segunda-feira, 31 de agosto de 2015
ALFINETADA (136)
AS ALFINETADAS DESFERIDAS EM 2003 NO SEMANÁRIO DE PIRAJUÍ
Como faço a cada mês, aqui a reprodução de meus antigos textos nos meses de março de abril de 2003:
Publicado Nº 209 – Desatarraxador de Dívidas – 01/03/2003
Publicado nº 210 – Viva o “Pocotó” – 08/03/2003 Publicado nº 211 – Bauru é mais do que Notícia – 15/03/2003 Publicado nº 212 – Uma forma de encarar o poder bélico/econômico – 22/03/2003 Publicado nº 213 – Vamos falar um pouco dessa e de outras guerras – 29/03/2003 Publicado nº 214 – Gurizada apreensiva com a Guerra – 05/04/2003 Publicado nº 215 – Não a Bundalização! – 12/04/2003
domingo, 30 de agosto de 2015
AMIGOS DO PEITO (108)
CONJUGAÇÕES (OU CONJUNÇÕES?) CARNAIS E DOMINICAIS
Alguns escritos juntados num domingo de pouco tempo e muita coisa a fazer pela frente:
1.) VELHO BRIZA MATAVA A COBRA E MOSTRAVA O PAU.
Adorava seu estilo.
Faz muita falta nos dias de hoje.
É claro que, quando ele esbraveja contra O Globo, não é só a ele que são dirigidas suas precisas palavras. É a todo um conglomerado midiático mentiroso privilegiando a mentira como método diário de trabalho. Serve também para todos os que omitem a verdadeira informação, regateiam matérias em busca de privilégios, falseiam a verdade para ocultar interesses e assim por diante.
A informação de hoje sai truncada, falseada, inversa, inconclusa, atendendo a interesses que não são os da verdadeira informação e dos leitores.
Brizola sacava isso muito bem, pois sofreu na pele as consequências do malefício desse que ele segura às mãos.
Tenham tudo, todas e todos um ótimo domingo.
Brizolando melhor ainda. Confiram clicando no link: https://www.facebook.com/sigajandira2/videos/1036954883005840/?pnref=story
“Foi hoje, gente! Por favor, prestigiem o tributo e, se possível, compartilhem mais essa apresentação musical feita pela Oficina Cultural!
Será no anfiteatro Guilhermão da Unesp, às 10h do domingo.
Denise na voz, Marli no piano, eu na locução e Cláudia na produção!”, Wellington Leite.
Esse o convite de um dileto amigo. Sim, vou na Feira do Rolo bem cedinho, quase madrugando e depois vou ver o show desse pessoal. Eles me convenceram, assim como fui convencido para no dia 13/9, ir ao Jardim Botânico Municipal de Bauru assistir ao show de George Vidal e Roger Pereira, 11h da manhã. Não fosse algo assim desse naipe iria na tal Feira, minha terapia dominical.
"No próximo dia domingo (30), a Rádio Unesp transmite ao vivo o show "Em uma esquina de Minas", um tributo aos álbuns Clube da Esquina (1972 e 78). Neste mês dos pais, Denise Amaral, na voz, e Marli Nunes, ao piano, sobem ao palco do Guilhermão da Unesp Bauru às 10h do próximo domingo, homenageando Milton Nascimento e companhia com transmissão simultânea da Rádio Unesp. Uma parceria das Oficinas Culturais do Estado de SP e da Unesp FM em homenagem aos pais. Produção de Cláudia Paixão e Wellington Leite", eis o texto do CONVITE feito pela Rádio Unesp FM 105,7.
"No próximo dia domingo (30), a Rádio Unesp transmite ao vivo o show "Em uma esquina de Minas", um tributo aos álbuns Clube da Esquina (1972 e 78). Neste mês dos pais, Denise Amaral, na voz, e Marli Nunes, ao piano, sobem ao palco do Guilhermão da Unesp Bauru às 10h do próximo domingo, homenageando Milton Nascimento e companhia com transmissão simultânea da Rádio Unesp. Uma parceria das Oficinas Culturais do Estado de SP e da Unesp FM em homenagem aos pais. Produção de Cláudia Paixão e Wellington Leite", eis o texto do CONVITE feito pela Rádio Unesp FM 105,7.
3.) "A GENEROSIDADE É O MELHOR NEGÓCIO PARA A HUMANIDADE".
Sabem quem disse e pratica isso no dia a dia? Ele: https://www.facebook.com/midiaNINJA/videos/537965823028234/?pnref=story
É por isso que arrebata milhões por onde passe. Com a simplicidade de uma vida inteira ele move montanhas.
Diante de tanta iniquidade, tanto ódio de classe, gente clamando por mais religiosidade, lunáticos fundamentalistas, uns só pensando em grana, sucesso diante de um tal de mercado, querem mais é amealhar, juntar, sentir o vendo dos benefícios financeiros só para si, mas esquecem dos demais, de todos os outros. Daí me aparece um Mujica falando umas coisas que eles não entendem, mas não conseguem discordar. Vejo gente apoiando ele e fazendo exatamente o contrário do que ele prega. Se diz favorável ao seu estilo de vida, mas na virada da esquina está praticando o inverso. Não sacam a grande contradição que estão fazendo com suas vidas, enfiando-as no saco, atuando cada vez mais para enricar uns poucos e não dando a atenção para que a felicidade humana reside nas coisas mais simples, nos gestos generosos uns para com os outros. Olhar e entender a situação do outro, olhar e estar ao lado deles, compartilhar, ajudar, ceder, dividir, mas cada vez menos isso ocorre. De que adianta achar linda a ação do Mujica se fazem tudo diferente do que ele prega?
A bestialidade reside até nisso. Não existe ser contra ele, mas não se está mais sendo possível de ser como ele? Seria ele, então, um ser de outro mundo?
4.) A QUE HORAS ELA VOLTA? – OS LIMITES DA EXPLORAÇÃO
Um filme BRASILEIRO que acreditei estrearia em Bauru nessa semana e não veio, não chegou e nem sei se chegará. Acabo de ler nos jornais que um cientista norte-americano negro, que está em São Paulo para participar como conferencista de um Congresso Acadêmico, cabelos em tranças é barreado pelos seguranças negros de um hotel de luxo no coração da maior cidade brasileira, pois, com toda certeza representava algo que não estava batendo muito bem com tudo o que acontecia por ali. Afinal, o que um negro pode querer fazer num lugar desses? O que um negro pode querer fazer numa Universidade como a Unesp de Bauru e agora também na de Ourinhos? A bestialidade aflora quando alguns se defrontam com negros nas universidades ou até mesmo, viajando no mesmo avião e quiçá cursando a mesma universidade. Imaginem a loucura quando a filha da sua empregada vai prestar o mesmo vestibular que seu filho, ela passa e seu filho não? Não, não somos racistas. Absolutamente não. Isso tudo é intriga da oposição. Como é intriga da oposição permitir que um filme como esse da diretora Anna Muylaert, mostrando por A + B o abismo existente entre as classes na sociedade brasileira possa ser feito e mais, mostrado. O filme expõe claramente o que venha a ser o verdadeiro regime escravocrata da classe média brasileira. A empregada doméstica no Brasil ainda obedece a regras da época colonial e o filme com Regina Casé no elenco principal evidencia isso de forma bem clara, nítida, como se fosse uma fratura exposta, sangrando na sala principal, no meio das visitas numa dessas casas recheadas de luxo interior e pobreza mental.
Olhe a sinopse do filme: “A pernambucana Val (Regina Casé) se mudou para São Paulo a fim de dar melhores condições de vida para sua filha Jéssica. Com muito receio, ela deixou a menina no interior de Pernambuco para ser babá de Fabinho, morando integralmente na casa de seus patrões. Treze anos depois, quando o menino (Michel Joelsas) vai prestar vestibular, Jéssica (Camila Márdila) lhe telefona, pedindo ajuda para ir à São Paulo, no intuito de prestar a mesma prova. Os chefes de Val recebem a menina de braços abertos, só que quando ela deixa de seguir certo protocolo, circulando livremente, como não deveria, a situação se complica”.
Do filme dois links:
http://brasileiros.com.br/…/apesar-dos-tempos-que-horas-el…/
http://www.brasilpost.com.br/…/que-horas-ela-volta-filme_n_…
Assistam esse vídeo com entrevista da Casé, tudo começando com o “Val, pode tirar por favor?”: https://www.youtube.com/watch?v=NB_FZ9mn3YM
Esse o trailer internacional do filme: https://www.youtube.com/watch?v=QtAsqNqZEIY
Não vejo a hora de assistir. Será que chega semana que vem em Bauru, ou melhor, será que vai passar em Bauru?
5.) CIA ESTÁVEL DE DANÇA DE BAURU E O "SAMBA" NO PÉ.
Quem foi que disse que bailarinos não sambam? A resposta foi dada ontem com a estréia de três novas trabalhos da Cia Estável de Dança - Bauru/SP, capitaneada pelo amigo Sivaldo Camargo e com algo marcante sobre o SAMBA, bem na ponta das sapatilhas. Eis um pequeno trecho, logo no início do espetáculo, quando ainda se ouvia ao fundo a imortal música de Donga, o primeiro samba brasileiro. Nesse bocadinho um aperitivo da belezura do espetáculo, que pode ainda ser conferido hoje e amanhã no Teatro Municipal, junto com duas companhias de fora. Depois, com um agendamento já disputado, muitas outras apresentações ocorrerão e o samba vai sendo espalhado por mais essa via, jeito e modo. Skindô...
Cliquem no link e se maravilhem: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/vb.100000600555767/1134993513197323/?type=2&theater
sábado, 29 de agosto de 2015
COMENDO PELAS BEIRADAS (05)
A VILA RICA OFERECE A MELHOR PIZZA DA CIDADE - NO CENTRO VELHO DE BAURU, RESISTE E INSISTE, ISSO HÁ MAIS DE 50 ANOS
Esse “somos” dito por ele é pelo motivo dele ser filho do original proprietário do lugar, o famoso João Neves, um senhor que mesmo hoje, aposentado do lugar há mais de vinte anos é uma das pessoas mais elegantes da cidade, verdadeiro e original personagem bauruense, pois só anda de terno e gravata, numa estica de dar gosto. Ainda circula por ali e é visto diariamente nas caminhas pela região. Seu João, hoje com 94 anos continua morando no prédio construído e mantido pela família, num dos quatro apartamentos construídos bem em cima de onde está localizada a pizzaria. “Precisa ver meu pai, ele está bem melhor que a gente, saúde de ferro, sobe e desce as escadas e sem nenhum problema”, conta. Hoje a gerência do lugar está a cargo da irmã do Ademir, a única que não mora ali em cima, pois resolveu se bandear tempos atrás lá para os lados do Jardim América. Com um público fiel, mais popular, mas com gente de todos os lugares da cidade, essa pizzaria resiste ao tempo e aos problemas, principalmente aos da região central, praticamente deserta à noite.
A casa funciona todos os dias da semana, abrindo na hora do jantar e funcionando no máximo até à meia noite. De segunda a sexta com dois garçons e de sábado e domingo, os dias onde a casa enche mais, com quatro. A especialidade são as pizzas Portuguesa e Calabresa, mas o a Moda da Casa, também está entre as preferidas. O motivo da casa continuar atraindo a atenção começa pela escolha dos seus dois principais funcionários, os que atendem o público, tanto o Ademir, como o outro, o Felisberto, esse com quarenta anos de experiência no ramo e só ali quinze. “Eu trabalhei muito tempo com o Décio no Alternativa e até hoje continuo indo e voltando para o serviço com minha bicicleta. Não moro tão longe, ali na rua Alves Seabra e em coisa de dez minutos estou em casa. Conheço cada detalhe não só da casa, como de boa parte da clientela. Isso aqui é uma grande família e onde tudo é feito com amor e carinho as chances de ser sucesso aumentam”, diz.
Na porta um segurança fica atento ao movimento das ruas. Fico sabendo que ele ganha por hora, mas quando inquerido, diz ter tido muito pouco trabalho com a desertificação do lugar à noite, mesmo quando passam da meia noite. Atrás do balcão e do caixa, além da filha do famoso seu João, seu neto. No dia em que lá estive estavam recebendo dois ilustres clientes, um deles seu irmão, o músico Roger Pereira junto do maestro George Vidal, ambos saídos de um ensaio e indo diretamente para lá comer, o que ambos referendam sem medo de errar: “Aqui se faz a melhor pizza de Bauru”. George fala em detalhes das maravilhas da massa, do seu preparo, do forno e dos dois garçons. “Tem mais, esse aqui (apontando para o Ademir) é um ilustre violinista e oferece para os amigos seu CD, uma preciosidade, só com clássicos do seu de seis cordas”, diz. A pizza chega, comemos e não resisto, incluo o valor do CD, permitido ser pago incluído no cartão. Sem muitos rapapés, quando a iguaria é servida todos param e caem de boca na gostosura indicada pelo George e pelo insuspeito Roger, esse mais do que cria da casa.
A confirmação disso dali ser oferecida a melhor pizza da cidade pode ser comprovada por todos na mesa. Cito os nomes. Ana Bia Andrade, Roque Ferreira, Tatiana Calmon e Sivaldo Camargo, todos ali presentes após assistir a estreia de mais um espetáculo da Cia Estável de Dança de Bauru, pensam e repensam em onde ir comer algo: a Vila Rica quando citado foi aceita por todos. Sivaldo chegando por último e muito bem acompanhado, experimenta uma de rúcula, pedido de sua companhia e ele uma apimentada. A casa com mais de 50 anos serve muito pelo Disk-Pizza, mas suas mesas todas simples, panos verdes sob a mesa e alguns quadros na parede, dentre eles alguns de Baccan, continua apostando no tradicional. Na longevidade das portas abertas, todos ali consultados disseram que se houver uma com mais anos de janela aberta na cidade que a Vila Rica, essa deve ser a Casarão, nenhuma outra. O fato é um só, continuam no centro velho, somente eles, a massa continua a mesma, os mesmos garçons, mesmo atendimento e preço convidativos, tudo com tradição mais do que familiar. Para os que torcem o nariz para virem ao centro à noite, percam o medo, pois ali tudo é de muita calma e paz. E a pizza, como já foi dito e repetido, a melhor da cidade.
sexta-feira, 28 de agosto de 2015
FRASES DE UM LIVRO LIDO (94)
“CADERNO DE NOTAS’, ERIC NEPOMUCEMO EM ANOTAÇÕES DE 36 ANOS ATRÁS – AS LIÇÕES PARA OS DIAS ATUAIS
Não me canso de escrever de um jornalismo que hoje fenece a olhos vistos. Existirá sempre os que, saindo das faculdades, o fazem cheios de muita garra, mas ao adentrarem (ou tentarem) o mercado de trabalho, tamanha decepção. A adequação ao formato mentiroso do jornalismo vigente, uma conformação idiotizante: teremos que mentir e nos adequar para estarmos inseridos no contexto. E se assim não ocorrer, evidente, estarão fora. As exceções e os lugares onde ainda se publica algo realmente dentro da VERDADE FACTUAL DOS FATOS é cada vez mais reduzida. Um dos jornalistas (ele adora ser chamado de repórter), desses que não me canso de citar como exemplo é ERIC NEPOMUCEMO (o tradutor oficial de Garcia Marquez e Eduardo Galeano). Um dos maiores entendidos em América Latina. Hoje leio seus textos não em algum órgão brasileiro, mas no diário argentino Página 12. De vez em quando lança um livro e alguns desses tenho aqui no mafuá. Saco um enfurnado aqui no mafuá desde muito tempo, o CADERNO DE NOTAS (Editora Paz e Terra RJ, 1979 – comprei o danado em 2007). Nele textos marcantes, retratando dez anos de andanças pela América Latina, de 1966 a 1976, 16 países e só fortes impressões, “registro esclarecedor do continente” onde vivemos. Vale a pena uma viagem pelas frases que fui grifando com minha caneta marca texto (todo meu acervo pessoal é assim demarcado). Confiram a belezura de sua verve:
- “Mas não importa: nas provas de afeto, nem sempre a verdade prevalece. (...) ...não é muito correto dizer que ele chegou a Cuba: esteve sempre chegando. (...) ...nunca mais Hemingway deixou que o mar e a corrente desaparecessem de sua vida. (...)”, do texto A Cuba de Papa Hemingway.
- “...não haverá perdão para quem cobriu as ruas de sangue. (...) ...os traidores, quando se apoderam do poder, se transformam rapidamente em um inimigo perigoso, porque são muitas as mãos sujas que passam a apoiar sua posição. (...) certa vez, falando de Che, um escritor uruguaio recordou seu olhar límpido, puro, como recém amanhecido: essa maneira de olhar dos homens que crêem”, do texto Um Encontro com a Resistência (Chile).
- “Por pensar, não mais que isso, nos metem na cadeia”, do texto Em Outra Terra (sobre a Bolívia, para revista Veja 1976).
- “...que cada um dos milhões de americanos deveria sentir a tragédia dos chilenos como se fosse sua (Garcia Marquez sobre a tragédia chilena). (...) A tragédia do Uruguai é a de um país que exportou mais de um terço de sua população. (...) O juramento é prestado aos representantes de uma sistema que condena à prisão que canta com demasiado entusiasmo o verso: ‘Tiranos, tremei!’ – verso que, pertence ao hino nacional uruguaio. (...) Um país cujas prisões guardam mais presos políticos do que presos comuns”, do texto A Outra Margem do Rio da Prata.
- “Não sei o que se pode e o que não se pode pensar. Dizer, sei: não se pode nada’, ironizava, um redator do semanário Marcha. (...) Os militares se transformaram num partido político. (...) E o Uruguai ficou parado no tempo, campos vazios, fábricas inúteis, quartéis florescentes. (...) Quando não se tem mais a quem prender e interrogar, é porque o país acabou. (...) Um de cada três uruguaios capazes de produzir vai embora. (...) Os filhos dos uruguaios nascem fora do país”, do texto Um Café Chamado Sorocabana (sobre os insanos tempos de ditadura militar no Uruguai).
- “...uma das primeiras tarefas da Revolução foi mostrar aos homens que havia começado o tempo de resgatar (ou criar) sua dignidade quase inexistente. (...) Não tema discutir com um cubano sobre sua Revolução, ou criticá-la: ele mesmo será, na maioria dos casos, um crítico ácido e ágil. Não vale a pena, em compensação, tentar negar o processo: ele poderá tomar isso como uma espécie de ofensa pessoal. Na barafunda de cifras multiplicadas ou criadas está a realização pessoal de cada um dos dez milhões de cubanos, sua vingança pessoal contra a história, o orgulho de sua existência. (...) Na ilha, em todo caso, respira-se um ar de alegria quase contagiante. Qualquer um sentirá que é impossível deixar de se surpreender com a atmosfera de entusiasmo que paira sobre todas as agruras do dia a dia”, do texto Cuba Ano 20.
Clique em cima para ampliar e ler esse texto. |
- “Em junho de 1973 o senador Uruguaio Enrique Erro fez um discurso no Congresso: ‘Os senhores apertaram o botão que permitiu a intervenção dos militares em todos os assuntos nacionais. Gostaria de saber agora se os senhores conhecem o botão que permitiria sua retirada’. O governo não respondeu na hora: alguns dias depois, sim: o Congresso foi fechado, Enrique Erro embarcou para o exílio, e terminaram 40 anos de democracia no pequeno Uruguai. (...) É este contrato que o senhor Ronald Regan usa como base para gritar que ‘o Canal é nosso: nós o inventamos, nós o construímos, nós o compramos’. Mais honesto, talvez seja o senador Hayakawa, da Califórnia. Ele também é contrário a devolução do Canal: ‘Nós o roubamos bem roubado. Logo, é nosso’. (...) O panamenho Julio Yao dizia: ‘Não, otimista não sou; é difícil algum povo colonizado ser otimista, a menos que esteja metido numa guerra dura de libertação’. (...) No Brasil há um músico chamado Antonio Carlos Jobim, que me disse, numa tarde de domingo: ‘Eu vou ao piano para não morrer, para não desaparecer, para não me transformar em um número. Para fugir, para não enlouquecer. Eu vou ao piano para não me matar”, do texto Anotações.
Ao ler isso tudo, leve em consideração o ano em que tudo foi escrito, tempos duros, de ditaduras militares espalhados por quase todo continente. Poucos países livres e soberanos. Leve também muito em consideração que, hoje, infelizmente, alguns desmemoriados clamam pela volta dos militares. Ler coisas desse tipo, ou melhor, não esquecer nunca o mal que nos proporcionaram faz parte de um processo de reeducação mais do que necessário após algumas décadas do fim daquilo tudo.
quinta-feira, 27 de agosto de 2015
ALGO DA INTERNET (107)
PARA A MAIOR PARTE DA MÍDIA NATIVA ÁECIO É UM SANTO, MESMO TENDO SIDO CITADO NOMINALMENTE EM PROPINODUTO – POR QUE? E SE FOSSE LULA?
O Troféu "Cara de Pau" vai para . . . |
“Reza a lenda que o trabalho do jornalista é justamente selecionar e hierarquizar as informações, de modo a levar sempre aquilo que é mais relevante ao público. Se ela não é capaz de enxergar o valor notícia de uma denúncia gravíssima contra o principal líder da oposição, é sinal de que está na profissão errada. Aliás, sempre achei que ela estava. Agora ela admitiu que está”, jornalista Rodrigo Ferrari indignado com a omissão de Aécio nos noticiários da TV Globo. Vejam o link da matéria:http://www.diariodocentrodomundo.com.br/…/muita-informacao…/
Na mídia de Bauru isso hoje novamente relevado poderia ser considerado como matéria requentada. Meses atrás foi denunciado sobre a passagem de Youssef em Bauru, vista pessoalmente à Bauruense, seu amigo Airton Daré, repasses vultuosos desviados de Furnas e algo sendo repassado para um tal de Aécio. Nada saiu. Dizem ter sido, assim como no caso da jornalista da Globo, “muita coisa junta, passou batido”. Vejam isso daquela época: http://www.rogeriocorreia.com.br/…/ao-livrar-aecio-neves-d…/
Luiz Nassif é um dos que continuam denunciando o esquecimento de parte da mídia em divulgar nada que desabone Aécio. Quem o lê sabe do que escrevo. Mas quando falam de Nassif, respondem dizendo ser ele “chapa branca”. Denunciar Aécio é ser chapa branca. Eis aqui a nova denúncia escancarada, de pernas abertas para o mundo:http://jornalggn.com.br/…/a-prova-do-pudim-da-lava-jato-nas…
A denúncia contra Aécio é tão escandalosa que até os ditos jornais que atuam nos mesmos moldes dos daqui e de outros países acabam tendo que dar a notícia. Os daqui fazem vista grossa. Esse o caso do nefasto argentino Clarín, que todos sabem pratica um péssimo jornalismo, mas diante de tantas evidências é praticamente obrigado a noticiar o fato. Na manchete dá das suas, sugere que são “afirmações” de que teria recebido propina, mas a notícia saiu: http://www.clarin.com/…/Petrobras-corrupcion-coimas-Aecio_N…
O mundo inteiro noticiou que Aécio recebeu propina durante um bom tempo, mas aqui perdura a vista grossa. Hoje ouvi de um dileto amigo que isso se deve porque Dilma é Governo e se ocorresse o contrário a pegação de pé seria com o Aécio. Sei não, o fato é que o PT hoje faz todos os gostos, de tudo e de todos e mesmo assim continua sendo o culpado de tudo, o bode expiatório dos donos do poder. Veja como a imprensa mundial trata a coisa, algo que aqui nem tratado é:http://cartamaior.com.br/…
Tem mais: http://www.pragmatismopolitico.com.br/…/internautas-usam-im… e por fim, já que nas vias normais nada será publicado, então que o seja pelas vias nasais (upa!), ops, pela veia humorística, enquanto a mesma ainda for permitida: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/…/simao-e-verdade-…/.
Baita abracito, tchau, vou ler as últimas na imprensa. Internacional, mais confiável.
RETRATOS DE BAURU (175)
MÁRCIA COORDENA A SAPAB E LÁ ESTÁ HÁ 15 ANOS Lutar todos lutamos, cada um ao seu modo e jeito. Ressalto aqui algo mais dos que lutam por causas a moverem suas vidas. Existem os abnegados, os que enfrentam o touro a unha. Conheço alguns desses e não me canso de reservar um espaço a mais, uma palavrinha a mais de carinho e atenção para esses, os que fazem e acontecem. Acertam muito, mas na caminhada, quase impossível também não serem cometidos alguns pequenos erros, porém, todos no pleno envolvimento da contenda. É muito fácil criticar, olhar com os olhos de quem está distante. Difícil mesmo é permanecer na lida e tentando, fazendo, construindo. Quando me deparo com alguém assim, teço loas elogiosas e ressalto todos os passos dados, pois sei que foram todos dados num só sentido, o de continuar fazendo. Como é bom escrever dos que fazem disso o motor de suas vidas. Vejo nessa aqui isso tudo e muito mais.
MÁRCIA PEREIRA DA SILVA BENVENUTO, 42 anos é figura conhecida nos meios das entidades assistenciais da cidade e também no meio político, pela militância constante junto aos movimentos sociais. Há exatos 15 anos está atuando na SAPAB, a Associação da Pessoa com AIDS de Bauru (22 anos de existência - https://www.facebook.com/sapab.bauru), hoje com o cargo de Coordenadora Administrativa, o mais alto e só abaixo do da presidência. É o nome mais citado quando a associação é mencionada e esteve à frente de inúmeras batalhas pela conquista de direitos e garantias, além da batalha diária empreendida ao longo dos anos na manutenção das casas de apoio junto aos aidéticos. Márcia cursou Ciências Sociais em Marília, foi professora por dois anos na rede pública estadual, iniciou suas atividades numa entidade ambiental não mais existente, a Gaya, moradora do Jardim Santa Luiza, casada, um filho e hoje, dedicando-se exclusivamente ao trabalho dentro da associação. Nele permanece oito horas por dias, mas pensa e vivencia tudo o que nela passa nas suas 24h. O novo endereço da Associação é na rua Inconfidência, bem defronte o CIPS e é ali onde trava o maior desafio de sua vida, que é conseguir sanar os problemas atuais causados pela escassez de recursos e aumento da demanda pelos serviços oferecidos. Uma labuta enfrentada com a cara e a coragem, desprendendo para isso o que de melhor possui, na tentativa de não deixar que a mesma feche suas portas. Prestando um serviço essencial, segue na lida enfrentando um leão por dia, mas com a certeza de que, mais dia menos dia, a solução será encontrada e todos os serviços garantidos. Márcia é a cara da resistência, persistência e perseverança.
quarta-feira, 26 de agosto de 2015
O QUE FAZER EM BAURU E NAS REDONDEZAS (66)
PEDALADAS DA SEBES EM FAVOR DE ENTIDADES CONVENIADAS E O CASO SAPAB
Primeiro a divulgação da pedalada pelo JC de 28/05/2015:http://www.jcnet.com.br/…/fundo-socorre-entidades-sem-verba…
TUDO OCORREU DESSA FORMA E JEITO: Uma grana do Fundo de Assistência Social, locada numa conta bancária da SEBES – Secretaria do Bem Estar Social de Bauru foi utilizada e dividida entre 31 entidades assistenciais de Bauru, todas conveniadas com o órgão municipal. Esse o fato. O por que da antecipação? Todos alegavam estar com a corda no pescoço. Esse dinheiro poderia ser utilizado para esse fim? Segundo a legislação NÃO, mas a secretaria Darlene Tendolo afirma que tudo será devidamente devolvido aos cofres municipais quando chegar a verba federal, em atraso, já na semana que vem. Que nome se dá para isso? PEDALADA, igualzinho a que Dilma fez e está sendo julgada nesse momento por um nada isento tribunal, até com possibilidades de ser duramente penalizada, mesmo sendo pratica corriqueira em tudo quanto é instância da vida pública brasileira. No caso da Dilma, a grana que havia sido utilizada para uma coisa foi devidamente devolvida, tudo já no seu devido lugar. No da Darlene acredito que ocorreu o mesmo, afinal, após essa grita toda ocorrendo, não existiria outra alternativa.
OPINIÃO DO HPA – Confesso que não sei dos detalhes do ocorrido na SEBES, mas não gostaria de ocupar um cargo como o da Darlene, pois diante de situação idêntica, com necessidades comprovadas de precária situação de entidades e existindo grana em caixa, confesso, faria o mesmo. Taparia logo o buraco dos que mais necessitam e depois, quando o que está em atraso chegasse lacraria o outro. Errado? Pode ser, mas é até por causa disso que não me convidam para nada a envolver algo desse tipo, pois já iria logo abrindo os cofres. Entendam. Não sei ao certo quem são as tais entidades beneficiadas pela SEBES, mas sei de muitas outras cujos convênios foram cancelados nos últimos tempos e não foram beneficiadas. Escrevo isso por causa de algo. Tenho uma entidade pela qual daria toda a força para salvá-la nesse momento, a SAPAB – Associação da Pessoa com Aids de Bauru, em situação de pré-insolvência exatamente por atitudes idênticas as feitas nesse momento. Com dinheiro em caixa a SAPAB pagou o que tinha de pagar e hoje pena com uma dívida alta e capengando na busca de solução. Eu entendo o que a SEBES fez, mas também gostaria que todos entendessem que a dívida da SAPAB precisa contar com uma ampla ajuda coletiva dessa cidade, inclusive da SEBES, pois o trabalho que faz junto aos aidéticos não pode ser interrompido. Se um caso é compreensível, o outro idem e a SAPAB nem convênio possui mais com a Prefeitura. E pelo visto, no caso da SAPAB sei que tudo foi utilizado para saldar algo inadiável. Daí, podem me encostar na parede e metralhar, mas eu no lugar da SAPAB pedalaria do mesmo modo e jeito. São vidas humanas em jogo.
E para esquentar ainda mais os tambores, julgo o verbo da forma mais simples possível: Eu pedalo, tu pedalas... e você pedalaria???
terça-feira, 25 de agosto de 2015
CENA BAURUENSE (137)
UMA “BAURU” A ESPANTAR OS QUE AQUI CHEGAM Encontro ontem no meio da tarde com um seleto grupo de pessoas, todas elas de fora e aqui aportando para trabalhar e residir. Em sua maioria oriundos da capital paulista e da conversa entre eles, algo até então pouco perceptível para quem é daqui. Confesso, fiquei assustado. “O povo paulista já não é dado a muitas gentilezas, cordialidades, mas o bauruense é muito pior. Uma versão ainda piorada”. Do susto inicial pedi uma explicação e ela veio no meio da conversa. Entenda como se deu.
Eles começaram, a citar exemplos. “Vivo aqui há quase seis anos e meus vizinhos praticamente me ignoram. Não existo para eles. Ninguém dá nem bom dia para ninguém, tá todo mundo trancado e fechado no seu mundinho”. Essa não percepção, sinal de certa empáfia é referendada por outro: “Subo no elevador do meu prédio e para não me cumprimentarem e nem sequer ne dirigirem o olhar, fingem manusear algo no celular. Ficam mexendo nele até o elevador chegar no andar desejado e daí descem em desabalada carreira e sem nem olhar para trás”.
Riem disso, pois dizem terem vindo de realidades bem diferentes, mais “calientes” de relacionamento humano. “No shopping a própria vendedora quando lhe peço para ver um sapato mais caro, me olha de cima embaixo, demonstrando pouco interesse pela minha pessoa, diz que aquele é caro e não me encara”. Ao ouvir isso todos demonstram ter passado por situação idêntica. “A primeira pergunta que me fazem e ainda mais sabendo ter vindo de fora é onde moro. Dependendo do lugar eles te atendem assim ou assado”.
Passo a entender os reais motivos da revolta dos que aqui aportaram. “Frieza, o bauruense é um povo muito frio. Sofri muito aqui, pensei em voltar para São Paulo. O pessoal daqui morre de vergonha de ser visto andando de ônibus. Prefere continuar pagando a duras penas a prestação do carro novo do que comer bem”. Falam também das amizades conquistadas à duras penas. “Somos vistos como intrusos ou mesmo invasores de uma privacidade e um modo de vida que os tornam muito introspectivos. Chego a pensar que o bauruense é um povo que se acha, mas demonstram nisso imensa pobreza de espírito. Padecem do mal do pescoço levantado”.
Será? Todos os presentes na roda, incluindo homens e mulheres, sem tirar nem por, me confirmaram o que diziam. Escolhi um deles e lhe disse, pensando na minha situação: “Mas existem as exceções, viu!”. Rindo me respondeu: “Sim, mas bem poucos”. Continuo matutando sobre tudo isso e até sonhei com esse triste retrato do bauruense, afinal sou um deles, mesmo fazendo de tudo para ter posturas diametricamente opostas ao perfil traçado pela percepção vivenciada pelo dia a dia de gente que veio se integrar ao nosso cotidiano cenário. "O que teria possibilitado o fomento dessa insensibilidade? Onde foi parar uma Bauru que até então enxergava de forma diferente?", eis as perguntas me rondando.
OBS.: Na ilustração inferior, algo sobre uma Buenos Aires que se foi e com ela deixo uma sugestão para uma BAURU que também se foi. E para onde, hem?
DICAS (139)
SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS NO PROCESSO ELEITORAL ARGENTINO E BRASILEIRO – E NA DIUTURNA VIDA POLÍTICA
Voltei da Argentina faz duas semanas e por lá permaneci outras duas. O país vive um clima eleitoral muito parecido com o ocorrido no Brasil. Comento algo do que por lá presenciei. Sai de lá no sábado, 07/8 e no domingo, 8/8 aconteceu mais uma rodada de eleições distritais por lá. Uma semana antes algo muito parecido com o que vejo aqui, lá até pior. Um candidato a Governador, aliado do grupo político da presidenta é atacado via jornal Clarín, de forma vil, irresponsável e tudo com um só intuito, fazer com que perdesse a eleição. Ele, ministro de Estado foi acusado cinco dias antes do pleito de envolvimento com um réu confesso, condenado a prisão perpétua por tráfico e muitas mortes. Uma denúncia surge do nada, evidentemente inventada sugerindo que o candidato teria vínculos com o tal criminoso. Uma entrevista foi montada dentro da casa de uma parlamentar de oposição para legitimar o ato, mas foi descoberta por causa exatamente disso, do cenário não desmontado. Reconheceram na montagem da fraude a casa da parlamentar Elisa Carrió, de uma frente de esquerda. E o intento não foi alcançado.
Nada foi desmentido até o dia do pleito e o Clarín, dia após dia dizendo que aquilo precisava ser apurado. Veio a eleição e o candidato da presidenta vence, apesar da força midiática contrária, vergando o poder do mentiroso jornal, passando para outro turno, o “la vuelta” como eles dizem. Sabem qual a diferença com o Brasil? Foi algo que achei de um precisão cirúrgica, a presidente Cristina ocupou a TV e rádio em cadeia nacional e denunciou o embuste. Aqui, quando acontece o mesmo, Dilma se aquieta e se encolhe. Lá, o respaldo popular torna a situação deles diferente da nossa. Se aqui, a resposta das ruas é lenta, lá é um tanto imediata, daí, os tais “donos do poder” fazerem e acontecerem, mas ainda comedidos em fazer o mesmo que fizeram com Dilma no país. O poder das ruas ainda segura o avanço do que pior existe também por lá. O aflorar deles é contido pelo vínculo que o kirchnerismo possui com as massas, principalmente a oriunda da periferia e das forças peronistas, nunca desbaratadas.
Naquela semana, um famoso jornalista, que um dia foi de esquerda, fundou o Página 12, Jorge Lanata, chamado de O Gordo, bandeado hoje para o lado da oposição, já sem credibilidade pelas invencionices que faz para se manter em evidências criticando a presidenta e sua turma, agora aliado aos interesses do Clarín, inclusive como funcionário. Também na véspera da mesma eleição ele inventa que tentaram invadir o prédio onde mora, com bombas e tudo o mais, por causa de suas críticas ao governo. Queria criar um fato político e dele extrair benefícios, não só para ele, como para o grupo político opositor, dizendo que esses seriam capazes de tudo para não mais sair do poder, até de mata-lo. Por sorte o cinismo do embuste foi desmontado, mas tudo acaba ficando por isso mesmo. Do mesmo jeito que criaram o fato, quando não dá certo, esquecem dele e é como se no dia seguinte nem tivesse ocorrido. Essa história me lembrou muito a da bolinha de papel na cabeça do então candidato Serra, como se fosse um brutal atentado contra a vida do opositor. Alguns tentam de tudo, sacanas ao máximo.
Essa a primeira diferença. Outra vi também no resultado do mesmo pleito. O kirchnerismo sobrevive, confirmam as eleições primárias realizadas conjuntamente naquele dia. O fim do poderio dessa família no poder por lá desde 2003 é anunciado desde então, mas resiste, balança, mas não cai. A disputa presidencial por lá estará concentrada em duas grandes forças políticas, a dos Kirchner, centrada na figura de Daniel Scioli, que obteve 38,4% dos votos válidos nesse primeiro teste, frente a Maurício Macri, junto de uma frente amplíssima de oposição somando 24,3% dos votos no domingo. Essa primária é vista por eles como uma sondagem, uma pesquisa e foram às urnas aproximadamente três quartos do eleitorado. Impossível, mesmo sem nenhum Kirchner concorrendo ao cargo máximo alguém afirmar que eles perderam muita força.
Scioli é o atual governador de Buenos Aires e Macri o prefeito. Um de um lado, outro doutro. Scioli é filho de uma família dona de rede de loja de eletrodomésticos no país, ele um desportista que perdeu um dos braços numa competição de motonáutica. De ídolo esportivo a governador e agora, mesmo não sendo o preferido da presidente, acabou sendo galgado ao posto de candidato. O filho dela, muito novo, foi eleito como deputado pelo seu patagônico estado natal. Do outro lado, Macri, famoso por ter sido presidente do Boca Juniors, o time de futebol mais popular no país, sempre foi oposição aos Kirchner e representa a direita mais dura, neoliberal e populista até a medula. Ambos o são, mas com Macri a possibilidade de privatização de tudo, como fará o PSDB se um dia assumir o poder por aqui.
A semelhança que vejo tanto lá como cá foi a mesma do último pleito aqui, o que reelegeu Dilma. Vi boa parte de muitos que antes votaram em Cristina desiludidos com os atuais rumos do país, mas encontram-se numa encruzilhada, quando terão que optar entre cortejar o retrocesso, que será evidente com Macri, ou torcer o nariz e dar apoio crítico à continuidade com Scioli. Não foi exatamente o que foi feito aqui no Brasil? Evidente se a coisa está ruim e um horror com Dilma, até as pedras do reino mineral sabem que estaria muito pior nas mãos de, por exemplo, gente como Aécio. Descalabro mais do que total.
O problema de Dilma e de Scioli, se vencer o pleito final marcado para outubro será governar o país nesse clima de crise mundial, quando as forças internas contrárias instigam pela mídia que a crise é local. Distorcem para uso em benefício próprio, como se tudo fosse culpa só e tão somente de quem está no poder. Produzem um processo de destruição um tanto mentiroso, sendo o que sabem fazer no momento, ou seja, tudo e mais um pouco para tentar a todo custo eleger um candidato mais confiável para seus negócios. Outra diferença entre Dilma e Cristina e outro ponto para a argentina. Semana passada, num grande ato na Casa Rosada anunciou medidas de proteção para um monte de empresas estatais, principalmente a petrolífera, dificultando ao máximo sua privatização em caso de mudança de governo e o novo mandatário já querer se desfazer do patrimônio do país assim de cara. Tudo terá que receber aprovação do Congresso em maioria quase absoluta. Dilma não só não fez isso, como ainda privatizou de forma velada algumas de nossas instituições estatais.
Quando vejo Dilma indo buscar apoio das ruas, dos movimentos sociais, isso não me espanta. O que me espanta é querer fazê-lo só agora e ainda de forma insipiente. Todos eles, desde sindicatos ao MST estavam prontos desde muito tempo para compor uma barreira contra o retrocesso e foram deixados de lado. Na Argentina isso nunca ocorreu. Noutro exemplo, lá ela praticamente expulsou do país a ALL – América Latina Logística que sugavas e dilapidava patrimônio estatal em benefício próprio. Aqui, a tal da ALL continua fazendo das suas sem que nada de duro ocorra contra eles, jogando várias pás de cal no nosso leito férreo. Pelo que percebi por lá, acredito que Cristina consiga fazer seu sucessor, mas não vai ser fácil Scioli governar, porém, com menos problemas que os de Dilma por aqui. Lá, eles, a mídia, querem fazer o mesmo que aqui, mas tem uma baita massa popular no meio disso tudo. E isso os segura, mais do que aqui.
Um dia, acredito, possamos deixar de votar no dito menos pior. Tanto no caso argentino, como no brasileiro, algo muito parecido nesse sentido. Se um dos lados se mostra ruim, o outro, deixa evidente ser muito pior. Também no meio disso tudo, o povo, o eleitorado. É o que entendi do que presenciei.
OBS FINAL: Todas as fotos aqui publicadas como ilustração desse texto foram tiradas por mim (e por próximos a mim) quando da visita feita ao “Centro Cultural Kirchner”, um local muito amplo, antigo prédio do “Palacio de Correos y Telégrafos”, na rua Defensa, quase ao lado da famosa casa de eventos Luna Park. Depois de mais de 14 anos de intensa reforma, iniciada por ideia do ex-presidente Kirchner e concluído por sua esposa, Cristina, acabou por receber o nome do primeiro, com a única justificativa de tudo ter nascido por sua inspiração, idealização, esforço, movimentação, gerência e acompanhamento. Sim, tudo se deu mesmo dessa forma e sem querer me ater se o nome foi escolhido acertadamente ou não por Cristina, o que vi por lá me encantou. Um conjunto arquitetônico imenso, com atividades múltiplas e acontecendo simultaneamente, tudo sendo oferecido à população de forma gratuita. Constatem pelas poucas fotos aqui publicadas ou navegando no site deles, esse com todos os detalhes do magnífico resgate cultural e patrimonial: http://www.culturalkirchner.gob.ar/
segunda-feira, 24 de agosto de 2015
UMA MÚSICA (126)
LA MEMÓRIA – LÉON GIECO
Um dos cancioneiros que mais que toca dentre todos os bons nessa América Latíndia, um deles é argentino, LÉON GIECO. O ouvi pessoalmente uma só vez e foi em Buenos Aires, pouco antes de um comício de Hugo Chávez no estádio Fierro Carril, ano de 2008. Leiam meu texto publicado em Carta Capital sobre essa viagem: http://mafuadohpa.blogspot.com.br/search?q=O+anti-Bush,+ao+vivo.
A proximidade veio do que ele canta, as letras compridas e cheias de muita história, na maioria das vezes retratando o seu lado social, as questiúnculas do povo. Tudo o que acho dele trago para dentro do mafuá e dessa vez lá na capital argentina, mais um no quiosque do Página 12. Mas o mais gostoso foi ver a união de duas coisas que aprecio muito e ali juntas. A letra de uma das suas mais sensíveis canções, a “LA MEMÓRIA” e desenhada, verso por verso, no traço de um grande artista plástico que tive o prazer de um dia conhecer e escrever um belo texto para a Carta Capital, o Miguel Rep. O texto com ele pode ser lido aqui: http://mafuadohpa.blogspot.com.br/search?q=miguel+rep+em+carta+capital.
Mas sem mudar muito de assunto, numa estação de metro, ou Subte, como o chamam por lá, num local muito parecido com o centro de compras brasileiro, o Saara ou mesmo a rua 25 de Março, ao descer dou de cara com a letra da canção que já a canto quase inteira. Perdi dois trens e fiquei ali lendo, fotografando e Ana me acompanhando. Eis a letra, bem latina, bem candente, caliente e nos dando aquele toque mais do que sensível do que seja de fato essa nossa América Latina, que insisto em denominar também de Latíndia.
Vejam a letra, saquem o poder do traço do Rep e cantem junto do Gieco isso que me recarrega para os embates diários. Primeiro o vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=9JeJS5FtGCw
Los viejos amores que no están,
la ilusión de los que perdieron,
todas las promesas que se van,
y los que en cualquier guerra se cayeron.
Todo está guardado en la memoria,
sueño de la vida y de la historia.
El engaño y la complicidad
de los genocidas que están sueltos,
el indulto y el punto final
a las bestias de aquel infierno.
Todo está guardado en la memoria,
sueño de la vida y de la historia.
La memoria despierta para herir
a los pueblos dormidos
que no la dejan vivir
libre como el viento.
Los desaparecidos que se buscan
con el color de sus nacimientos,
el hambre y la abundancia que se juntan,
el mal trato con su mal recuerdo.
Todo está clavado en la memoria,
espina de la vida y de la historia.
Dos mil comerían por un año
con lo que cuesta un minuto militar
Cuántos dejarían de ser esclavos
por el precio de una bomba al mar.
Todo está clavado en la memoria,
espina de la vida y de la historia.
La memoria pincha hasta sangrar,
a los pueblos que la amarran
y no la dejan andar
libre como el viento.
Todos los muertos de la A.M.I.A.
y los de la Embajada de Israel,
el poder secreto de las armas,
la justicia que mira y no ve.
Todo está escondido en la memoria,
refugio de la vida y de la historia.
Fue cuando se callaron las iglesias,
fue cuando el fútbol se lo comió todo,
que los padres palotinos y Angelelli
dejaron su sangre en el lodo.
Todo está escondido en la memoria,
refugio de la vida y de la historia.
La memoria estalla hasta vencer
a los pueblos que la aplastan
y que no la dejan ser
libre como el viento.
La bala a Chico Méndez en Brasil,
150.000 guatemaltecos,
los mineros que enfrentan al fusil,
represión estudiantil en México.
Todo está cargado en la memoria,
arma de la vida y de la historia.
América con almas destruidas,
los chicos que mata el escuadrón,
suplicio de Mugica por las villas,
dignidad de Rodolfo Walsh.
Todo está cargado en la memoria,
arma de la vida y de la historia.
La memoria apunta hasta matar
a los pueblos que la callan
y no la dejan volar
libre como el viento.