terça-feira, 8 de dezembro de 2015
RETRATOS DE BAURU (181)
JOSÉ ANTONIO VIVE SEM UMA PERNA DEBAIXO DA MARQUISE DO PÃO DE AÇUCAR A poesia “Bicho”, do poeta Manuel Bandeira diz tudo o que tenho para dizer do personagem de hoje: “Vi ontem um bicho/ Na imundice do pátio/ Catando comida entre os detritos./ Quando achava alguma coisa,/ Não examinava nem cheirava:/ Engolia com voracidade./ O bicho não era um cão,/ Não era um gato,/ Não era um rato./ O bicho, meu Deus, era um homem”. Diante de tamanha crueldade humana ainda permitindo a repetição de cenas como essas, vou direto para o tema de meus estudos sobre os tais “invisíveis” desse mundo. Minha mestra Maria Cristina Gobbi me chama a atenção acertadamente: “Henrique, mude o termo, eles não são invisíveis, são IGNORADOS”. Daí instantaneamente mudei a denominação, pois todos os enxergam, mas a imensa maioria simplesmente os ignora. É de um deles o texto de hoje.
JOSÉ ANTONIO FERNANDES SANTOS é esse ilustre personagem da foto abaixo, tem 48 muito mal vividos anos de idade e hoje vive praticamente todo o dia debaixo de uma marquise na rua Araújo Leite, Altos da Cidade, paredão ao lado do Supermercado Pão de Açucar, região nobre da cidade. Dorme por ali, ou na quadra virando a esquina, junto a outra marquise, a do DAE. Circula muito pouco esse bauruense nato, pois devido a um triste acidente ainda dos tempos quando podia trabalhar, zona rural, cortou a perna com um arame, ela grangrenou e foi obrigado a amputá-la. Daí por diante, foi obrigado a andar de muleta, perdeu empregos, referências e foi cada vez mais sendo empurrado para as ruas. Delas não mais saiu e hoje, lembranças poucas da família, pais falecidos, um irmão morando no trabalho na zona rural, em Guainazez. Perdeu todos os contatos com alguém que possa denominar de família. Vive por ali, pede para comer, não toma banhos regularmente, veste o que lhe dão e tenta carregar junto de si uma caixa com alguns pertences. Quando perguntado sobre arrumar uma companheira diz: “Na situação em que me encontro arrumar uma nega véia, mais atrapalha que ajuda. E quem vai me querer? E para onde eu vou, meu filho?”. Nas poucas vezes que levanta da calçada segue até o mercado, por sinal um dos mais caros da cidade, para comprar algo para comer, mas logo está de volta no mesmo lugar onde passa o dia quase inteiro. Essa sua vida.
Isso é sério???? Poxa vida!!!!! Filhão, era assim que ele me chamava,parceiro de pescaria e de caça....Quando o encontrava, logo perguntava de meu pai - E o Cascavel como está Filhão?...Longas madrugadas indo ao ponto de "Chapa",nunca teve preguiça de trabalhar.Depois que sai de Bauru, nunca mais soube do Pezão. Hoje fiquei sabendo de sua passagem, espero que Deus te receba FILHÃO...Vá em paz. RIP
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