COMENTÁRIO QUALQUER (138)

O AMADOR DE ONTEM E DE HOJE – DOS MOTIVOS DE NÃO IR MAIS AOS CAMPOS*
* Texto escrito ontem, 05/04, domingo e publicado aqui só hoje, 06/04, segunda:

Ouço no rádio e leio pelo jornal que começa hoje um dos mais importantes torneios amadores de Bauru. Temos dois paralelos e ambos disputadíssimos, ocupando todos os estádios municipais. Esse um dos problemas, a falta de estádios em condições de receber tantos jogos. A efervescência e a ebulição estão de mãos dadas em Bauru. Já gostei demais de frequentar jogos do amador bauruense. Fui torcedor do ARCA até seu derradeiro dia e adorava ir aos estádios. O do Arca sem arquibancada, perto de casa era divinal. As arvores ali existentes eram a cobertura natural para assistir aos jogos. Com uma lanchonete lá nos fundos, foi meu programa dominical por mais de uma década. Inesquecível o dia em que até o time do Fluminense carioca ali treinou, com Renato Gaúcho no elenco, antes de um jogo com o Noroeste, acho que pelo Brasileirão.

Adorava o do Padilhão e lá tinha um senhor pelo qual ficava embasbacado olhando como sabia dirigir o seu time, maestria de fazer doer aos demais, seu Palmér. Por onde andará seu Palmér, o maestro do Ordem e Progresso? Em alguns domingos ia almoçar na casa de meu avô na rua Martin Afonso, vila Falcão e antes da comida, subia essa rua até lá nos seus altos e fervia assistindo aos dois jogos do dia. Isso me magnetizou por anos. Outro campo que me magnetizou em algumas oportunidades foi o do Distrital do Bela Vista. Lembro-me de jogos memoráveis e eu lá inserido, vibrando. O do Edmundo Coube acompanhei todo o processo de sua construção e depois, de sua derrocada, Depois, novamente, sua reconstrução.

Tenho na lembrança o nome de infinitos jogadores dessa época. Outro dia encontro numa fila de rotisserie, lá nos altos do Bela Vista um goleador dos meus tempos de Arca, o Zico, que junto de um irmão barbarizava no meu time do coração. Toda vez que vou lá para os lados do Confiança Vila Falcão paro e fico olhando para o hoje aposentado juiz da bola, o Adélio, severo, durão e ali vendendo salames. Vizinho dali, na mesma quadra que meu avô morava o também juiz Tatinha. Insquecível o dia em que o Noroeste o homenageou e ele apitou um jogo do vermelhinho. Estava lá e o vi correndo também pelo Alfredão. Tatinha acredito ter sido o melhor juiz dos meus tempos, apesar de gostar demais da conta também do Tonhão (esse apitando por aí até hoje e com mais de 60 anos no lombo).

Impossível deixar de falar do Neizinho, o melhor e mais baixinho ponta direita que vi jogar. Ficava ao seu lado no muro do Arca. Ali lembro de quase todos daqueles memoráveis times. Paraguaçu no gol era uma muralha. Paulinho e Adelmo no meio de campo eram a certeza das jogadas bem distribuídas. Teve um jogo que não me sai mais da memória. Acho que era com o time do Internacional. Um goleiro bem gordo, preenchendo quase o tamanho das traves, mas ágil e pegando bem. Seu time perdeu, mas ele dificultou as coisas e recebia apupos seguidos da galera das arquibancadas. Para mim, o amador daquela época, coisa de vinte anos atrás (talvez mais) era um deleite. Não só para meus olhos, mas sapiência. Tinha pauleira, mas algo de muito bom diferia e muito do que vejo ocorrendo hoje.

Não vou mais a jogos do amador bauruense. Abdiquei e nada me faz voltar atrás. Fico com o meu saudisismo. Não dá para entender como um time daqui de Bauru pode se arvorar em ter em seus quadros um jogador ainda jogando pela séries A e B do Brasileiro, o Magno Alves, como foi aventado aqui dias atrás e ninguém vir a público explicar como algo dessa magnitude pode ser bancado. A explicação vinda da imprensa é simplista demais: “o futebol amador de Bauru hoje gera mais grana do que o dos jogos do Noroeste”. Sim, mas só isso? Eu não vou mais aos campos porque não quero pactuar com o que a cidade inteira sabe que acontece hoje no intestino de quase todos os times. E se todos sabem e ninguém faz nada, eu faço: deixo de ir aos campos. Só isso e nada mais. Ainda ontem li aqui nos comentários de um escrito meu que deveríamos dar bênçãos aos céus por Damião ter tocado o time do Noroeste do jeito que o fez, sem nunca explicitar nada, balancetes nenhum de entrada e saída, sendo por causa da cobrança sobre transparência o motivo de estarmos hoje relegados à Bezinha do Paulista. Se formos deixar tudo para o deus dará, permitir tudo, sempre e em todos os lugares, baixemos o pano e nos locupletemos todos. Eu ainda não me locupletei por inteiro, daí prefiro à feira das manhãs dominicais.