesse
negócio de uns poucos lucrarem muito e os que pegam no pesado cada vez menos.
Esse sim um bom velhinho. E que nome poderia ser dado a essa incontida fome por
percentuais de lucro cada vez maiores, descontrolando toda uma balança
financeira? No papel de mentir, omitir e inventar, o atraso brasileiro avulta e
dói. É o espírito da casa grande ainda predominante, absoluto sobre a senzala.
OS MÉDICOS VEREADORES BAURUENSES E OS CUBANOS: Juntando esse tema com outro, impossível não fazer comparações com o
entendimento do capitalismo de alguns. Martinelli quando fez seu discurso, quem
presidia a sessão na Câmara dos Vereadores de Bauru era o médico Raul Gonçalves
de Paula. Ouviu tudo e disse ao final ter tido uma aula. Não parece ter
assimilado muito bem o que ouviu, pois dois dias depois sobre a chegada dos
cinco médicos cubanos a Bauru, eis a Nota no Entrelinhas do JC: “Provocação - Médico
e vereador Raul Gonçalves Paula (PV) desejou boas vindas aos 5 médicos cubanos
que chegaram a Bauru na semana passada e sugeriu, na última sessão legislativa,
que a Secretaria de Saúde ofereça a eles capacitação para que possam atender na
rede de urgência e emergência, pois o “Mais Médicos” é voltado para a atenção
básica. “Os plantões são nosso grande gargalo. Faltam profissionais. Adoraria
pagar um plantão extra para eles e acho que iriam adorar nosso sistema
capitalista”, cutucou.”. Disse isso e minha resposta se pudesse fazer a mesma
chegar a ele seria essa: Caro Raul, se os médicos cubanos se integrarem ao modo
desumanizado do atendimento quase padrão dos médicos brasileiros e adorarem o
sistema capitalista excludente privilegiado por esses, tenho certeza,
necessitariam serem todos devolvidos imediatamente para Cuba. Mas, na verdade,
o que assusta é que vieram para dar uma lição de humanização, tão em falta na
maioria das categorias profissionais saídas dos bancos universitários nos dias
de hoje.
Ainda os médicos de nossa Câmara. Telma Gobbi foi até presidente
da UNIMED local e hoje tem até programa na rádio local, utilidades e
futilidades diárias. Sobre os médicos cubanos disse no ar na última sexta,
21/03: “Só não entendo como esses podendo receber R$ 10 mil, ficam com somente
R$ 2 mil e o resto vai para Cuba”. Minha resposta: Sim, doutora, acredito ser
mesmo difícil entender isso dentro da lógica capitalista predatória que nos
permeia (veja os tais 7% da fala do Martinelli). Para todos os vivendo sob o
jugo do deus dinheiro, um acima de tudo e de todos, inclusive valendo sempre
mais que o semelhante é impossível entender alguém acreditar que seu país
precisa continuar sendo o que é e para isso, dar o seu quinhão de participação
para que a educação, cultura, lazer, transporte, saúde e tudo o mais possa ser
dado gratuitamente para o seu povo. Eles são humanitários, sensíveis e vieram
mostrar um bocadinho de como deve ser o trato entre humanos, sem botar esse
negócio de dinheiro no meio. Faltam aos cursos de medicina brasileiros mais
HUMANAS, hoje dominados somente por EXATAS. O capitalista brasileiro, nele
inserido os ligados à área médica precisariam ouvir Martinelli quando disse que
na Europa o capitalista se contenta com 7 a 10% de lucro e os daqui nem com 100%
de lucro se satisfazem. Os cubanos nos farão um bem danado, pois deixarão esse
nervo mais do que exposto.
Sobre meu paí.
ResponderExcluirObrigado Henrique Perazzi de Aquino!
Rosa Maria Martinelli
Bela análise sobre o Martinelli e nossos médicos vereadores, Henrique, foi bem isto mesmo , que ocorrera, eu também pude presenciar tudo e em detalhes.
ResponderExcluirValdir Ferreira de Souza