quarta-feira, 27 de abril de 2016

FRASES DE UM LIVRO LIDO (102)


HOSPITAL, ASSISTO CAPÍTULO DE “VELHO CHICO” E ENXERGO NAS MALDADES DO PERSONAGEM DO FAGUNDES A CARA DA GLOBO

Estou aqui dentro de um quarto de hospital na noite de terça, 26/04 acompanhando meu velho e bom pai, 87 anos. Dou-lhe comida na boca, ele debilitado. Sorri de contentamento e depois dorme o sono dos justos. Vez ou outra acorda e assim do nada, sob efeito dos remédios me diz: “Não dormi um só segundo a noite passada”. Consinto e não discuto. A noite passada era eu quem estava também ao seu lado e o vi dormir quase toda, como perfeito anjo, mas se me diz não ter dormido, quem sou eu para querer discordar. Nem tento. Quem não dorme sou eu. Até quero, estou um caco, mas insisto em algo que vinha adiando já faz um bom tempo. Tinha intenção de assistir ao menos um capítulo dessa nova novela da TV Globo, a “Velho Chico”. Obra grandiosa, da afiada verve do excelente profissional que é o diretor Luiz Fernando de Carvalho, levando o recurso cinematográfico para dentro da sala do telespectador (no meu caso, um quarto de hospital). O sujeito é muito bom, tenho que reconhecer isso, as imagens meio opacas são magistrais vistas da telinha, me sinto assistindo a um filme de cinema fantástico, estilo surreal. E não é isso mesmo o que vejo ali diante dos meus olhos?

E o que vejo me faz refletir. Como será possível a mesma TV Globo, que momentos antes apresentou (e reapresenta toda santa noite) aquele show de horrores que é o seu jornalismo, o Jornal Nacional, cada vez mais usurpando a verdade dos fatos, escamoteando a verdade, tudo para fazer valer a sua mentirosa interpretação dos fatos, uma que venha de encontro aos seus interesses, que não são os do país, poder produzir algo dessa magnitude? E o país engole o ruim e o bom, tudo devidamente embalado poara consumo. Eu não consigo digerir, engasgo e cuspo fora toda vez que me deparo com o Bonner falando. Como consegue logo na sequência jogar na telinha algo tão belo e sutil como essa novela? Vejo ali o quanto alguns poderosos conseguem elevar o tom do seu mando à surrealidade. É o que faz o personagem interpretado brilhantemente pelo Antonio Fagundes, um coronel dos cafundós do Brasil, representando nosso atávico atraso. No fundo, sem tirar nem por, vejo no personagem a própria cara da Rede Globo de Televisão, com sua prepotência, arrogância e rabugice. É o próprio mal na sua mais próxima versão do que de fato acontece quando ela, a Globo tenta modelar o país aos seus interesses e negócios. O que vejo parece a Macondo do Gabriel Garcia Marquez. O tal do coronel, ou seja, a própria TV Globo está no meio de alguns embates com líderes de uma organizada associação popular rural, no caso, esses hoje nas ruas e lutas resistindo ao baú de maldades patrocinado por ela e fazendo força para que continuemos no atraso e no retrocesso.

A TV Globo retrata nessa telenovela a eterna luta do bem contra o mal, ou seja, o mal que ela hoje propicia ao país contrariando o que uma nação inteira de fato necessita. Meu pai dormiu o capítulo inteiro e, dessa forma, me propicia, eu ali sentado num sofá de um quarto de hospital, assistir um capítulo inteiro da trama. Termino a mesma assombrado com o que vejo. Será que a bela metáfora sugerida pelo autor, nessa tão expressiva representação de linguagem cinematográfica não incomoda os mandarins da emissora? É deles que autor trata, não pode ser de outros. Será que eles não se enxergam encarnados ali na trama? Claro que sim, pois de bobos não tem nada. Ninguém me tira da cabeça que, na sutileza do Luiz Fernando de Carvalho uma estocada bem dada, dessas com luva de pelica, com requintes de crueldade, pois fere a própria pele. Em tudo na novela a retratação pura e simples do baú de maldades que a Globo faz com a verdade dos fatos. Isso me fez, logo a seguir, dormir o sono dos justos, com meu pai ali na cama no centro do quarto e eu, deitado de lado, encurvado num pequeno sofá, com os pés para fora, velando pelo sono dele e envolto em meus diletantes pensamentos. Durmo e sonho com a belezura que o Luiz Fernando deve estar fazendo com as perturbadoras e inquietantes ilações com a família Marinho e isso muito me conforta.


UM TRECHO DO CLÁSSICO “HISTÓRIA DA IMPRENSA NO BRASIL”, DO NELSON WERNECK SODRÉ (1911/1999)
Comprei esse livro muito tempo depois do seu lançamento (3ª edição é de 1983), mais exatamente no ano de 2007, no Sebo Literário aqui de Bauru e quando lá estava na companhia de dois diletos amigos, o professor, cartunista e escritor Gilberto Maringoni e do militar reformado e eterno militante de nossas esquerdas Darci Rodrigues. Sempre dou aquela folheada e de partes em partes acredito que já o tenha lido inteiro algumas vezes. Dessa feita mais uma, agora por causa do mestrado em Comunicação. Quero me ater em TRÊS momentos, com citações a ilustrar bem o papel da imprensa brasileiro num todo. Werneck não doura a pílula, vai na veia (não na veia, viu!). Sintam o poder de suas afirmações, com profundo conhecimento de causa, breve histórico do papel e do que é de fato a nossa imprensa, após análise detalhada, estudo minucioso feito durante décadas, depois resultando nesse livro, um verdadeiro clássico sobre o tema:

Da introdução: “A história da imprensa é a própria história do desenvolvimento da sociedade capitalista. (...) Há, ainda, um traço ostensivo, que comprova a estreita ligação entre o desenvolvimento da imprensa e o desenvolvimento da sociedade capitalista, aquele acompanhando a este numa ligação dialética e não simplesmente mecânica. (...) ...a imprensa tem sido governada, em suas operações, pelas regras gerais da ordem capitalista. (...) A grande imprensa capitalista compreendeu, também, que é possível orientar a opinião através do fluxo de notícias. (...) é talvez interessante salientar, por último, que este trabalho pretende também contribuir para a compreensão do óbvio, isto é, de que só existe imprensa livre quando o povo é livre; imprensa independente, em nação independente – e não há nação verdadeiramente independente em que o seu povo não seja livre”.

A Imprensa Burguesa: “É fácil constatar o poder de que dispõem as empresas que lidam com o jornal, a revista, o rádio, a televisão. A época é das grandes corporações que manipulam a opinião, conduzem as preferências, mobilizam os sentimentos. Campanhas gigantescas, preparadas meticulosamente, arrasam reputações, impõem notoriedades, derrubam governos. A concentração, implacavelmente, reduziu as possibilidades de multiplicação de jornais, como das emissoras de rádio e de televisão. (...) No Brasil, desapareceu a pequena imprensa; só a grande existe. Não há novos jornais; o que há, e raramente, é a compra dos já existentes; o que acontece, na normalidade dos casos, nem é compra do jornal, mas de sua opinião. (...) A importância da maioria das empresas jornalísticas deriva do fato de terem sido herdadas: os seus proprietários atuais não teriam também a mínima possibilidade de montá-las hoje, por investimento. Convém examinar de perto, na intimidade, essas singulares empresas, esses colossos de pés de barro”.

A Crise da Imprensa: “O jornal é menos livre quanto maior como empresa. O escândalo da infiltração de capitais estrangeiros em nossa imprensa carece de si mesmo de significação se não for inserido no longo e tortuoso processo de desnacionalização a que estamos sendo submetidos – é simples aspecto da crise da imprensa aqui. E só poderá ser claramente entendido quando situado no amplo quadro em que o imperialismo desenvolve as suas ações – como aspecto parcial e setorial delas, numa fase em que se sente obrigado a complementar o controle indireto da imprensa dos países dependentes com a montagem, neles, de sua própria imprensa”.

Sacaram? E olhem a atualidade, levando em conta que a primeira edição saiu publicada no já distante ano de 1983, portanto, 33 anos atrás.

Um comentário:

  1. COMENTÁRIOS VIA FACEBOOK sobre ter ASSISTIDO CAPÍTULO DE NOVELA TV GLOBO:

    Maria Helena Ferrari A Globo tem competência técnica para fazer a melhor dramaturgia, e faz mesmo. Nesse sentido, está muito distante das realidades que ela só retrata quando quer e quando convém. A canalhice maior é justamente essa. Não assisto mais. Coloquei Netflix e cortei geral até a Net. Vejo a TV Brasil , filmes e seriados. Quando entro em restaurantes e a TV está ligada na Globo, peço que desliguem ou mudem de canal. Caso contrário, saio do local. Você sabe que a audiência que eles têm é contada pelos aparelhos ligados? A maioria sem ninguém assistindo? Bares, lojas e restaurantes, consultórios e repartições públicas - todos plugado na Globo. Aí o Ibope marca lá o pontinho. Não passará.

    Kátia Valérya Idem!!!

    Maria Helena Ferrari Todos plugados, desculpe.

    Ana Maria De Carvalho Guedes Excelente análise, Henrique Perazzi de Aquino. Sem surpresa. Associação perfeita entre o CORONELZÃO FAGUNDES E O CORONELISMO QUE REINA, HÁ DÉCADAS, NA TRADICIONAL FAMÍLIA MARINHO.

    Cleide Portes Pois é....faz tudo conscientemente!!!!

    Vanda Silvia Novelli A primeira parte da novela foi muito melhor com o Rodrigo Santoro encarnando o coronel Afrânio. As filmagens foram soberbas beirando o barroco. Se vc puder assistir, Henrique Perazzi de Aquino, não perca.

    Éder Bolsonário Força Henrique Perazzi de Aquino! Um belo exemplo de dedicação aquele que lhe deu a vida! Que Deus esteja cada dia revigorando e renovando suas forças! Abraço bem apertado!

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