sábado, 23 de janeiro de 2016

AMIGOS DO PEITO (115)


AMIZADE É COISA MAIS DO QUE SÉRIA – EU ME ENCANTO COM ALGUMAS ATITUDES DESSES MEUS AMIGOS
Como todos por aqui já sabem o Mafuá do HPA foi invadido dias atrás pelas águas barrentas e bostentas do rio Bauru, imediações entre a Disbauto e o CIPs. Muita coisa de grande valia para qualquer escrevinhador, ou seja, seus papéis, coleções e afins foi perdida, colocada na calçada e devidamente recolhida para lugar incerto e não sabido, as recicladoras espalhadas cidade afora. Algumas coisas demorei mais para descartar, pois a dor era imensa na inesperada separação. Achava que algum milagre ainda poderia acontecer e aqueles papéis todos pudessem se desgrudar num passe de mágica e tudo voltar a ser como antes.

Minhas estantes de discos, os tantos LPs juntados ao longo das décadas de minha existência foram quase todos salvos. Ufa! Perdi somente uma única parte da coleção, justamente a dos catalogados como Músicas de Filmes, nacionais e internacionais (uma pequena perta deles, a que estava quase rente ao chão). Dentre eles raridades. Estavam uma maçaroca, colados pelo barro e não me vi em condições de ficar limpando peça por peça. Como sei que um baita amigo, o Carioca lá da banca de livros e LPs da Feira do Rolo tem adoração por algumas das mesmas coisas que eu, ligo e peço para vir ver se algo lhe interessava. Fiquei constrangido em lhe passar algo já considerado como perdido e sei que isso não é verdadeiro papel de amigo, mas vislumbrei que algo poderia ser feito por ele para não perder tudo de vez.

Ele veio, olhou tudo em volta, batemos aquele papo reparador e reconfortante. Por fim, levou o lote e disse que veria o que salvaria. Não refugou em nenhum momento. Estava repassado para alguém a dar, pelo menos um bom destino para parte de minha coleção. Os dias se passaram e na quinta passada o telefone toca e Carioca me convida para ir em sua casa, pois tinha uma surpresa para mim. Disse ter comprado uma coleção de livros das mais interessantes e que precisava me mostrar em primeira mão antes de fazê-lo para qualquer outra pessoa. Fui na sexta, finalzinho do dia.

Quase me mata do coração. Chego lá e logo na sua sala dentro de uma caixa os tais discos todos recuperados, lavados, cheirosos e ali à mostra. Ele me entrega a caixa e diz: “São seus. Limpei, cheire para ver se ficou aquele cheiro de barro. Não podia ficar com eles, recuperei para você”. O que podia fazer a não ser desabar ali, estatelado no chão. Quase chorei e acabamos cervejando nossas vidas ali em sua casa, ao som de nada menos que um velho e inesquecível disco de Elza Soares. Enquanto ela/ele rodava na vitrolinha, Carioca me mostrou o que havia me levado até ali, a tal da coleção de livros de uma famosa editora universitária, algo conseguido por ele praticamente de graça, descartado num lixão. Comprei alguns.

Escolhi um dos meus discos e num de um velho filme mineiro, Cabaret Mineiro, ouvimos a Suíte do Quelemeu, com o mineiro Tavinho Moura, uma dessas safadas e bem humoradas canções, moda de viola bem brasileira, num LP, que segundo ele vale uns R$ 200 reais pela aí. Ouvimos outro, o de um filme norte-americano cuja trilha sonora é inebriante, o Walker, sobre um norte-americano que governou a Nicarágua no século passado. Era verdade, meus discos voltaram para mim e da forma mais inesperada possível, graças ao meu bom e dileto amigo do peito, o Carioca.

Eu não me canso de escrever deles, da forma como agem e me encantam mais e mais. Debilitado emocionalmente nos últimos dias, essa história e a de como recuperei minha máquina fotográfica, devolvida pelo Moisés Moisés Luceli Bastos no portão de casa eu vou repetindo por onde ando. Conto também a do casal lá do Rasi que lavou toda a roupa enlameada da casa dos meus pais, a Silvia Regina e seu marido. Outra, a da mobilização dos tantos amigos reconstituindo a casa do meu pai assim de forma tão rápida. Hoje, uma outra amiga, Tatiana Calmon (que também muito me ajudou) acabou me dizendo que sou repetitivo, pois já contei umas três vezes a mesma coisa para ela. Para não mais incorrer esse risco, deixo de contar de boca, escrevo aqui o causo como se deu e encerro o assunto.

Eu amo alguns desses meus diletos e insubstituíveis amigos.

Um comentário:

  1. comentários via facebook:

    Patricia Karst Caminha Meu bom deus... Que coisa linda! Que história pra lá de bacana!!!!!!!!
    Se perde, se ganha... E assim segue a amizade, que tesouro!
    Fiquei emocionada e feliz com mais esta Henriquessência!

    Tatiana Calmon Amizade é rara, coisa de colecionador. Tem que ser cultivada e preservada. E vamos levando o que é leve e lindo desta vida.

    Reynaldo Grillo Que bom ehn Henrique!

    Fatima Brasilia Faria Feliz por vc, imagino sua cara de felicidade com tudo isso....
    Curtir · Responder · 1 · 21 h

    Rosangela Maria Barrenha Também! Você merece!

    Rosangela Maria Barrenha Vc merece!

    Tatiana Calmon Mas nem.me pagou um sorvete....

    Helena Aquino kkkkkkkkkkkkkk

    Helena Aquino Que lindo gesto do Carioca ....amigo é pra se guardar do lado esquerdo do peito mesmo mano ..... mto lindo .....
    a
    Veraldo Fatinha Muito bom
    Curtir · Responder · 5 h

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