terça-feira, 19 de abril de 2016

MEMÓRIA ORAL (196)


ALGUNS PERSONAGENS DOS ÚLTIMOS TEMPOS*
* A todos os que são silenciados, injustiçados, esquecidos, marginalizados, discriminados...

1.) O COMUNISTA JOSÉ DE OLIVEIRA FEZ HISTÓRIA NA CIDADE COM MUITO TRABALHO SOCIAL
Ligo o rádio na AM Auri-Verde agora no final do dia e seu diretor-chefe, Alexandre Pittoli comenta no Jornal das Seis de sua perplexidade pelo voto coeso dos ditos comunistas baianos ontem na Câmara quando da votação do impeachment. Comunistas ainda assustam alguns, ou melhor, esses que nunca entenderam dos motivos de sempre estarem unidos, coesos emtorno de um ideal de luta e de vida. Na fala de Alexandre pelas ondas do rádio, o tratar militantes como algo fora do compasso, pessoas desenquadradas do momento atual do mundo. Na pior das hipóteses faz parte dos que não entendem nada desse segmento político e ao nutrir receio deles, primeiro demonstram ignorância histórica, depois abominam o diferente, o ser político que sempre lutará embasado por uma bandeira de luta. Conto a história de um velho marujo comunista ainda circulando livremente por esse mundão afora.

JOSÉ DE OLIVEIRA está hoje com 81 anos, ativista sindical e político de renomada tarimba e depois de morar décadas em Bauru, bateu asas e, primeiro foi para Praia Grande, onde por oito anos atuou na colônia de férias do Sindicato de Derivados de Petróleo, a dos frentistas de postos, depois foi para Nova Odessa, onde mora atualmente e atua em várias frentes, dentre elas como voluntário com crianças menores de dez anos. Incansável, rever a história desse comunista nascido em Viçosa, interior de Alagoas e cedo aportando pelo Sudeste do país. Em Bauru, inesquecível suas muitas atuações e dentre elas, os quatro anos no Instituto Municipal de Saúde do Trabalhador, da Prefeitura Municipal e mais de nove como assessor da então vereadora do PC do B Majô Jandreice. Morou por aqui em vários bairros, como o Vista Alegre e por fim, antes de sair da cidade, no jardim Estoril, beirada dos seus trilhos urbanos. É dessas pessoas que não para por nada desse mundo, sempre em atividade, como agora, numa rápida visita à Bauru, revendo amigos, colocando as conversas em dia, mas aproveitando para falar e muito do seu passado. Um histórico militante comunista, desses sem vergonha de ter participado de tantas lutas defendendo a bandeira e um ideal do qual nunca abandonou. Passou como um raio pela cidade e mostrou para os que lhe viram que, bandeiras de luta são para uma vida inteira.

2.) GILBERTO DO COCO DRIBLA A CRISE E MANTÉM RITMO DE VENDAS
Ouvir histórias e parar para conversar é comigo mesmo. Gosto muito. Assunto não me falta quando a empatia pela boa conversa surge e deslancha. Pelas esquinas da vida, conversa é o que não falta e nem sempre a tal da crise está negativamente na ponta da língua das pessoas. Tem quem saiba ir levando a coisa na maciota, dando aquele jeitinho só seu de contornar a danada e continuar por cima da carne seca. Histórias simples, mas cheias de vida, essas assim sempre me encheram os olhos e comigo não tem outro jeito, ouço e já quero passá-las para o papel. Com esse personagem aqui retratado se deu assim e o que proseamos ali na esquina já está relatado aqui abaixo. Leia e vejam se o cabra não é danado, um original desvencilhador de situações ruins.

GILBERTO DO COCO é casado e vende coco na esquina das ruas Primeiro de Agosto com Virgilio Malta. Já é figura por demais conhecida no pedaço, desde que chegou lá do distante Pará, junto com a esposa e uma vontade danada de vencer na vida. Seguindo os passos de algo que faz sucesso na sua região, a água de coco, acertou a mão. Durante um certo tempo, para aumentar a renda, chegou a fazer flâmulas de alguns times, sendo a mais vendida a do nosso glorioso Noroeste. Com os altos e baixos do time, ficou só com o coco e hoje, mesmo com essa tal de crise assustando todo mundo, Gilberto não se encolhe, nem se esconde debaixo da mesa e diz que antes vendia em média uns 100 por dia e hoje estacionou nos 80, o que é uma boa média, segundo ele. Tem a receita para não ter caído mais, diz ter baixado o preço e oferecido mais opções de tamanhos. “Ofereço preço mais barato que a concorrência, daí vendo acima da média e continuo auferindo lucros”, conta enquanto me serve uma água de meros R$ 2 reais num copo pequeno, gelada, do jeito que o calor recomenda. Enquanto outros tantos reclamam, ele deu seu jeito e continua por ali, fazendo e acontecendo, com uma novidade a mais, trocou de carro no último mês. Comedido, centrado, pensando bem nos próximos passos, por fim afirma não poder reclamar da vida.

3.) ZÉ CORRALES ESTEVE À BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS
Muita calma nessa hora, mesmo sendo isso algo meramente impossível nesse momento atual do cenário político atual. Esse aqui retratado hoje é um dos tantos que está a perder a boa. Se chegarem perto de lhe dar um mero toque na canela, pode entender como um sonoro bicudo e a briga estará armada. Os tempos não estão fáceis para ninguém. Para os mais conscientes, os que tentam enxergar o que será feito dessa imensa massa de trabalhadores com o tal do “impitimam” feito de modo enviesado, pior ainda. Sofrem em dose dupla. Nem dormem mais direito. Hoje passo a mão na cabeça dele e o convido para uma cerva gelada logo mais, onde sensatamente, como gostamos de fazer, vamos entender melhor isso tudo que nos rodeia, oprime e massacra. Os tempos são esses, mas a esperança é última que morre.

JOSÉ MARCELO CORRALES é um sujeito dos mais sensatos que conheço, bate nas onze, coringa e polivalente. Devoto de uma santa padroeira, acredita até o último instante que o ser humano vai cair em si e resolver tudo à sua volta da forma mais sensata possível. Sempre pensou e agiu assim, mas está no seu limite. Explico. Primeiro escrevo dele, um sujeito de média estatura, pai de família, motorista na Prefeitura Municipal de Bauru, noroestino de quatro costados e enxergando que as coisas pelas vias políticas caminham melhor à esquerda do que pela via direita. Tempos atrás ajudou o filho a tocar um bar no meio da Feira do Rolo, desses que permanecia aberto muito depois da feira cerrar as portas (sic). De lá, continuou ajudando filho e esposa num trailer defronte a Anhanguera e ali reúne amigos até hoje para o bate papo. Convicto de suas ideias, não abre mão delas e compra até brigas por causa disso. Ontem perdeu a boa e diante de tanta iniquidade num só ajuntamento político, o da Câmara dos Deputados comandada por um político comprovadamente sacripanca e comandando julgamento de uma presidente sem culpa no cartório, explodiu e chegou a dizer ter jogado a toalha. Pura retórica, isso para quem o conhece. Alguns acreditaram e o chamaram na chincha, mas para quem o conhece isso não se faz necessário. O fato é um só, estamos todos de saco um tanto cheio e Zé ousou brincar em voz alta. escreveu o que uma imensa legião está prestes a fazer: botar pra fuder. O fato é um só, ele continua do lado bom do mundo, na luta contra as malversações e crueldades todas, só mais um pouco descrente do ser humano. Zé não é diferente de todos nós, os ainda sensatos, os que sabem que o país pode piorar e muito a partir de segunda feira.

4.) RENATO REP NOBRE FAZ POESIA ATÉ DEBAIXO DO VIADUTO
Passava alguns meses atrás ali pela Nações numa sexta modorrenta quando ao me aproximar do viaduto da Duque de Caxias, eis ali um agrupamento barulhento e a me chamar a atenção. Paro e me encanto, conheço alguns por ali, pouxo conversa e uns deles me chama a atenção. Depois venho a conhecê-lo em outras ocasiões, nas ruas e nas lutas, mas aquele som do mais puro e nobre hip hop, propiciado também naquele inusitado lugar merece mais do que um texto, mas vários, pois é fruto desses tantos que botam o bloco na rua não se importanto, onde, quando e nem dos motivos. Fazem e acontecem. Conheçam um daqueles caras aqui.

RENATO REP NOBRE veio da capital paulista e junto dele trouxe algo já enraizado dentro de si, o amor pelo Hip Hop (em maiúsculas letras). O cara é novo, da safra de 1984, portanto, com apenas e tão somente 32 anos e já tem história e muito quilometro rodado. E não pensa em parar pela aí, muito menos por aqui. Conheceu a Karol Lombardi e vivem maravilhosaqmente juntos, musicando o mundo no entorno deles. No universo desse segmento musical já tem nome estabelecido, conquistado com garra e talento. Seguidor de um lema dos mais provocativos e instigantes, o “poesia para encher a laje”, ele segue sua trilha, fazendo o que gosta. Junto disso tudo está envolvidíssimo na luta contra o Golpe em curso no país e engajado em várias frentes. Comparece, agita, provoca, sugere e mais que tudo, faz. Algo de sua verve: “a bancada da bala/ a gente banca de livros/ arma lá/ arma cá/ lá mata/ cá faz viver”. Tem mais essa: “quando não tinha/ WIFI/ nóis compartilhava livros/ desde antes, muito antes/ o motivo sempre foi romper os/ C R I V O S”. Renato segue sua trilha, ou as muitas trilhas diante de si, sabendo muito bem o que quer, um dos a movimentar lindamente a Casa do Hip Hop Bauru e também como idealizador do Sarau do Viaduto, o da Nações com a Duque, cuja próxima data será dia 24/4.

5.) FOTÓGRAFO CRISTIANO ZANARDI GUARDA ACERVO DO BOM DIA BAURU
Como é bom reencontrar pessoas assim do nada e nos lugares mais inusitados possíveis. Esse aqui perfilado hoje foi assim do nada, eu saindo de supermercado ontem, mais de 22h e ele adentrando. De uma trombada na porta, a necessária parada para os cumprimentos e daí, o início de um bate papo estendendo-se por mais de meia hora. Trata-se de uma pessoa pela qual tinha notícias antigas, coisa de alguns anos atrás e tudo foi atualizado ali, em pé e segurando sacolas de rápidas comprinhas. E ele me diz do que anda fazendo, faço o mesmo. A nós junta-se mais dois, um casal que adentrava o lugar e a conversa rendendo. Adoro conversas que rendem. Essa rendeu até no perfil abaixo escrito.

CRISTIANO ZANARDI é fotógrafo profissional, desses atuantes no ramo do fotojornalismo. Ficou muito conhecido pelos quase oito anos de atuação nas hostes do finado (e saudoso, pois teve áureos tempos) Bom Dia Bauru, um jornal diário que ousou fazer frente ao JC. Atuou lá com dedicação exclusiva, sempre carregando máquinas pesadas penduradas ao pescoço e em situações onde teve sua vida mais do que transformada e ao lado de um belo time de profissionais, hoje cada um circulando pela aí. Quando saiu, já nos estertores, descobriu uma grave doença causada pelo esforço repetitivo, aliado a uma hérnia. Padeceu, mas como não estava mais fotografando diariamente conseguiu se recuperar e hoje está todo pimpão, contente, filho já completando três anos de vida e ele dando aula em três locais diferentes, duas faculdades (uma delas a UNIP, além do Instituto Mix Brasil) e sempre sobre o que sabe mais sabe fazer na vida, Fotografia. Do Bom Dia, como fotos suas saiam diariamente pedia para lhe repassarem dia após dia o arquivo em PDF e hoje, além de um arquivo com mais de 200 mil fotos, possui talvez o único meio de se consultar algo sobre a história desse jornal, pois tudo o mais está perdido em alguma sala paulistana. Em curso um belo projeto para finalizar esse ano, um livro, cujo tema é seu trabalho. Escolheu 20 fotos do período e em cima delas uma longa história. Zanardi continua alegre, conversador, transparecendo sinceridade e simplicidade, tocando sua vida e cheio de boas histórias para contar.

6.) APARECIDO RIBEIRO ESCREVE PARA DESANUVIAR A TENSÃO
Quem foi que disse que a gente só está encontrando desafetos pelas redes sociais? Tudo bem, eles estão desabrochando que é uma belezura, mas felizmente existe o outro lado da moeda. Tenho conhecido muita gente primeiro pelas vias internéticas e só depois pelas vias pessoais, o popular encontrar de olhos. E hoje, diante de alguns banais e contextuais desencontros, relato aqui e agora um encontro mais do que proveitoso. Uma pessoa pela qual, tempos atrás, um observando a forma como o outro escreve e se posiciona, acabamos nos tornando amigos e semana passada veio a possibilidade da trombada pessoal. Pronto, a partir de então, somos também, não somente amigos on line, mas de carne e osso. A empatia, que já ocorria via escritos trocados, agora viceja mais e mais. E tantos outros surgem dessa forma e jeito.

APARECIDO RIBEIRO não é bauruense de nascença, pois veio ao mundo lá pela bandas de Vera Cruz, ali pertinho de Marília, onde completou seus estudos. Nasceu em março de 1953, exatos 63 anos, completados dia 14. Depois passou tempos morando em Duartina, onde conservou a boa caipirice e só algum tempo com o pé bem atolado no barro veio parar em Bauru. Aqui atuou por uma vida quase inteira como funcionário público estadual na SAP (explique isso para nós, Aparecido?). Sorriso largo, franco e aberto ao bom diálogo é dessas pessoas dispostas a debater, desde que o interlocutor possua bons argumentos e não esteja disposto a ficar se esgrimando com fúteis e gratuitos ataques. Já passou dessa fase, ou melhor dela foge. Escreve e muito, contumaz missivista da Tribuna do Leitor desde décadas, sendo uma de suas últimas participações no dia 27/12/2015, antecipando algo hoje institucionalizado, “Golpe, sim!” (http://www.jcnet.com.br/editorias_noticias.php?codigo=241638), do qual extraio um trecho para que melhor conheçam a verve aguçada do versátil e perspicaz escrevinhador: “Comparar o caso Dilma com Collor, é uma piada sem graça, o PT não confiscou a poupança dos brasileiros, isso é furto. As ditas pedaladas não foram privilégio de Dilma, todos os ex governantes a praticaram e ninguém foi punido por isso. As promessas de campanha são iguais, todos prometem, poucos cumprem, e, nestes 500 anos apenas Getúlio, Lula e Dilma cumpriram o que prometeram aos pobres e assalariados, e senão o fizeram mais é porque as conjunturas, o poder paralelo e as forças ocultas não permitiram. (...) O Brasil está sendo passado a limpo no combate à corrupção porque o PT deu autonomia à PF, PGR e nunca interferiu no STF, ao contrário de outros governos que fizeram decretos para facilitar a corrupção, amordaçaram as autoridades investigativas e jogaram a sujeira pra debaixo do tapete. Portanto, o que os adversários estão fazendo é golpe, sim!”. Ele é danado de bom, não?

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