terça-feira, 15 de março de 2016
MÚSICA (135)
INQUISIÇÃO E MACARTHISMO DE TOGA, VERSÃO CURITIBANA – POR TOMZÉ E NIRLANDO BEIRÃO (APROXIMAÇÕES DESTE HPA)
Eu adoro trabalhar ouvindo música. Ela me inspira, transpira e também, em certos momentos me faz parar tudo. Daí me vejo contemplando o maravilhamento proporcionado pelo que escuto. Isso se deu hoje ao redescobrir aqui no mafuá um velho CD do TOMZÉ, o “Com defeito de fabricação” e lá essa maravilha, a BURRICE. Cliquem a seguir e o ouçam cantando (https://www.youtube.com/watch?v=F_60QsDy_qw), mas o façam lendo a letra abaixo: “Veja que beleza/ Em diversas cores/ Veja que beleza/ Em vários sabores/A burrice está na mesa/ Veja que beleza!/ Refinada, poliglota/ Anda na esquerda/ Anda na direita / Mas a consagração/ Chegou com o advento/ Da televisão/ Da televisão/ Da televisão/ (Refrão)/ Ensinada nas Escolas/ Universidades e principalmente/ Nas academias de louros e letras/ Ela está presente / Ela está presente/ (DISCURSO POLÍTICO) Senhoras e senhores, / Senhoras e senhores,/ Se neste momento solene não lhes proponho um feriado comemorativo para a sacrossanta glória da burrice nacional, é porque todos os dias, graças a Deus, do Oiapoque ao Chuí dos pampas aos seringais, ela já é gloriosamente festejada, gloriosamente festejada.”.
Mais atual impossível e olha que foi escrita lá pelos idos de 1998. Para quem se interessar mais, eis um texto acadêmico escrito inteiro e tão comente sobre esse disco: http://www.rbec.ect.ufrn.br/data/_uploaded/artigo/N3/RBEC_N3_A2.pdf.
Eu cito a tal música com devida galhardia, bem propícia para escrevinhamentos diversos sobres os dias atuais, seus encontros e desencontros. Junto ele e um texto de um cara que religiosamente (cruz credo) leio toda santa (vade retro) semana. Sim, tenho meus sagrados (virgem nossa) colunistas e escritores, os quais não abandono: Aldir Blanc, Mino Carta, Eric Nepomucemo, Fernando Morais, Luis Fernando Veríssimo e alguns esporádicos. Dentre os fixos esse que cito a seguir, maestro na pena do bem escrevinhar: NIRLANDO BEIRÃO. Ele possui um Caderno só seu na melhor revista semanal brasileira, a Carta Capital, o QI – Guia da Vida Contemporânea. Outro dia reproduzi aqui um texto dele sobre a Eny, a do bordel bauruense. Hoje volto á carga com algo mais contundente e bem no espírito do que ouço na vitrolinha: “CAÇA ÀS BRUXAS – Quando a intolerância triunfa sobre a razão – com o aplauso do público”. O texto na íntegra não está disponível no site na revista e me reservo a reproduzir trechos curtos, primeiro para estimular uma corrida às bancas e depois para tendo Tomzé ao fundo, irem comparando o escrito com as bestialidades jurídicas advindas lá dos tribunais curitibanos, um verdadeiro show carnavalesco a envergonhar o país aos olhos do mundo. Sintam a belezura das comparações:
“As sociedades rudimentares – e aí incluo a nossa, renitentemente escravagista, enfatiotada em privilégios – têm a sanha da punição antes mesmo de saber o que deve ser punido. Somos linchadores em potencial. A mídia gosta. (...) A Inquisição, ou as inquisições, é um desses momentos de deleite popular. (...) A feiticeira e o judeu representam uma forma de inconformismo social. Os pretextos, por exemplo as leis da Igreja, só mascaram a verdade. Para o status quo, bruxas, judeus e vermelhos são todos traidores a serem exemplados. (...) Os togados da Bastilha de Curitiba têm, na história, precedentes em seus prejulgamentos partidarizados e enviesados. (...) A crença do magistrado já estava absolutamente formada. Testemunhas abundavam – assim como as intrigas, as mentiras e as pequenas vinganças pessoais. (...) Criada a legitimização ética da deduragem, o vizinho passa a ser suspeito de manter um pacto com o Tinhoso. (...) se tiver barba, então, e morar em São Bernardo, é o capeta em pessoa. (...) O discurso moralista divide o mundo entre os maus e os bons. As grades, as torturas, o justiçamento e a fogueira purgam, no altar do eterno bode expiatório, a paranoia dos cretinos e dos medrosos. (...) ...a trama inquisitorial não busca a apuração da verdade; a verdade já está presumida. Aquela verdade que interessa aos acusadores. (...) Em nome da Justiça arma-se a cilada traiçoeira da injustiça. (...) O macarthismo foi a prova viva de como pode florescer o espírito andidemocrático no país que sempre quis se fazer passar por campeão da democracia. (...) Joe McCarthy iria virar o símbolo e o sinônimo de uma vergonhosa tragédia polírtico-ideológica, na qual foram cúmplices os norte-americanos assustados com a Guerra Fria e com o discurso do nós aqui versus os traidores lá. (...) O que passou à história como o nome de macarthismo virou a Catarse doentia que faz do medo, intolerância. (...) Sessenta anos após o surto macarthista, a América, carola e sem fibra, busca projetar seu medo em figuras salvacionistas como Donald Trump e os pterodátilos do Tea Party. O Brasil, triste cópia do Império, caça suas bruxas imaginárias em pretenso exercício de purificação ética, abrigados os inquisidores em togas negras à guisa de batinas brancas – mesmo que todos saibam, lá no fundo, que as tais bruxas no las hay”.
Estamos a viver sob o signo da perseguição política em forma de patriotismo. No Império dominado pela burrice isso tudo vinga que é uma belezura. Minha saída: navego no meio disso tudo ouvindo Tomzé e lendo Nirlando.
ESSA CARA FEIA Essa boca espumando das ruas hoje não é somente pelos motivos expostos pelo Miguel Rep em sua tira de hoje no Página 12 argentino. Vai muito além e expressa muito bem da intolerância no trato com o semelhante, demonstrado quando as opiniões divergem e indo no clima da não paciência, onde é mais simples explodir que contemporizar. Tentando me conter, estarei dentro de minhas parcas possibilidades fazendo de tudo e mais um pouco para não espumar dessa forma diante de ninguém, nem dos meus mais cruéis detratores. Será que consigo?
HPA - Bauru SP, terça, 9h47, 15de março de 2016.
Apesar de todas as suas pretensões científicas tão alardeadas, o marxismo é cem por cento hostil a toda e qualquer noção de veracidade objetiva. No fundo, o marxismo só se submete a um único critério de veracidade: a vitória política, mesmo se obtida contra o sentido expresso das suas próprias teses. A desinformação não é um instrumento auxiliar do marxismo: é a própria natureza dele.
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ResponderExcluirCARO ANÔNIMO:
ResponderExcluirAdoro sua coragem em não publicar postando seu nome, como sempre o faço em tudo que posto e sim, somente aqui, de forma anônima, permitida e consentida.
Mas quem diz algo sobre marxismo no texto? Onde viu relações com esse tema no post? Vou me abster de comentar pelo simples fato de que, acredito, não deva ter lido e nem entendido direito o que está postado. Uma música para lavar a alma contra as mentiras do momento e depois um belo texto mostrando como o macharthismo é insano, assim como a atual caça às bruxas. A comparação com o tribunal inquisitório de Moro é marxista?
Henrique - direto do mafuá