sábado, 22 de março de 2014

MEUS TEXTOS NO BOM DIA BAURU (268, 269 e 270) e DIÁRIO DE CUBA (68)


O VALE TUDO DO FACEBOOKpublicado edição de 08/03/2014
Quando dizem que o facebook se transformou numa terra de ninguém, queria não acreditar. Hoje percebo a degradação e o mau uso desse útil instrumento de contato. Da febre inicial, a possibilidade das aproximações todas, acabou se transformando num reduto de recadinhos sem sentido. Pior que tudo são as mentiras espalhadas, tudo no maior descaramento, como se verdade fossem e contando com o beneplácito de uma legião de seguidores da mesma linha de pensamento do mentiroso. Na tentativa de demostrar a farsa, o mínimo que ocorre é a pessoa ser destratada e desqualificada. Recebo uma foto de uma imensa fila e lá a legenda: “É uma fila de alimentos na Venezuela, vergonha para o mundo. Ditadura”. Quando respondo afirmando que a Venezuela pode ter mil problemas, mas a fila da foto não é de lá e nem o país é uma ditadura, recebo como resposta uma saraivada de críticas. Na maior delas, alguém sugere: “Os fins justificam os meios”. Se bem entendi, para fazer valer o que vai pela cabeça de alguns vale tudo. Num outro postam uma foto da Dilma, tendo ao fundo a marca da revista veja (minúscula mesmo) e uma mais do que improvável fala da presidenta entre aspas: “A Zona Franca de Manaus, ela está numa região. Ela é o centro dela porque ela é a capital da Amazônia”. Claro, reclamei da escancarada mentira. Outra saraivada de críticas. Numa delas algo assim: “Pelamor, você vem de novo defender essa ANTA”. Isso mesmo e em maiúscula. Não dá para discutir com gente assim. A razão e o bom senso passam muito longe desses posts. Num outro espalham foto da ministra da Cultura Marta Suplicy como destruidora da família brasileira, propondo projetos e em fase de votação contra a moral e os bons costumes (sic). Falácia mentirosa de gente inescrupulosa. Eu quero dar risada disso tudo, mas a coisa é séria, pois o mundo virtual está cheio de incautos. Um renomado jornalista de Bauru, anos de estrada, tarimbado na profissão é mais um dos que compartilham a montagem. Não entendo o que querem de fato. E o abilolado sou eu. Daí, o “terra de ninguém” é pouco.

ÔNIBUS CIRCULAR É COISA PARA POBRE publicado edição de 15/03/2014.
Eu nunca tive problema nenhum em andar de ônibus circular, mas parcela significativa dos brasileiros parece ter. Uma pena isso, demonstração clara de que, como afirmou a atriz Lucélia Santos, “o Brasil é o único país que conheço em que andar de ônibus é politicamente incorreto”. A frase foi proferida após ser flagrada por outro usuário, demonstrando abestalhamento por encontrar uma famosa atriz de TV dentro de um lotado ônibus, no caótico trânsito carioca. A frase deste foi lapidar: “524 lotado. Me ofereço para segurar a bolsa da moça. E quando olho é a atriz Lucélia Santos". Daí por diante, com a foto reproduzida nas ditas redes sociais, começa a ladainha, reproduzida por um dos jornais, com o título: “Estaria ela em não muito boas condições financeiras?”. Sim, no Brasil andar de ônibus é coisa para pobre, isso está implícito e quem o faz fica com a pecha. No Brasil perdura a máxima de que o sujeito ”por fora bela viola, por dentro pão bolorento”, ou pior que isso, a de que muitos dirigem belos carrões pelas cidades, exposição necessária para continuarem passando a ideia de que tudo anda bem, sendo a realidade bem outra. Comem mal, mal conseguem pagar suas contas, joias no prego, mas nada pode ser exposto, tudo para não parecer pobre. Seria essa a mentalidade predominante da classe média brasileira, a que “come frango e arrota peru”?  Sim, exatamente essa. Essa mesma classe média se diz muito preocupada com os rumos da nação e marca uma Marcha com a Família com Deus e pela Liberdade, aos moldes de ocorrida quando do golpe militar de 64, promovendo caça aos comunistas, mas nenhuma crítica aos que promovem verdadeira adoração do deus dinheiro, aliás fruto da adoração coletiva desses. Criticam a corrupção de uns, os adversários e inimigos, mas fazem vista grossa para os de sua laia, ou melhor, de sua linha de pensamento, a neoliberal predatória. “Terminando: o Brasil deveria ler mais, se instruir mais, desejar mais e sair da burrice de consumo idiota e descartável que lhe dá carros!”, conclui Lucélia e dou-lhe toda razão.

CAUSA DO ATÁVICO ATRASO BRASILEIROtexto de hoje para o BOM DIA BAURU e algo de dois médicos vereadores de Bauru:
Raphael Martinelli, ferroviário de velha cepa foi homenageado com o título de Cidadão Bauruense nesse mês de março. Em seu discurso pós-homenagem algo não mais me sai da cabeça. “O capitalismo brasileiro difere em muito do europeu. Os capitalistas do velho continente se contentam com 7% de lucro. Os daqui não, 100% é pouco, querem sempre mais e mais”, disse. É a mais pura realidade. A casa-grande até hoje conseguiu manter a senzala a uma enorme distância do reconhecimento, desde o elementar direito ao básico, salário mais justos, como espaços em suas mídias. Tudo é enormemente dificultado ao trabalhador. Tem aqueles divulgando com alarde e estardalhaço um painel com os aumentos do “Impostômetro”, isso em plena avenida Paulista, no coração do capital e da capital paulistana, mas nada informando sobre a aberração praticada pelos seus, o que poderia gerar outro painel, mais realista, o do “Sonegômetro”. Sonegam até nisso, informações honestas. Os ricos sonegam demais nesse país, reclamam muito, choram copiosamente, tudo para continuarem ocultando o serviço sujo feito pelos seus. Não é por acaso que ostentamos o desonroso título de quarto país mais desigual do planeta. Isso não se deve a nenhuma ação governamental e sim, a ação dos ditos empresários, agro negocistas, os ditos empreendedores da nação. Esse querer ganhar sempre mais, a qualquer custo possui um custo e um alto preço. Para uns continuarem ganhando tanto, lucros estratosféricos, a massa vai continuar perdendo e muito. Essa a lógica capitalista. O intrépido observador Martinelli sacou tudo numa curta frase. Não precisou viajar mundo afora para entender que, as contas não batem nesse negócio de uns poucos lucrarem muito e os que pegam no pesado cada vez menos. Esse sim um bom velhinho. E que nome poderia ser dado a essa incontida fome por percentuais de lucro cada vez maiores, descontrolando toda uma balança financeira? No papel de mentir, omitir e inventar, o atraso brasileiro avulta e dói. É o espírito da casa grande ainda predominante, absoluto sobre a senzala.

OS MÉDICOS VEREADORES BAURUENSES E OS CUBANOS: Juntando esse tema com outro, impossível não fazer comparações com o entendimento do capitalismo de alguns. Martinelli quando fez seu discurso, quem presidia a sessão na Câmara dos Vereadores de Bauru era o médico Raul Gonçalves de Paula. Ouviu tudo e disse ao final ter tido uma aula. Não parece ter assimilado muito bem o que ouviu, pois dois dias depois sobre a chegada dos cinco médicos cubanos a Bauru, eis a Nota no Entrelinhas do JC: “Provocação - Médico e vereador Raul Gonçalves Paula (PV) desejou boas vindas aos 5 médicos cubanos que chegaram a Bauru na semana passada e sugeriu, na última sessão legislativa, que a Secretaria de Saúde ofereça a eles capacitação para que possam atender na rede de urgência e emergência, pois o “Mais Médicos” é voltado para a atenção básica. “Os plantões são nosso grande gargalo. Faltam profissionais. Adoraria pagar um plantão extra para eles e acho que iriam adorar nosso sistema capitalista”, cutucou.”. Disse isso e minha resposta se pudesse fazer a mesma chegar a ele seria essa: Caro Raul, se os médicos cubanos se integrarem ao modo desumanizado do atendimento quase padrão dos médicos brasileiros e adorarem o sistema capitalista excludente privilegiado por esses, tenho certeza, necessitariam serem todos devolvidos imediatamente para Cuba. Mas, na verdade, o que assusta é que vieram para dar uma lição de humanização, tão em falta na maioria das categorias profissionais saídas dos bancos universitários nos dias de hoje.

Ainda os médicos de nossa Câmara. Telma Gobbi foi até presidente da UNIMED local e hoje tem até programa na rádio local, utilidades e futilidades diárias. Sobre os médicos cubanos disse no ar na última sexta, 21/03: “Só não entendo como esses podendo receber R$ 10 mil, ficam com somente R$ 2 mil e o resto vai para Cuba”. Minha resposta: Sim, doutora, acredito ser mesmo difícil entender isso dentro da lógica capitalista predatória que nos permeia (veja os tais 7% da fala do Martinelli). Para todos os vivendo sob o jugo do deus dinheiro, um acima de tudo e de todos, inclusive valendo sempre mais que o semelhante é impossível entender alguém acreditar que seu país precisa continuar sendo o que é e para isso, dar o seu quinhão de participação para que a educação, cultura, lazer, transporte, saúde e tudo o mais possa ser dado gratuitamente para o seu povo. Eles são humanitários, sensíveis e vieram mostrar um bocadinho de como deve ser o trato entre humanos, sem botar esse negócio de dinheiro no meio. Faltam aos cursos de medicina brasileiros mais HUMANAS, hoje dominados somente por EXATAS. O capitalista brasileiro, nele inserido os ligados à área médica precisariam ouvir Martinelli quando disse que na Europa o capitalista se contenta com 7 a 10% de lucro e os daqui nem com 100% de lucro se satisfazem. Os cubanos nos farão um bem danado, pois deixarão esse nervo mais do que exposto.

2 comentários:

  1. Sobre meu paí.
    Obrigado Henrique Perazzi de Aquino!

    Rosa Maria Martinelli

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  2. Bela análise sobre o Martinelli e nossos médicos vereadores, Henrique, foi bem isto mesmo , que ocorrera, eu também pude presenciar tudo e em detalhes.
    Valdir Ferreira de Souza

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