TRÊS CURTOS TEXTOS SOBRE O QUE ROLA PRA FORA DE MINHA JANELA
ROLO 1 – Na praça Rui Barbosa ontem, dia 20/11, uma palestra sobre a data comemorada, o Dia da Consciência Negra e lá, cadeiras espalhadas, populares se achegando e Alberto Pereira, um intrépido capoeirista, todo pimpão pelo fato de que sua capoeira está prestes a se transformar em Patrimônio Imaterial da Humanidade. Estava lá, paramentado com o traje característico dos capoeiristas e falando em alto e bom som contra esses preconceitos e preconceituosos que insistem em nos seguir por onde caminhemos. A intolerância aumentou demasiadamente nesses últimos dias e ele sente isso, pois sabe que não é somente o negro a sofrer perseguições, mas hoje em dia, a capoeira, a umbanda, o pobre mais do que nunca, o desvalido, o lutador social, os movimentos sociais num todo, os que pregam contra essa bestialidade que é o neoliberalismo, todos são perseguidos e olhados assim de soslaio. E Alberto falou gostoso de se ouvir, falou de uma forma como todos deveriam falar, com coragem, sem medo de ser feliz, de expor suas idéias, de demonstrar o que é e a que veio. Gosto demais da conta das pessoas corajosas, das pessoas que não perdem a oportunidade para botar o bloco na rua, para fazer de um limão uma baita de uma limonada. Muitos outros fizeram uso do microfone na manhã de ontem, mas escrevendo dele eu, de uma certa forma, estou falando de todos os corajosos que, mesmo na adversidade, não perderam a esperança de gritar bem alto e para quem quiser ouvir: “Um outro mundo é ainda possível e é por ele que luto, milito e acredito”.
ROLO 2 – Ainda de ontem, na parte da tarde, a grandiosidade dessas comemorações todas é uma demonstração bem simples, mas bem significativa. Uma família de um distrito de Bauru, distante 10 km da cidade, Tibiriçá, os BATÉ, ano após anos e isso desde os primórdios de Bauru promovem um almoço coletivo no dia da dita libertação dos escravos. E a forma encontrada por eles para demonstrar que hoje estão vivendo num outro mundo, diferente dos seus antepassados. Juntam forças, reúnem economias, vão atrás de doações e chamam tudo e todos para o compartilhamento dessa alegria. Anos atrás, dando prosseguimento a essa saga familiar, DULCE BATÉ é quem continua essa saga, mas em doutra data, agora em 20/11, o Dia do Zumbi dos Palmares. Além do almoço, mais um gasto, feito com um amor só deles, uma MEDALHA para mais de vinte pessoas, as que eles consideram mais representativas e contribuíram para diminuir as desigualdades entre as raças. Tive o prazer de receber uma esse ano e não a tiro mais do pescoço por alguns dias e sabem por que faço isso? Simples, quem me deu a dica foi Roque Ferreira, o vereador petista de Bauru: “Henrique, essas homenagens valem mais do que aquelas cheias de pompa, pois essas pela simplicidade, pela forma como ocorrem, tem maior significado, sinceridade”. É isso mesmo, a Medalha Zumbi dos Palmares é um troféu de inigualável na minha modesta galeria. Vindo de onde veio e dada a mim pela própria Dulce, me enche de um baita de um orgulho. Algo me diz que não estou tão errado nas coisas que ando fazendo na vida.
ROLO 3 – Publiquei cinco perfis do Lado B de Bauru nessa semana, de segunda a sexta, e num deles, justamente o escrito hoje, o que mais me emocionou, por tratar-se de alguém tentando com unhas e dentes reverter a situação onde se encontra. Abaixo esse texto:
BRAZ ENTENDE MUITO DE LITERATURA E SONHA EM TER SEU LIVRO PUBLICADO
Quem circula pelo centro bauruense acaba conhecendo tudo e a todos, e também por todos sendo reconhecido. Dentre todas as pessoas que vou papeando ao longo dos anos, algumas me são mais marcantes, me tocam mais profundamente, suas histórias sensibilizam mais que outras e a forma como são vistas e as narram emocionam. Esse personagem cujo perfil tento descrever hoje eu conheço desses papos nas ruas centrais acredito, desde bem uns dez anos. Ele me toca profundamente pelo conhecimento literário, pela conversa sobre clássicos da literatura e um sonho acalentado desde sempre, a publicação de um livro.
BRAZ BAPTISTA LIMA é uma pessoa que, para muitos pode passar despercebida. Não para mim. Sempre com uma pasta debaixo do braço, morando aqui e ali, diz ter nascido aqui mesmo, mas muito cedo ter ido residir na capital (“faltavam oportunidades”, diz). Em 2006, afirma ter voltado para ficar e desde então, versa sobre um livro, já escrito, tudo alinhavado, segundo ele, somente faltando conseguir quem o imprima. E fala fluentemente disso, das pesquisas feitas, de nomes levantados no trabalho de amparo para sua obra. Uma pessoa simples, sempre em trajes bem modestos, fazendo questão de nas conversas, sem nenhum tipo de pedantismo, mas por possuir mesmo conhecimento, faz belas citações de obras e obras já lidas e estudadas. Sempre cita muito algo da USP – Universidade de São Paulo, a qual freqüentou no seu passado paulistano e hoje, sempre bem informado, pela leitura dos jornais diários nos bares centrais, um devorador de cultura. Braz fala tanto desse seu livro, do sonho de ver aquilo se concretizando, que não tem como a cada reencontro, uma nova parada e um papo comprido ir rolando e rolando. Desse último encontro, confessa a idade, 66 anos, não quer entrar em detalhes de onde mora, nem como sobrevive, mas sei ser uma das mais dignas pessoas dentre todas que cruzo no centro da cidade, principalmente o trecho da Rua 1º de Agosto, da praça Rui Barbosa até a Gerson França, seu reduto. Um que não me furto em parar, ouvir, conversar e se possível, tomar um café juntos. Braz me inspira isso que também possuo, essa vontade de fazer tanta coisa e poder concretizar tão pouco.
BRAZ ENTENDE MUITO DE LITERATURA E SONHA EM TER SEU LIVRO PUBLICADO
Quem circula pelo centro bauruense acaba conhecendo tudo e a todos, e também por todos sendo reconhecido. Dentre todas as pessoas que vou papeando ao longo dos anos, algumas me são mais marcantes, me tocam mais profundamente, suas histórias sensibilizam mais que outras e a forma como são vistas e as narram emocionam. Esse personagem cujo perfil tento descrever hoje eu conheço desses papos nas ruas centrais acredito, desde bem uns dez anos. Ele me toca profundamente pelo conhecimento literário, pela conversa sobre clássicos da literatura e um sonho acalentado desde sempre, a publicação de um livro.
BRAZ BAPTISTA LIMA é uma pessoa que, para muitos pode passar despercebida. Não para mim. Sempre com uma pasta debaixo do braço, morando aqui e ali, diz ter nascido aqui mesmo, mas muito cedo ter ido residir na capital (“faltavam oportunidades”, diz). Em 2006, afirma ter voltado para ficar e desde então, versa sobre um livro, já escrito, tudo alinhavado, segundo ele, somente faltando conseguir quem o imprima. E fala fluentemente disso, das pesquisas feitas, de nomes levantados no trabalho de amparo para sua obra. Uma pessoa simples, sempre em trajes bem modestos, fazendo questão de nas conversas, sem nenhum tipo de pedantismo, mas por possuir mesmo conhecimento, faz belas citações de obras e obras já lidas e estudadas. Sempre cita muito algo da USP – Universidade de São Paulo, a qual freqüentou no seu passado paulistano e hoje, sempre bem informado, pela leitura dos jornais diários nos bares centrais, um devorador de cultura. Braz fala tanto desse seu livro, do sonho de ver aquilo se concretizando, que não tem como a cada reencontro, uma nova parada e um papo comprido ir rolando e rolando. Desse último encontro, confessa a idade, 66 anos, não quer entrar em detalhes de onde mora, nem como sobrevive, mas sei ser uma das mais dignas pessoas dentre todas que cruzo no centro da cidade, principalmente o trecho da Rua 1º de Agosto, da praça Rui Barbosa até a Gerson França, seu reduto. Um que não me furto em parar, ouvir, conversar e se possível, tomar um café juntos. Braz me inspira isso que também possuo, essa vontade de fazer tanta coisa e poder concretizar tão pouco.
Compartilho, amigo Henrique, a emoção e os sentimentos expressos nos textos sobre as duas manifestações de que participou ontem, Dia da Consciência Negra, em Bauru. Uma Medalha Zumbi dos Palmares, vinda das mãos de uma parte da população que, embora majoritária, ainda é discriminada, inclusive salarialmente, em nosso país, é um autêntico troféu. Abração
ResponderExcluirArthur José Poerner - Rio RJ