quarta-feira, 12 de novembro de 2014
COMENTÁRIO QUALQUER (133)
VOVÔ DO PÓ ESCAPA SALTITANTE DAS MURALHAS DE ALCATRAZ E USANDO CHINELO DE DEDO Quem fazia isso de pegar uma notícia de jornal, principalmente retirada das páginas policiais e transformá-la magistralmente numa crônica era o médico e escritor gaúcho MOACYR SCLIAR (Max e os Felinos, O Exército de um Homem Só e O Centauro no Jardim – faleceu em 2011). Li algumas delas e adorava, ainda dos tempos quando conseguia comprar e ler a hoje indefectível Folha de SP. Feita essa abertura, escrevo a seguir sobre algo irresistível, arrebatador e encontrado nas páginas do Jornal da Cidade de ontem, segunda, 11/11/2014. Na sua 1ª página uma das manchetes descrevia: “Vovô do tráfico é recapturado – Horas após fugir do CDP-3, José Roberto Filho, 69 anos, foi preso pela Rocam” (http://www.jcnet.com.br/…/…/vovo-do-trafico-e-capturado.html). Ao lado a foto do singelo cidadão, simpático senhor de camiseta regata, barba por fazer, óculos fundo de garrafa e um olhar aparentemente dos mais inofensivos desse mundo (por que todo senhor nessa idade passa isso, hem?). Não seria ele inofensivo? Confesso, fiquei com uma danada de uma vontade de bater um longo papo com seu Zé Roberto. Será que me deixariam?
Ouvi a notícia sendo martelada em todas as rádios, tudo por causa de sua idade e sendo transmitida com muita ironia (e também picardia). Fui ler a matéria da jornalista Ana Borges e mais sensibilizado fiquei. Outra Ana, minha companheira me vendo envolvido com essas questões lembra da história da “vovó do pó”, uma famosa traficante lá de sua terra natal, o Rio de Janeiro. “Aquela vovó não era mole não, tinha até AR-15 na sua proteção, sei que atuava lá pelas bandas do Complexo do Alemão”, me diz. Li a curta matéria sentado no bar do Ico, no verdadeiro aeroporto de Bauru e com um maravilhoso vento nas canelas (ontem estava assim). 69 anos, escapuliu do CDP arrebentando uma tornozeleira, a volta imediata para seus afazeres no tráfico, uma denúncia anônima, ele tentando engambelar os homens da lei, a prisão, o reconhecimento, a droga escondida dentro da geladeira, outro tanto plantada no quintal, papelotes já engatilhados para revenda e a hombridade de assumir tudo só para ele. Livrou totalmente a cara da esposa, uma distinta senhora de 29 anos, informa o jornal.
Esse senhor (não consigo chamar de velhinho, pois não o é na acepção da palavra) é mesmo da pá virada. Beirando os 70 arrumou logo uma companheira beirando os 30. Seu feito é cinematográfico, fugindo do CDP, aquela muralha intransponível ali perto do IPA. Quantos jovens robustos e sarados ali detidos já não tentaram e nada conseguiram. Não me recordo de nenhum outro que tenha conseguido assim tão fácil. Ele sim. Histórico feito. Mas como teria sido? Livrou-se de brutamontes armados e foi se esconder no mato? Pode parecer cruel, mas não deixa de ser admirável um senhor de 69 anos escapulir nas barbas de bem treinados vigilantes e armados até os dentes. Já imagino o roteiro e a manchete nos cinemas: “Ancião foge da Alcatraz tupiniquim, de muletas e de chinelos de dedo”. Bauru vai ter que suportar e superar mais essa. As conseqüências para seu Zé não foram nada alvissareiras. Perdeu o direito da prisão semi-aberta e vai cumprir sua pena no regime fechado. Não sou daqueles que vêem tudo de ruim na prática do seu Zé, afinal vivemos tempos onde até os comandantes da PM viajam para o exterior com passagem paga por empresa que acabou de ganhar licitação na corporação. Aguardo mesmo e com muita ansiedade a sua próxima fuga, afinal esse vovô é mesmo chave de cadeia. Anedotário popular é pouco para isso tudo.
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