AS HISTÓRIAS DE CLÁUDIA, NANA, JESUS, ADILSON E BAZAN
01.) CLÁUDIA SANCHEZ REVENDE FRUTAS E LEGUMES NUMA ESQUINA DO BELA VISTA
Impossível, pelo menos para mim, passar numa rua ver algo diferente ocorrendo por ali e não querer ir assuntar do que se trata. Esses criativos personagens da cena urbana bauruense que, diante da impossibilidade de arrumar um emprego, acabam criando um e deles fazem a origem de seus rendimentos merecem todo o destaque desse mundo. Quando vejo alguém assim, bolando possibilidades, quero logo ir papear, conhecer um pouco mais de cada caso e em cada nova situação, a certeza dessa resistência que a rua demonstra, escancara diante de nossos olhos. Isso tudo é um bocadinho do que verdadeiramente se passa nas ruas brasileiras.
CLÁUDIA SANCHEZ aos 39 anos de vida revende na esquina das ruas Francisco Alves com Alto Acre, bem no coração do Bela Vista, movimentado cruzamento viário da cidade, numa banquinha montada sob tijolos e com uma tábua colocada em cima, frutas e legumes variados, desde ovos caipira, laranja, mandioca, mexerica, maracujá, poncã e em algumas ocasiões até frango. Ela e seu marido, o Josino Correia, 44 anos, casadinhos há dois anos, saem diariamente de onde moram, lá nos altos da avenida Cruzeiro do Sul, do outro lado da cidade, passam pelo Ceasa e escolhem os produtos do dia e montam juntos a banca. Durante boa parte do dia ficam ali juntos, ou se dividem com outro ponto, uma pequena quitanda na rua Alves Seabra, quadra 8, mas a labuta é de segunda a sábado, faça sol ou chuva. Quando lhe pergunto da clientela, ela assim me responde: “Todos nos adoram, temos muito clientes fixos e até fazem encomendas. Eu já faz dois anos que estou aqui e ele, um pouco mais, pois quando o conheci já vendia frutas em bancas. Acabamos casando e ajudo ele”. Sentadinha num banco logo atrás da improvisada banca ou papeando com os vizinhos do portão do lado, assim ela passa as horas do dia, num levanta e senta danado, pois movimento eles já conquistaram e já pensam em ampliar mais e mais o pequeno negócio. São empreendedores.
2.) NANA É A PORTEIRA DE FESTA ESTUDANTIL “MAIS MAIS” DA CIDADE
Escrever sobre os tantos trabalhadores da noite é algo inebriante, pois muitos vivem de profissões as mais inusitadas e fazem daquilo não só o seu ganha pão, como o algo mais de suas vidas. Encantador ir descobrindo histórias e relatos de personagens vitais em alguns lugares, como a personagem dessa escrevinhação de hoje, pois sem ela festa nenhuma em local universitário ocorreria sem problemas e os naturais percalços. E sempre por detrás de cada pessoa, cada um ali trabalhando e suando a camisa para que tudo saia da melhor forma possível. São os imprencindíveis. Aprendi a gostar dessa pessoa assim do nada, observando seu trabalho num dia desses e hoje ela virou objeto do meu escrito e além disso, nos tornamos amigos.
SUZANA MARIA OLIVEIRA, 30 anos é uma pessoa desconhecida do munds estudantil, principalmente lá dos da Unesp, mas se perguntarem por lá de uma tal de NANA, que trabalha em 99,9% das festas universitárias como porteira e resolvedora de assuntos aleatórios de todos esses eventos, todos a conhecem. Se escrever que ela é “pau para toda obra”, pode ser que ela não goste, mas como já atua desde os 20 anos no mesmo ofício, ganhou não só a simpatia, como a confiança de tudo e todos. Ela sabe se impor e não deixa dúvidas que está ali na entrada para respeitar e ser respeitada, sendo também conselheira e em casos de extrema necessidade, chega a ter que bater em alguns. “Bato só em caso de extrema necessidade, quando ultrapassam todos os limites. Já fui muito de falar pouco e bater muito, mas aprendi. Hoje me imponho de outra forma, pela amizade e dessa forma toco minha vida. O grande problema de uma festa não são os que estão dentro, mas os que estão fora e querem entrar de penetra, são os chamados ‘Povo X’, os estranhos”, conta Nana, muito consersadeira e tendo sua agenda praticamemente lotada durante quase todo o ano letivo, pois festa da Unesp sem ela deixa de ser uma verdadeira festa unespeiana. Mora lá no Gasparini desde muito tempo, leva sua vida do jeito que gosta, encontrou algo onde se sente bem e segue em frente, com alguns detalhinhos mais diferenciando o que faz: “Nunca levei calote. Eles, os estudantes sabem que faço bem feito meu serviço. Estou sendo de boa e pra me ver de cara feia é por estar muito abusada, aí é bom sair até de perto”. Nana resolve as paradas todas, a maioria numa boa.
3.) JOSÉ DIAS É O JESUS, OPERÁRIO DOS BASTIDORES CULTURAIS DO MUNICÍPIO
Alguma fotos me fazem dar aquela parada na circulada rápida que faço pelas páginas faceboquianas nos últimos tempos. Com movimentos rápidos, percorro as postagens num soslaio, quase nem dando tempo para uma breve corrida de olhos. Algumas me chamam a atenção e daí paro tudo e leio, olho com mais atenção. Dia desses vi uma foto de uma pessoa com um cabrito e fui ver de quem era, era de um baita conhecido, figura humana pra lá de considerável, simples até a medula e dele quero extrair umas poucas palavrinhas para alegrar essa quinta friorenta e chuvosa.
JOSÉ DIAS, esse seu nome no facebook, mesmo tendo-o conhecido até então como JESUS, uma espécie de faz tudo nos bastidores do projeto Ferrovia para Todos, o que movimentou (está um tanto estacionado) a famosa composição férrea com a Maria Fumaça nos trilhos urbanos bauruenses. O via fazendo de tudo nos bastidores do projeto, desde reparos nos carros férreos, manutenção em suas peças, como ajudar a recepcionar as pessoas nas viagens e até na monitoria. Hoje, quando o trem está criando teia de aranha, com impedimentos mil advindos da concessionária ALL (para tristeza de toda uma cidade), Jesus (como sempre o chamarei) deve continuar aprontando das suas nos bastidores da Cultura Municipal, daqual é servidor. O guapo entende de tudo um pouco, desde marcenaria, pintura, serralheria, construção e algo do qual é a sapiência em pessoa, o benfazejo de saber criar e cativar amizades. Fala mansa, sempre sorridente, de bem com a vida, mesmo nas baitas adversidades, esse Jesus não se deixa crucificar facilmente, pois sabe ir contornando as adversidades. No seu lado família deve ser a mesma coisa, proseador e conciliador. Um desses que, impossível ao revê-lo não parar tudo e ir lá lhe tascar um abraço. Jesus é mesmo sem o saber e o querer, a cara da simplicidade e de da sinceridade. Matuto ponta fina.
4.) ADILSON TALON, DE CARPINTEIRO DE MÃO CHEIA PARA ENTENDIDO EM GRANEL
Quer profissão das mais dignas do que saber atender? Tão gostoso ser bem atendido, pessoas que sabem conduzir uma venda com aquela atenção de quem realmente gosta do que faz. Para se especializar em algo, não se faz necessário grandes arroubos. Simplesmente não menosprezar a pessoa diante de si, ouví-la já é um bom passo. A importância desses que se especializam nas suas, cheios de boas habilidades pessoais e daí isso exposto assim de graça no relacionamento com o próximo. Curto muito isso e quando encontro alguém assim a gente até se distrai e passa a conversar mais do que devia. E a fila crescendo do outro lado.
ADILSON TALON coloca todo seu conhecimento hoje para atender bens os clientes do Empório Barres, um dos que oferecem produtos a granel no centro de Bauru. Aos 62 anos se reinventou e hoje, sem nenhum tipo de problema é um dos atendentes no local, detrás do balcão e pronto para prestar informações pormenorizadas sobre qualquer produto ali vendido. Passou a maior parte de sua vida num ofício aprendido desde garoto, como carpinteiro, sendo sua especialidade, a de acabamento, desde tacos, assoalhos, escadas ou lambris. Fazia de tudo, mas com o tempo, a madeira de lei passou a ser um problemão, pela escassez e a partir daí não mais um bom negócio. Mudou de ramo e passou seis anos trabalhando na lanchonete Kent Café, na rua 1º de Agosto. Conheceu muita gente ali no centro da cidade e hoje faz um ano que está no novo emprego, cheio de gás e saindo diariamente do Mary Dota, onde mora com a esposa para fazer o que gosta. “Aqui tem uma clientela das mais dinâmicas que já vi na vida. Passam gente de tudo quanto é faixa etária e ninguém mal humorado. Impossível não atender feliz, passar e receber isso das pessoas”, diz. Avô coruja, com dois netos, Talon fez aniversário ontem e comemorou a data no local de trabalho, seguindo sempre em frente.
5.) ANDRÉ BAZAN É UM ILUMINADO ILUMINADOR
Iluminadas pessoas, como é bom escrever delas e desvendar algumas de suas histórias. Essas pessoas parecem flanar na vida, mas na verdade, no fluir das pedras, ralam tanto como as demais, mas pelo jeitão malemolente como prosseguem suas caminhadas, meio que despreocupadamente, parecem viverem isentas de problemas. Quem dera! Mas que é gostoso e precioso saber não levar a vida assim tão asério, contornar os percalços sempre com um ânimo renovado, uma galhardia exclusiva, isso não existe a menor dúvida. Atuações com esse espírito merecem destaque, uma nota a mais e é isso que procuro fazer com esse escrito. Resgatar um bocadinho só de alguém que, sabe rir disso tudo, inclusive de sua própria condição. Esse parecem viverem mais.
ANDRÉ BAZAN já foi funcionário público municipal na área da Cultura. Foi quando conquistou pouco a pouco o reconhecimento hoje alcançado no quesito Iluminador teatral. Atuou por mais de uma década junto ao Teatro Municipal, galgando passo a passo (ou seria degrau a degrau?), sempre nos bastidores de peças, shows e eventos variados. Não chegou pronto, mas conseguiu sair de lá escolado e bem preparado, algo complementado pelos estudos lá na FAAC. Morou uma boa época na rua 1º de Agosto (época de solteirice, hoje casado), junto da padaria Nossa Senhora Aparecida, numa república das mais democráticas e alvissareiras e de lá saia para acender a certeira luz para tudo o que ocorria nas hostes envolvendo a Cultura. Deitou logo muito fama, pois mesmo com esse jeito bonachão, largadão, sempre soube muito bem se posicionar, tornando seu nome, se não o melhor, um dos dentre os grandões nesse refinado segmento. Com o funcionamento da TV Unesp, passou num concurso e deu prosseguimento a de iluminador e também de cinegrafista, mudando o foco, agora para tudo quanto é tipo de matéria jornalística lá na TV da universidade. Vez ou outra, atendendo a convites irrecusáveis, irresistíveis e incontornáveis, desses onde é praticamente impossível dizer “não”, lá está Bazan metido com suas luzes e cores. Um ser muito bem iluminado e cheio de encantos mil, pudera com um dos sorrisos mais marotos dessa terrinha, o gajo faz um sucesso danado por onde ande. E olhe que andar é com ele mesmo. Xodó de atividades culturais, considerado e atento, segue sempre adiante, galgando e conquistando sempre mais. Uma peculiaridade, uma risada conhecida a quilômetros de distância, uma de suas marcas registradas.
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