terça-feira, 19 de janeiro de 2016
RETRATOS DE BAURU (182)
NICOLA É O BAIXINHO, CRIATIVO E SEMPRE EM AÇÃO
Para conhecer mesmo uma pessoa você precisa passar uns dias ao lado dela. Hoje conhecemos a maioria das pessoas superficialmente, em breves contatos, nas trombadas da vida e delas extraímos algo e isso serve para emissão de conceitos básicos sobre a mesma. Sabe aquilo do ditado popular, “a primeira impressão é a que fica”? Acertamos na maioria das vezes, outras não. Porém, quando após ocorrer a convivência lado a lado com as pessoas por mais tempo, você tem a oportunidade de notar o algo mais, aquilo que está embutido e vai se revelando sem que ninguém precise dizer nada. O notável só com a convivência. Tenho algo a relatar após uns dias ao lado de um baita de um sujeito.
NICOLA AUGUSTO GONÇALVES, 53 anos é casado com a Sueli Regina há muito tempo e moram no coração do Rasi, bem ao lado da praça central do bairro e do conjunto de aparelhos esportivos ali colocados para utilização comunitária. Pela baixa estatura, seu apelido é claro só podia ser um, Baixinho e ele o incorporou sem traumas, enfim, um grande baixinho. O diferencial deles é notado já pela forma como cuidam daquilo tudo. Viraram uma espécie de guardiões do lugar e se aquela praça é mais cuidada que algumas outras espalhadas por outros bairros isso se deve a pessoas como eles. Compradores de briga na defesa do lugar onde moram e na preservação de direitos básicos, garantia do que lhes é fornecido. Cuidam não só da praça, mas são fiscais contra a dengue, cidadãos na acepção da palavra. Abnegados e persistentes, um casal diferenciado num mundo cada vez mais manada. Nicola trabalhou muito tempo como encarregado de frotas na CGS, aposentou e depois continuou trabalhando em muitos bicos e empregos, como o faz até hoje, mas o seu diferencial é o mesmo da esposa (já retratada meses atrás por aqui), o olhar em prol do social. Estão metidos em variados e múltiplas ações junto a instituições, órgãos públicos e privados, mas todos visando o bem comum. Se doam por completo e dessa forma e jeito tocam suas vidas. Os incansáveis deste mundo pipocam por aqui.
ABRO MAIS UM ESPAÇO NESSE TEXTO: Conto algo mais. Sempre leio sobre a criatividade do brasileiro para ir resolvendo ao seu modo e jeito alguns dos seus problemas diários, o seu imenso poder de, diante do algo a ser feito e na imensa maioria das vezes sem as plenas condições de comprar (ou até podendo, mas querendo eles mesmos fazer suas próprias peças) e fabricado pelas indústrias, acaba ele mesmo produzindo peças para atender suas necessidades. Vejo isso ocorrer em Nicola com tudo. Sua casa é a própria adaptação da vida humana para o possível e dentro de suas possibilidades. Ele é um criador de peças, essas coisinhas que vão resolvendo nossas vidas de forma mais ágil. Conto só uma. Ele mantém há coisa de uns cinco anos nos fundos de seu quintal uma piscina de plástico, dessas de tamanho médio. Foi até trabalhar com um profissional no assunto para entender melhor como agir com uma. Aprendeu e passou a criar os próprios mecanismos de sua manutenção. Com um velho aspirador, adaptou um sugador de sujeiras para retirar a sujeira depositada nos fundos d’água. Motor ligado, tudo passa por um sugador, também adaptado e por um filtro feito por ele mesmo com um resistente pano. E tudo dá tão certo, roda de forma tão magnífica que, impossível não permanecer ali diante de sua criação, adaptação e funcionabilidade sem ficar de queixo caído. Nicola é dessas pessoas que dá um jeito para tudo, resolve tudo não com improvisações, mas com observação e depois a colocação em prática e com o seu entendimento. Poderia ser também chamado de professor Pardal, tal o grau de resolutividade de sua residência. Do espanto inicial, fui aprendendo muito nos dias em que por lá passei, primeiro quando o casal me salvou lavando minhas roupas enlameadas pela implacável enchente (na região do Rasi não faltou água) e depois pela amizade construída com gente tão simples e tão cheia de amor para dar. Precisava retribuir de alguma forma o amor recebido e o faço com esse escrito.
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