quarta-feira, 16 de dezembro de 2015
BEIRA DE4 ESTRADA (56)
MÁRCIA E AS INCERTEZAS DESSE MUNDO*
* Texto de minha lavra e responsabilidade publicado na edição nº 32, dezembro 2015, da revista bauruense AZ! (10 mil exemplares), na seção que fecha a mesma, a Tirando o Chapéu:
Márcia Nuriah é bailarina. Encantou e irradiou luz por variados cantos e recantos bauruenses. Até o exato dia em que o marido holandês necessitou voltar ao seu país, cuidar dos negócios da família. Perdemos uma pensante pessoa, pulsante e muito dançante. Agora, para ter Márcia entre nós só de tempos em tempos, tipo drops, pequenas doses. Estava junto dela na aula de despedida lá na sua escola de dança, junto da praça Portugal. Algo a magoava por dentro e por fora. O mesmo sentimento entalado na garganta sentido por muitos, uma vontade tresloucada de ajustar as coisas nesse país, ver o fim das injustiças todas, as desigualdades, brecar essa intolerância, ódio começando a pipocar no ar, uma incompetência meio que estabelecida e nunca resolvida.
Gravei sua fala naquele já longínquo dia de maio de 2011. Despedida com alguma mágoa, pois naquele ano seu Festival Internacional de Dança, por força dos muitos desencontros no nosso municipal teatro havia sido transferido para Barra Bonita. “Espero um dia voltar, com segurança e com gente que tenha tesão em fazer, porque sem tesão não tem solução”. Foi dado um jeito no teatro e noto hoje gente cheia de tesão nos bastidores daquele casa. Márcia acaba de fazer nova incursão na aldeia bauruense, sempre rápida, lépida e fagueira. Quem presenciou, com certeza, saboreou de montão, quem não viu, só ano que vem. Cidadã do mundo, aqui e acolá quase ao mesmo tempo.
Sei, deve estar aturdida, atordoada e atormentada com esses atentados todos ocorrendo nos países pela vizinhança de onde reside. Essa já era sua preocupação tempos atrás. Como conviver com uma cada vez maior intolerância? Tenta sempre ao seu jeito, prolongados diálogos, acaloradas discussões, desgastantes, cansativas e debates feitos somente entre quem ainda os façam dentro da sensatez. Extraio algo deles, como néctar a me embalar e me fortificar. Pessoas tocando a vida como Márcia sempre tem muito a dizer.
“Minha dança é alicerçada num monte de conhecimento técnico. Estudei muito, aprendi a dançar valorizando a história do mundo árabe, onde está inserida a minha dança. Malhei as alunas no ferro aqui na escola, mas sempre com humildade. Não tem nada pior do que as pessoas que se acham. Vivemos num mundo em que a ética morreu. No lugar do humanismo entrou o hedonismo, o consumismo. Com a contracultura pregávamos valores solidários e hoje predomina a conveniência, o eu, o egoísmo exacerbado. Levo em conta que o colonizador nunca valorizou a cultura do colonizado e quando me veem somente como dançarina de dança do ventre. Repudio a erotização que procuram fazer. Eu sou uma artista que não produz metal, produzo pensamento, passo ideias. Aqui na escola, digo que aprendemos ‘hesbollah’ e não a rebolar”.
Como é bom ser amigo de gente como essa digna representante dos Nuriah, original embaixatriz brasileira em terras geladas e distantes. Faz falta por aqui, mas deve preencher belas lacunas dos do lado de lá do oceano. Gente assim, não são encontradas em cada esquina, mas é com esse tipo de cabeça que esse mundão terá possibilidades de salvação.
Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História (www.mafuadohpa.blogspot.com).
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Renata Santin obrigado amigo pelo carinho
Daisy Villaça Meu amigo querido ! Tenho a nítida impressão que estou a falar com vc , quando leio seus textos !
h
Marcia Nuriah Obrigada pela lembranca Henrique!!!!!
Marcia Nuriah Mas - podem me curcificar - mais do que os atentados, que sao pontuais, me choca a mare humana caminhando ao longo das estradas de ferro, cacos e farrapos misturados com boys e seus Iphones, vindo Deus sabe de onde, chegando pela Europa do Leste com um...Ver mais
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