quarta-feira, 5 de agosto de 2015

PRECONCEITO AO SAPO BARBUDO (92)


A MENTIRA NA MANCHETE E MUITOS APLAUDINDO, PEDINDO BIS
Abro o jornal daqui e lá estampado em sua primeira página algo muito parecido com o que vejo ocorrendo no Brasil: "A difamação como instrumento da campanha eleitoral". Algo sui generis aconteceu aqui por esses dias. A sete dias de um "paso" eleitoral, como dizem aqui, surge inesperadamente e da forma mais irresponsável possível uma acusação contra o candidato da oposição com maior possibilidade de ganhar o pleito. Essa a estratégia, um aniquilamento midiárico de última hora, como largamente utilizado no Brasil para impedir uma vitória dos candidatos opositores ao neoliberalismo e aos interesses dos aqui também donos do poder, dentre os quais os grandões da mídia. Aqui capitaneadios pelo Clárin e La Nácion e aí no Brasil pelo Globo, Folha e Estadão.

Almoçando num restaurante popular na tarde de ontem, faço questão de sentar ao lado de uma mesa onde o papo era sobre o ocorrido. "Pode-se o candidato Macri matar a mãe que não sairão manchetes contra ele de forma depreciativa, mas vá lá o sr Scioli, pisar num tomatito e terá uma enxurrada de manchetes depreciativas". Igualzinho no Brasil. Dou meu exemplo. Pode alguém como Aécio, Alckmin ou mesmo FHC ter matado a mãe a punhaladas em plena praça pública, na presença de milhares de testemunhas oculares, mas o fato será amenizado e nas manchetes do dia seguinte, algo em pouquíssimas linhas e levantando suspeitas de como teria sido de fato o ocorrido.

A grande pergunta que não quer calar é sempre a mesma: Por que ocorre isso e a maioria se cala? A grande tese é que a maioria sabe de todos os males, mas está mancomunada com alguns dos malfeitores e os apóia. O importante nesse momento é somente um, a destruição de um e a devolução do poder a outros, independente se esse fez, faz ou continuará fazendo bandidagens variadas e múltiplas. Ninguém compra gato por lebre assim gratuitamente. O que existe mesmo é que a maioria que faz vista grossa para desmandos dos seus, o dos que defende e faz uso da frase muito dita por aqui na Argentina: "Mente-me que eu gosto".

Agora sacaram algo aqui de um preso em prisão perpétua, um enjaulado e que se condenado lá na frente, quando o estrago já tiver sido concretizado e o opositor derrotado, lhe será imputado mais alguns anos no costado. Ele deu entrevista, falou horrores do tal candidato opositor, a mídia lhe dá todo o crédito do mundo, insufla suas falas como verdades absolutas, mesmo ciente de que foram invencionices de cunho meramente eleitoral. Esse o papel hoje da imprensa livre, altaneira e soberana. Triste papel, a de reprodutora da inverdade, mas isso de pouco vale no momento, o que vale mesmo é trazer de volta aos píncaros da glória o neoliberalismo mais predatório possível. Não enxergo diferença nenhuma do que ocorre no Brasil.
FUI APRENDER ALGO COM UM ASSALTANTE DE BANCOS
Participei na segunda passada de mais uma edição por aqui do BAN!, o Buenos Aires Negro, um grande evento reunindo conhecidos escritores do ramo policial. Palestras em torno do tema podem ser conferidas no site: buenosairesnegra.com.ar.

Fui motivado por algo que li no Página 12 e muito me encantou, a presença do hoje escritor espanhol DANI EL ROJO, também conhecido como EL MILIONÁRIO. Ficou muito conhecido em seu país por ser um contumaz ladrão de bancos nos anos 80/90, penou 14 anos de prisão e hoje transformou-se num escritor policial, contando não só seus feitos, mas algo mais para curiosos como eu. De ladrão de bancos a escritor de novelas e até ator de cinema. O próprio festival BAN! tem por lema algo nessa linha: "Donde el crimen real se mezcla con el crimen de ficción".

Fui me inteirar da fala do ROJO: "Em um minuto e meio tinha dois milhões de pesetas que não eram para guardar, eram para gastar, para desfrutar. Era meu trabalho. (...) Não me arrependo por haver atracado bancos pela atitude que os bancos sempre tiveram. Hoje está muito pior, haja visto o que faz um presidente de banco e um atracador de bancos. (...) Eu via muito dinheiro na minha frente e queria muito dinheiro. Eu queria ser rico e o dinheiro estava ali na minha frente. (...) Me diziam para ir trabalhar, mas como, trabalhando nunca ficaria milionário. E eu queria ser milionário. Nenhum milionário chega lá honestamente. (...) Dinheiro rápido é como café de máquina: entra muito rápido, todavia sai também muito rápido. Te custa pouco ganhá-lo. E ademais, não pensava viver até os 52 anos. (...) Tínhamos a polícia do outro lado, o grande empecilho, pois o delinquente tem que dormir e eles não, trocam de turno e continuam no seu encalço. (...) Escrevo hoje porque li muito durante o cárcere, foi lá que aprendi a ler livros. Na minha época, 98% dos delinquentes estavam também envolvidos com drogas. Gastávamos muito, mas a vida é também outra coisa, muito além do dinheiro, mulheres e carrões. Nunca roubei para guardar e sim, para gastar. Acabava, roubava de novo. (...) Meu passado me deu lições, uma mulher me mostrou que podia também viver com um soldo mensal e hoje tenho dois filhos. Se soubesse que os teria teria guardado um ratito de dinheiro. (...) Saber sair do delito e ganhar a vida honradamente é o que de melhor a vida me deu. Uma coisa é você cometer um delito um dia de sua vida em algum deslize e outra coisa é estar todo dia metido com isso. Você entra nesse ramo de negócio e sabe que vai passar anos no cárcere".

Ao final fui perguntar se no meu caso, aos 55 anos, já meio alquebrado, agilidades perdidas, barriga grande, calvície protuberante, como poderia me aconselhar a ingressar, tipo dicas para fazer a coisa bem feita em tão lucrativo ramo de negócio. Olhou para meu estado, do alto até abaixo, riu e me disse ao pé do ouvido, mas em voz alta, para todos ao lado ouvirem: "Continue fazendo o que faz no momento, teria poucas oportunidades de sucesso". Sai de lá frustrado. Dessa forma vejo reduzidas minhas possibilidades de tornar-se milionário assim da noite para o dia. Triste sina.

Um comentário:

  1. Eu só queria saber quem são esses opositores ao neoliberalismo perseguidos pela mídia na Argentina e no Brasil, porque em ambos países vejo sim uma grande situação neoliberal corroendo suas economias.

    Camarada Insurgente Marcos

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