terça-feira, 21 de abril de 2015
AMIGOS DO PEITO (104)
NO FERIADO DE TIRADENTES, UMA “ODE PARA MEUS PROFESSORES (AS) DE HISTÓRIA”* *Texto especialmente escrito para minha participação semanal no portal Participi:
Eu nunca me entendi muito bem com Tiradentes. Cada vez duvido mais de suas boníssimas intenções de libertação do país das garras portuguesas. Ficou marcado como o boi de piranha do movimento, que nascido dentro do seio explorador, queria mais liberdade para seus negócios. Desamarrar-se de Portugal um mero empecilho no caminho. E enquanto os demais pularam fora, Tiradentes pagou exemplarmente por todos os outros, que continuaram fazendo das suas naquela época, onde sonegar já era moda. Levemos em consideração também que o poder constituído da época era despótico até a medula e merecedor de toda revolta, conspiração e levantes. Mas não é disso que quero escrever. Lembrei-me de Tiradentes por mero acaso, hoje dia dele, feriado nacional e o fazendo, impossível não me recordar de uma pá de bons professores (as) de História que tive ao longo da vida.
São tantos os nomes e para mim o mais importante deles foi uma carioca, ainda em plena atividade, Lídia Possas, uma que revolucionou minha cabeça (já convulsionada) nos tempos da faculdade de História na USC. Definitivamente ali fui arrebanhado para duvidar das verdades estabelecidas e ir cada vez mais a fundo e desvendar as verdades encobertas, as ainda ocultas. Deixa ver se me lembro de alguns nomes de mestres que me deram aula ou compartilharam comigo desse amor desmedido pela História (sou também um Historiador, hoje sem cátedra). Sonia Mozer, Paulo Neves, Duílio Duka, Oscar Fernandes da Cunha, Fabíola Soares, Sônia Mazzi e Fardin, Tauan “Narciso do Tempo”, japonês Brás na USC, João Francisco Tidei de Lima, Nair Leite, Rui Dom Quixote e tantos outros e agora a mente me falha. Considerem-se todos lembrados e homenageados.
Lembrei-me de todos eles hoje ao abrir o Jornal da Cidade e ver uma clara alusão no título da capa, “Com Tiradentes, classe média já reagia”, ou seja, da movimentação de antanho com uma ocorrida agora pelas ruas brasileiras. É a tal da classe média de novo nas paradas de sucesso. Afirmam lá num trecho da matéria: “...o que revela similaridades com recentes protestos anticorrupção neste ano no Brasil”. Entrevistada, a mestra Sonia Mozer tenta recolocar o bonde nos trilhos com algo muito simples: “...ainda falta um projeto de país”. Ponto.
Daí, o motivo dessa minha ODE, criada especialmente para revenciar meus queridos professores (as) de todos os tempos, épocas e vertentes. Queria nesse exato momento mandar uma baita de um beijo para todos esses professores de História, os lembrados e os não lembrados, que me pouparam do mico de ir para as ruas pedir impeachment e intervenção militar. Foi por causa dos ensinamentos deles que eu permaneci bem longe (dessa vez) das ruas. De prontidão estou para clamar nas ruas pelo fim da corrupção (a de todas as matizes), contra a sonegação bilionária junto ao HSBC, os que desviaram grana preta da Receita Federal, da AHB – Associação Hospitalar de Bauru, os que querem enterrar de vez a CLT e tudo quanto é forma de reacionarismo arcaico e enferrujado. Numa passeata assim iria até de olhos fechados, mas essa a mídia não faz força para acontecer,porém meus professores de História sim, pois não enxergam pelo viés caolho. É com eles que eu vou, sempre!
Parabéns Henrique pela beleza e lucidez da mensagem. Continue contribuindo com suas análises para que nosso país e a humanidade trilhem o caminho da libertação, que de verdade resgate a dignidade humana e o direito de ser feliz.
ResponderExcluirAbraço, Ana Maria Lombardi Daibem Obs. Tenho certeza que Isaias assinaria integralmente nossas mensagens.
Ana Maria Lombardi Daibem
E HOJE PELA MANHÃ, COMO SEMPRE A 94 FM COMETEU ALGUNS ERROS: REFERIU-SE AO REI DE PORTUGAL, NO CASO RAINHA (DONA MARIA I), COMO IMPERADOR E COLOCOU COMO UMA DAS MEDIDAS A SEREM TOMADAS PELOS INCONFIDENTES, A LIBERTAÇÃO DOS ESCRAVOS DA CAPITANIA, ESSA QUESTÃO NÃO ERA DEFENDIDA POR TODOS, POIS MUITOS DOS INCONFIDENTES ERAM DONOS DE ESCRAVOS. PORTANTO NEM CHEGOU FAZER PARTE DAS PROPOSTAS. NÃO ESQUEÇAMOS QUE O MITO DE TIRADENTES FOI UMA CRIAÇÃO DA REPÚBLICA.
ResponderExcluirOSCAR FERNANDES DA CUNHA
UMA HISTÓRIA DA PRAÇA TIRADENTES
ResponderExcluirO Brasil é um oxímoro em forma de país: um português proclamou a independência; um monarquista proclamou a República; a revolução contra as oligarquias em 1930 foi feita pelas próprias oligarquias; o presidente da redemocratização em 1985, Zé Sarney, foi homem dos milicos; o Oeste Novo Paulista não fica no Oeste de São Paulo; a terra roxa nunca foi roxa; um beato asceta e reacionário, que esperava a volta de um rei morto mais de trezentos anos antes para anunciar o fim do mundo, virou ícone da esquerda revolucionária e uma espécie de Lênin do sertão.
Não bastasse isso, na Praça Tiradentes - aqui no Rio - a estátua é a de D. Pedro I; fato mais inusitado ainda quando lembramos que foi a avó do primeiro Pedro, Dona Maria, a Louca, que mandou matar o alferes Joaquim José da Silva Xavier. É mole?
Para esse último fato, ao menos, cabe explicação. Acontece que a figura do alferes praticamente desaparece da memória histórica brasileira após sua execução, pertinho da atual praça Tiradentes.
Tiradentes era republicano e conspirou contra os Bragança - família de Dona Maria, Dom João VI e dos dois Pedros que governaram o Brasil. Enquanto fomos monarquia e tivemos Bragança no poder, necas de pitibiribas de homenagear o enforcado. Quando muito, era mencionado como vil traidor ou como homem de caráter fraco, incapaz de liderar qualquer movimento mais articulado contra a ordem estabelecida.
Quando a República foi proclamada, cem anos depois da Inconfidência Mineira, os novos donos da cocada preta resolveram escolher um herói nacional representativo do novo regime. Houve polêmica entre dois candidatos - Tiradentes e Frei Caneca, o líder da Confederação do Equador de 1824. O barbudo levou a melhor. Quem quiser saber mais disso pode catar o Formação das Almas, livro do Zé Murilo de Carvalho sobre esses babados.
CONTINUA...
CONTINUAÇÃO...
ResponderExcluirDisse barbudo, mas faço a emenda. Tiradentes nunca teve um visual daquele - barba à Antônio Conselheiro e cabelo à Bufalo Bill. O pintor Décio Villares, por exemplo, que recebeu a encomenda de retratar o herói nacional republicano, não tinha referência nenhuma sobre como seria o alferes quando foi executado. Ninguém tinha, aliás. Villares não teve dúvidas - pintou Jesus Cristo e substituiu a cruz pela forca; como a comparar o sacrifício do Filho do Homem pela humanidade ao sacrifício de Tiradentes pela República e pelo Brasil.
Assim como fez Villares, Pedro Américo, Eduardo Sá, João Turin e Virgílio Cestari pintaram ou esculpiram o alferes com ares cristãos. Sabemos, porém, que à época os condenados tinham cabelos e barbas raspados. Tiradentes foi enforcado carequinha da Silva.
Voltemos ao tema central, até porque não sou a pessoa mais indicada para falar de assuntos capilares. Quando os republicanos resolveram fazer de Tiradentes o herói nacional, a praça mais próxima do local da execução do alferes - o velho Largo do Rocio, perto do Campo da Lampadosa - recebeu a denominação do herói. Havia, porém, um probleminha. A estátua de D. Pedro I já estava ali desde 1862, num marco em louvor ao Grito do Ipiranga.
A coisa ganhou contornos de provocação entre republicanos e monarquistas. Nesse Fla X Flu pelo controle da memória nacional, os primeiros insistiam em derrubar a estátua equestre do Imperador; os outros ameaçavam fazer um furdunço memorável se a demolição ocorresse. Após muita polêmica, chegou-se a uma solução brasileiríssima: a estátua de D. Pedro I foi mantida e a praça passou mesmo a se chamar Tiradentes.
Agora, experimentem explicar a um turista por que a praça que homenageia o mártir da independência tem uma estátua do neto da velha que mandou executar o herói. Sou capaz mesmo de apostar que, numa pesquisa com cem cariocas que cruzem a praça em uma tarde, a maioria vai dizer que a estátua é a de Tiradentes.
Quanto a este que vos digita, confesso: a referência emocional (infantil, portanto, que é quando essas coisas se consolidam no cabra) que tenho de Tiradentes é a de Francisco Cuoco representando o mártir na novela Saramandaia. Da Inconfidência Mineira, levo uma lição que tento praticar com sagrada obediência - após um dia intenso de trabalho nos trópicos, há que se tomar civilizadamente umas cervejas geladas quando o sol se põe. É a manjada liberdade, ainda que à tardinha.
LUIZ SIMAS - RIO RJ
COMENTÁRIO VIA FACEBOOK:
ResponderExcluirLucas Pelizardo esse sim....um grande herói...justíssima homenagem ate hoje....do grande Joaquim José da Silva Xavier-o Tiradentes....observe que seu traidor Joaquim Silvério dos Reis era a cara do Tancredo Neves...
21 de abril às 14:18 · Curtir · 2
Henrique Perazzi de Aquino UMA HISTÓRIA DA PRAÇA TIRADENTES
O Brasil é um oxímoro em forma de país: um português proclamou a independência; um monarquista proclamou a República; a revolução contra as oligarquias em 1930 foi feita pelas próprias oligarquias; o presidente da redem...Ver mais
21 de abril às 19:36 · Curtir · 1
Henrique Perazzi de Aquino ESSA EU NÃO PODIA DEIXAR DE PUBLICAR AQUI JUNTO DOS COMENTÁRIOS DESSE MEU ESCRITO: Laerte, o intrépido chargista das boas sacadas, junta o Tiradentes e o grito que lhe deram quando com a corda no pescoço. Algo muito parecido com o mesmo grito de hoje. Não é o mesmo?
Foto de Henrique Perazzi de Aquino.
21 de abril às 20:15 · Curtir
Beto Grandini Eu já dormi na praça Tiradentes, a de Ouro Preto, numa "manguaça" daquelas ...
21 de abril às 20:30 · Descurtir · 1