domingo, 26 de junho de 2016

COMENDO PELAS BEIRADAS (21)


O GONÇALEZ NO SEU MELHOR MOMENTO: NOSSA TERRA
Leandro Gonçalez é um raro artista atuando nessa varonil terra bauruense. Cartunista de boa cepa, adora retratar os heróis do quadrinhos de antanho, dos tempos medievais do Thor & Cia. De seu traço estão pela aí trabalhos divinais versando sobre esses temas. Ele viaja no tempo, sempre baseado numa coleção sua de quadrinhos, dessas de babar colecionador. Entende do riscado. Por outro lado, eu que o acompanho quando fazemos juntos o super-herói bauruense, o Guardião, frequento seu ateliê, digo mais desse artista quase completo. Para mim, seu grande trunfo, o que faz melhor é retratar os do povo, os mais simples nas suas atividades, nas suas especialidades, ou seja, no dia a dia. Seus trabalhos feitos com olhos de bom observador e cima das manifestações populares, das ocorrências das ruas, do que ocorre ali na esquina é, dentre tudo o que faz, o que mais me enche de contentamento. É um expert nisso.

Pois bem, o danado acaba de inaugurar algo mais do que único em tempos de crise e de gente contida, esperando o que vai acontecer, para ver o que pode e vai ser feito. O danado do Gonçalez não esperou nada disso, arregaçou as mangas da camisa, como sempre faz e fez, criou praticamente sozinho, com a ajuda de alguns poucos abnegados próximos, uma exposição que essa cidade precisa ver, conhecer e divulgar. Com essa "NOSSA TERRA", um bocadinho disso tudo que escrevo acima. Ele pegou seus novos pincéis (comprados para a ocasião) e produziu em guache e aquarela, técnicas difíceis e com resultados espantosos, tudo o que vinha fermentando dentro de sua agitada cabeça. O resultado está exposto no único lugar onde encontrou espaço para colocá-los à mostra, no corredor que dá acesso ao seu ateliê, ali na rua Bandeirantes, quadra detrás da Câmara Municipal, entre a Azarias Leite e a Gerson França. Na esquina um restaurante, depois um longo corredor. É ali, uma dentista na frente e lá dentro, no fundo, uma janela aberta e nela Gonçalez atuando e vivendo.

Não é a primeira vez que o danado faz exposições ali no corredor. Ele tem gana de fazer, de pintar, desenhar e expor. Ele já conseguiu mostrar seus trabalhos nos mais diferentes lugares na cidade, desde bares aos locais públicos, mas tem algo bem peculiar, não para um só instante de produzir e daí fica meio sem jeito de ficar pedindo espaço a todo instante para esse ou aquele. E diante disso, fez um acordo com os demais ocupantes da galeria onde está instalado seu ateliê e tudo fica exposto regularmente ali, da forma mais simples, singela e honesta possível. Esse o seu jeito, um só dele. Trabalhos reproduzidos em folhas simples e coladas em cartolina ou papel cartão, sem moldura, pois isso encareceria demais os custos. Essa outra de suas imensas virtudes. Um artista que dá muito murro em ponta de faca, mas nada dessas adversidades o impede de continuar produzindo mais e mais. Incansável e necessário.

Ontem, sábado, 25/06, ele abriu sua exposição e deve ter se desdobrado mais um pouco, pois o fez com a devida pompa e garbosidade. Fez ais do que um lançamento público, produziu uma Festa Junina por lá, com direito a quitutes e bebidas típicas. Deve ter fervido de amigos e com isso, abriu a NOSSA TERRA. Pela amostra do que publico aqui, dá para notar o quando ele é do povo, um dos que vivenciando as ruas como seu habitat, retrata como ninguém isso do povão mais simples. Esse toque que dou aqui sobre esse artista é para sensibilizar alhos e bugalhos, ou seja, gente de todas as matizes, para dar uma passada por lá, ver in loco tudo o que saiu da mente e mãos do Gonçalez e está ali exposto. Para entender a diversidade do seu trabalho só mesmo indo ver a coisa de perto. E quem não for, vai ficar sem assunto e sem conhecer algo grandioso.

O convite está feito e com a abertura de ontem, tudo ficará por ali exposto até dia 20 de julho. É tempo suficiente, sem nenhuma possibilidade de desculpa para darmos uma, duas, várias passadas por lá e olharmos com nossos próprios olhos, obras feitas com o que denomino de "sangue, suor e lágrimas". Um sujeito dos mais simples, de pouca conversa, mais calado que falante, observador atento de tudo à sua volta, tentando e conseguindo algo divinal nesses bicudos tempos, o grande feito de viver exclusivamente de sua obra, produzindo arte, pintando e retratando os que lhe pedem trabalhos. Por tudo isso representado por esse original e competente artista, Bauru precisa descobrir o que existe de fato por detrás de tudo o que produz e, para isso, só mesmo indo lá conhecer seu reduto e sua obra. Vamos? O convite está feito. Vá desarmado, sem algo preconcebido na cabeça, sem recalques, sem aquila doença de que tudo deve estar em galerias chiques e cheias de pompa. Desfrute do lugar, do ambiente criado, entenda como ele conseguiu fazer aquilo e nas condições ali existentes e misture tudo com esse nosso país, daí entenderá um bocadinho do que venha a ser esse tal de Gonçalez. Um sujeito pra lá de admirável.

Dica dominical do HPA

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