terça-feira, 25 de agosto de 2015

CENA BAURUENSE (137)


UMA “BAURU” A ESPANTAR OS QUE AQUI CHEGAM
Encontro ontem no meio da tarde com um seleto grupo de pessoas, todas elas de fora e aqui aportando para trabalhar e residir. Em sua maioria oriundos da capital paulista e da conversa entre eles, algo até então pouco perceptível para quem é daqui. Confesso, fiquei assustado. “O povo paulista já não é dado a muitas gentilezas, cordialidades, mas o bauruense é muito pior. Uma versão ainda piorada”. Do susto inicial pedi uma explicação e ela veio no meio da conversa. Entenda como se deu.

Eles começaram, a citar exemplos. “Vivo aqui há quase seis anos e meus vizinhos praticamente me ignoram. Não existo para eles. Ninguém dá nem bom dia para ninguém, tá todo mundo trancado e fechado no seu mundinho”. Essa não percepção, sinal de certa empáfia é referendada por outro: “Subo no elevador do meu prédio e para não me cumprimentarem e nem sequer ne dirigirem o olhar, fingem manusear algo no celular. Ficam mexendo nele até o elevador chegar no andar desejado e daí descem em desabalada carreira e sem nem olhar para trás”.

Riem disso, pois dizem terem vindo de realidades bem diferentes, mais “calientes” de relacionamento humano. “No shopping a própria vendedora quando lhe peço para ver um sapato mais caro, me olha de cima embaixo, demonstrando pouco interesse pela minha pessoa, diz que aquele é caro e não me encara”. Ao ouvir isso todos demonstram ter passado por situação idêntica. “A primeira pergunta que me fazem e ainda mais sabendo ter vindo de fora é onde moro. Dependendo do lugar eles te atendem assim ou assado”.

Passo a entender os reais motivos da revolta dos que aqui aportaram. “Frieza, o bauruense é um povo muito frio. Sofri muito aqui, pensei em voltar para São Paulo. O pessoal daqui morre de vergonha de ser visto andando de ônibus. Prefere continuar pagando a duras penas a prestação do carro novo do que comer bem”. Falam também das amizades conquistadas à duras penas. “Somos vistos como intrusos ou mesmo invasores de uma privacidade e um modo de vida que os tornam muito introspectivos. Chego a pensar que o bauruense é um povo que se acha, mas demonstram nisso imensa pobreza de espírito. Padecem do mal do pescoço levantado”.

Será? Todos os presentes na roda, incluindo homens e mulheres, sem tirar nem por, me confirmaram o que diziam. Escolhi um deles e lhe disse, pensando na minha situação: “Mas existem as exceções, viu!”. Rindo me respondeu: “Sim, mas bem poucos”. Continuo matutando sobre tudo isso e até sonhei com esse triste retrato do bauruense, afinal sou um deles, mesmo fazendo de tudo para ter posturas diametricamente opostas ao perfil traçado pela percepção vivenciada pelo dia a dia de gente que veio se integrar ao nosso cotidiano cenário. "O que teria possibilitado o fomento dessa insensibilidade? Onde foi parar uma Bauru que até então enxergava de forma diferente?", eis as perguntas me rondando.

OBS.: Na ilustração inferior, algo sobre uma Buenos Aires que se foi e com ela deixo uma sugestão para uma BAURU que também se foi. E para onde, hem?

3 comentários:

  1. COMENTÁRIOS VIA FACEBOOK:

    Paul Sampaio Chediak Alves ACHEI o perfil do bauruense traçado pela pessoa, bastante fiel ao que é de fato.
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    Walisson Bragião "VC é simpático nem parece de Bauru "
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    Henrique Perazzi de Aquino Walisson Bragião, por que, quer dizer que tem mais?
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    Reinaldo Reche Esse tipo de comportamento não vejo só aqui em Bauru, existem outras Bauru ; e os que permeiam por elas reconhecem outras realidades bem diferentes dessa relatada pelos novos cidadãos bauruenses. Bauru, em todas as classes sociais existe mesmo muita gente metida a besta, mas também muita gente inclusiva que há de realizar a Bauru que imaginamos.Nossa sorte é que essa gente inclusiva, embora menor, é ativa, ao contrário da outra e assim, como a cidade é imaginada-criada primeiramente nas mentes e corações, penso que as potencialidades podem se manifestar por meio das possibilidades que esse tipo de cidadão cria.
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    Dan Melos Henrique, sou Guarulhense, morei 5 anos em Bauru, e venho de família de comerciantes. Vivenciei isso como morador nos anos q estive aí, e , principalmente pq atuo atualmente na área de atendimento ao cliente, tanto em Bauru como outras cidades. Não sei o que acontece (seu perfil traçado talvez seja a resposta), mas nunca vi cidade tão difícil para atendimento ao cliente como Bauru, como cliente e instrutor da área que sou. Quando a questão é convivência, esse jeitinho incomoda mas é algo a se relevar, agora quanto o assunto é negócio, onde é obrigação atender bem, creio que tem mta gente simplesmente perdendo dinheiro... Mas claro, há poucas excessões, e talvez nelas resida nossa esperança! Abçs!
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    Walisson Bragião Já ouvi está frase como um elogio ., Henrique Perazzi de Aquino
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    Silvio Selva Levo minha vida sem levar em conta a de outros. Tenho bom relacionamento com vizinhos, não conheço a casa de nenhum. Caminho dez quilometros ida e volta ao trabalho diariamente e converso ou cumprimento varias pessoas. Se Bauru não é bom, sugiro Uganda, tem umas tribos em que todos moram juntos e dormem no mesmo teto Pessoal gosta de ficar falando abobrinha.
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    Henrique Perazzi de Aquino Sem ser radical, nem tanto a um, nem a outro. O próprio amigo Silvio sabe o quanto sofre pelos olhares atravessados que lhe são dirigidos. Mesmo que os ignore e toque sua vida sem lhes dar a devida atenção, eles existem e o relatado no texto é algo existente e segundo ouvi e também noto, uma característica de certa fatia de bauruenses.
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    Luciana Covolan Moro em Bauru desde 1990 e confirmo tudo o que está no texto
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    Maria Cristina Zanin Sant'Anna Sim, existe uma mentalidade estranha, fechada e preconceituosa.
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  2. COMENTÁRIOS VIA FACEBOOK 2:

    Paul Sampaio Chediak Alves Contudo .... amo esta cidade provinciana de meus avós, e sempre que possível, ajudarei a mudar essa realidade ... não tô morto. Eles já estão. Mas eu não. Então. Esse trabalho é meu ... é seu ... é nosso.
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    Fernando Tobgyal Existe humano no desumano?
    As respostas podem ser, e são várias, fato é que nestas terras interioranas paulistas, vira e mexe, este assunto é tema recorrente nas conversas.

    Se reservadas às famílias locais (aquelas com sobrenome?!?!?), os estranhos, os diferentes, os vindos sabe-se lá de onde (veio prá cá deve ser escravo fugido) estes são invisíveis, são ignorados.

    Se em reservadas conversas entre "estrangeiros", aí a coisa muda de figura adoram fazer seu clã: gaúchos tratam de fundar um CTG, os nordestinos - forró, os baianos - axé e seus cultos, nipodescendentes clubes de sushi, sashimi e yakisoba, admiram o Sakurá uma vez por ano, e fazem até distribuição de Moti (bolinho de arroz) para dar boa sorte quando o ano começa.

    Os bauruenses pelo visto, se apropriaram do sanduiche, para fazer a diferença, botaram até picles para parecer com o McDonalds, em Jahu tem a leitoa frita, com frango e linguiça, ah.. tem a polenta frita também.

    Não sei, só sei que acho isto tudo muito estranho.

    Existe mesmo humano no desumano?
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    Bruno Emmanuel Sanches Henrique, acho que é uma tendência não somente do bauruense, mas do indivíduo.

    As pessoas estão menos receptivas a estranhos, ainda que reclamem de falta de amizade e em confiança do outro. Sinal dos tempos. Há cidades em que esse bairrismo e provincianismo é mais acentuado.

    Bauru está num meio termo, mas msm sp (que é terra de ninguém) as pessoas estão cada vez mais fechadas em conchas.
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    Kátia Sampaio Bem, quando cheguei em Bauru, foi ótimo. Tanto que hoje me sinto mais bauruense que jauense... As pessoas que conheço e que se transferiram para cá amam a cidade. Mas, concordo que crescemos desmedidamente e estamos cocriando os mesmos aspectos negativos dos grandes centros - estamos ficando cada dia mais impessoais. O medo de andar pelas ruas está cada vez maior, mesmo à pleno Sol. eu costumo dizer a minha família que se tivesse que mudar para Bauru hoje eu pensaria mil vezes, não pela cidade, mas pela violência que está tomando conta.
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  3. COMENTÁRIOS VIA FACEBOOK 3:

    Rose Silva · Amigo de Silvio Selva e outras 66 pessoas
    Acho que os opostos se atraem e assim caminhamos sem perceber o quanto somos igorados. Sempre trabalhei com público em geral e gosto muito de estar em sintonia com as pessoas, porém percebo que em muitas vezes não é recíproco, tenho a impressão que ser gentil, educada, atenciosa, dá um certo medo nas pessoas que as fazem ignorar ou serem grosseiros. Trabalho com vendas e procuro ser sutil na abordagem do cliente para que sinta se à vontade, mas ouço críticas da empresa que acha que tenho que ser persistente ( chata) no atendimento. Sou muito comunicativa, comprimento até as árvores por onde passo, adoro conversar, interagir, trocar idéias, mas muitas vezes levo umas porradas verbais de gente que se acha superior, nariz empinado e cheio de razão ou simplesmente é um ignorante emocional. Mas prefiro acreditar que tanta acidez e amargura é reflexo da triste situação de serem reféns da própria vida, por acreditam que nunca terão alguém que pagará pelo seu resgate. E seguirão assim eternamente prisioneiros condenados a prisão perpétua do próprio ser.
    Bauru não é o monstro, algumas pessoas é que são assustadoramente frias. 😕
    Descurtir · Responder · 1 · Ontem às 02:57 · Editado

    Isa Rinaldi Não acho exclusividade de Bauru onde resido há 8 meses. Talvez a discussão deva ser o interior do estado de SP, observando principalmente suas opções políticas e sua posição frente às questões de interesse coletivo, moralidade e ética.
    Descurtir · Responder · 1 · Ontem às 09:05

    Henrique Perazzi de Aquino Isa,também vejo muito por esse viés, o do interior de São Paulo e suas opções políticas levando a isso.
    Curtir · 2 · 21 h

    Isa Rinaldi Pois é, acho que não erramos se projetarmos pro interior todo do estado, com suas posições tão seletivas na moral, ética e "bons costumes". O neoliberalismo deixa marcas!
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    Kizahy Baracat Esse arredio e natural, tem a ver com nossas origens tribais. Todo lugar e assim, já ouviram falar dos paulistanos quatrocentões. Pois e,, devem haver bauruenses centenários,, já que os quatrocentões foram expulsos ou dizimados.
    Bandeira da minha terra,
    Bandeira de sete listras..
    São sete listras de glória
    CERCANDO o chão dos paulistas .
    Descurtir · 2 · 15 h · Editado
    Henrique Perazzi de Aquino

    Valeria Torini da Costa É verdade, as pessoas têm vergonha de andar de ônibus, hoje mesmo uma vizinha me perguntou onde estava meu carro, qdo disse que não tinha e que qdo precisava (moro no centro da cidade) pegava um ônibus, ela me olhou com tamanho espanto como se eu fosse de outro planeta..rsrsrs. E muitas vezes, você está no ponto e um conhecido passa de carro e finge que não te vê e por aí vai, no elevador, num banheiro público, numa escada rolante... É exagero? Não, infelizmente não! Hoje está mais pra cada um pra si, e Deus!? Tem muita gente que nem se lembra que Ele existe. Mais façamos cada um a sua parte, vamos dar um Bom Dia com entusiasmo, um sorriso largo, um abraço amigo ou uma palavra de conforto, não custa nada e faz muita gente e um bem enorme pra nós mesmos. Meu abraço pra todos com muito carinho.
    Descurtir · Responder · 3 · 18 h

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