A MORTE E OS SEUS SIGNIFICADOS – FRASES DO LIVRO “O MÉDICO” Tristeza imensa é o que sinto hoje. Acabo de voltar do enterro da esposa do amigo Gilberto Truijo, a enfermeira JUVELINA TRUIJO, pouco mais da idade que tenho. Cada povo tem um entendimento da morte. Têm aqueles que fazem festa no evento, outros comem em regozijo, outros entristecem até não mais poder, alguns tentam ser indiferentes e tem os que ficam de luto por períodos alongados. Causa sempre um sentimento muito estranho dentro da gente essa interrupção abrupta da vida, em alguns que ontem estavam todos pimpões por aí e hoje não mais. Tenho a maior dificuldade em saber o que falar para os que estão nessa situação de perda. Fico meio perdido nesses lugares e quando me coloco no lugar de quem está sofrendo a perda, uma dor me dilacera por dentro. Ontem ao abrir meus recados, Truijos postou: “MUITO TRISTE, CHEGUEI AGORA DE UMA VIAGEM QUE PODERIA TER SIDO FELIZ. NA SEXTA SOFREMOS UM ACIDENTE NO TREVO DE BERNARDINO DE CAMPO. SOFREMOS MTO COM O IMPACTO, MINHA ESPOSA ESTA INTERNADA EM OURINHOS, TENDO SIDO SUBMETIDA A UMA CIRURGIA. AMIGOS REZEM OU OREM POR ELA. ABRAÇOS E ESTAMOS AI”. E logo depois do almoço, quando volto da rua a mais triste possível notícia, transmitida por ele de forma breve e lacônica: “AMIGOS MINHA ESPOSA MORREU. NESSE MOMENTO”. Que fazer diante disso?
JUVELINA TRUIJO é uma baita de uma mulher de fibra, coragem, desprendimento e arrojo. Vindo de uma família muito humilde, conseguiu concluir dois cursos universitários à duras penas, primeiro o de Direito e depois o de Enfermagem, onde atuava nos últimos tempos. Essa mulher fazia e acontecia na profissão, em várias frentes ao mesmo tempo e noutra, o comando do lar junto do também advogado Gilberto Truijo, seu esposo e dos filhos. Moravam ali na virada da Maria José, esquina com a aviador Gomes Ribeiro, boca de entrada da Nações. Formavam uns casais sui generis, sempre alegres, pimpões a todo instante um com o outro, completando-se em todo e qualquer gesto. Fibra não lhe faltou para educar seus filhos e agora netos, junto do Truijo, primeiro lá no Gasparini, numa época em que todos eram pequenos e travessos. Pessoa dessas elétricas, incessantes atividades, acolhedora e iluminada, pois mesmo com os atropelos todo de uma vida cheia de tarefas, não reclamava de nada e o sorriso no rosto sempre foi o seu cartão de visitas. Ela se foi hoje após um brutal acidente de carro. Mais condoído e a admirando ficamos quando sabemos que, quando do acidente fez questão de proteger a neta e conseguiu seu intento, pois essa saiu quase ilesa do choque. Truijo precisará muito de todos nós, seus parentes e amigos.
Justo nesses dias me caiu nas mãos um livrinho do RUBEM ALVES, “O Médico” (Editora Papirus, 2010, 96 páginas). Li quase de uma só sentada. Como gosto muito de fazer grifei o livro inteiro com uma caneta marca texto e aqui algumas frases escolhidas a dedo e bem propícias para a ocasião:
- “A morte dos velhos, por mais dolorosa que seja, é parte da ordem natural das coisas: depois do crepúsculo segue-se a noite. A morte dos velhos é triste mas não é trágica. É como o acordo final de uma sonata. O fim é o que deveria ser. Mas a morte de um filho é uma mutilação”.
- “A dor é o que existe de mais terrível na condição humana. Muito cedo nós a experimentamos. (...) Todo pai gostaria que os deuses fossem caridosos e transferissem para ele a dor do filho. Doeria menos sentir a dor do filho que vê-lo sentindo dor sem nada poder fazer. (...) Não existe nada mais maravilhoso que não sentir dor”.
- “Tudo o que é belo precisa terminar. (...) A saudade só floresce na ausência. (...) Não, eu não acredito que a vida biológica deva ser preservada a qualquer preço. (...) A morte é o último acorde que diz: está completo. Tudo o que se completa deseja morrer”.
- “Vida e morte não são inimigas. São irmãs. Chegada e despedida. (...) Tolice imaginar que o tempo passou. Que nada. É um novo tempo que vem. (...) Acho que, para recuperar um pouco da sabedoria de viver, seria preciso que nos tornássemos discípulos e não inimigos da Morte. (...) Seria preciso que voltássemos a ler os poetas”.
- “Sim, eu quero viver muitos anos mais. Mas não a qualquer preço. Quero viver enquanto estiver acesa, em mim, a capacidade de me comover diante da beleza. A comoção diante da beleza tem o nome de alegria. (...) Um dos grandes sofrimentos dos que estão morrendo é perceber que não há ninguém que os acompanhe até a beira do abismo”.
- “A felicidade é assim, não é coisa grande que vem para ficar. Sabe disso Guimarães Rosa, que dizia que ela só acontece em raros momentos de distração”.
As frases não explicam muita coisa, mas servem para alguma reflexão. Amanhã tento voltar à normalidade. Hoje impossível não estar macambúzio. Gilberto Truijo é uma das pessoas por quem tenho um imenso carinho e sei de sua dor nesse momento. Reproduzo aqui algumas fotos deles, Gilberto e Juvelina numa das festas do bloco carnavalesco, o Bauru Sem Tomate é MiXto, janeiro de 2014, a única que ela pode comparecer, pois nas demais estava sempre trabalhando. Cliquei eles de vários jeitos e maneiras.
Queridos amigos:
ResponderExcluirNosso amado Rubem Alves está internado, com infecção pulmonar...
Acreditamos na força do amor, da beleza, das orações e boas vibrações... Vamos emanar nossas melhores energias e pensamentos para ele!
Vamos dedicar as boas músicas, os belos pôr de sol, os sorrisos das crianças, as poesias e as belezas simples da nossa vida que ele tanto ama como fonte de vitalidade!
Em breve, informaremos vocês sobre a saúde do nosso homem que ama os Ipês amarelos... Força Rubem!
Recebi esse texto e deixo aqui postado
Liliana Martins
Ju vai fazer falta ... uma fortaleza que se foi .... vamos ter que cuidar do Truijo ..... tristeza
ResponderExcluirHelena Aquino