PRECONCEITO AO SAPO BARBUDO (104)

CADA UM TEM UMA SOLUÇÃO SÓ SUA PARA RESOLVER O PROBLEMA DE CORRUPÇÃO DO PAÍS – AQUI A DO SEU ORLANDO, O DA BANCA DE REVISTAS DO CENTRO DA CIDADE

Almoço com o filho no Max Salada e ele, amante das HQs, me faz acompanhá-lo na Banca do Orlando, a de maior movimento em Bauru, ali na rua Primeiro de Agosto, entre a Rio Branco e Agenor Meira. Seu Orlando, lá está atrás do único balcão de sua famosa banca, cabelos brancos, ar de cansado e aos 76 anos, diz querer passar o ponto para frente. Sabe da história do fechamento da Banca da Duque, a do Cláudio e conta de outras, cujos donos, assim como ele querem passar o negócio adiante. “A coisa já não é como antes, mas essa aqui, felizmente, ganha na somatória de quase todas as demais da cidade”, conta. Cita a do Wal Mart, da Prefeitura e da Rodoviária. Explicita um preço, quer ir viver no sítio comprado tempos atrás e após 40 anos ali na lida, de segunda a segunda, sem direito a férias. Com a dele são quatro em declarado estado de recebimento de propostas. Relata o que lhe acontece. Tentou colocar o filho ali ao seu lado, mas ele não se dá bem com comércio. O neto idem e daí não tem outra alternativa, aguenta mais um tempo, mas não muito. Diz precisar descansar do comércio e querer aproveitar o que lhe resta de vida. Por fim, chega onde todos chegam hoje em dia, se diz cansado da política como é conduzida no país.

A partir daí falamos só de política, o que mais se comenta em lugares como esse. Ele, como a maioria dos brasileiros não está satisfeito com a situação atual do país, a endêmica corrupção tomando conta de tudo. Até meses atrás era um declarado opositor ao Governo de Lula e, depois do de Dilma. As manchetes dos jornais e revistas ali vendidos o influenciaram muito. Hoje está mais cético e a solução para os problemas do país, esperada por ele e não ocorrida com a saída de Dilma, o faz desabafar. Junto seu relato entre aspas em algo mais profundo, campo para uma boa e calorosa discussão:

“Não temos mais solução para a corrupção no país, estamos num beco sem saída. Claro que ela não é só exclusividade do PT e não acabou com a saída deles. Quando olho para a Câmara dos Deputados e para o Senado fico a pensar: aquilo tudo não tem mais jeito. Por mais que tentemos, eles são muito espertos e o melhor que vejo será fechar aquilo tudo. Penso que os militares podiam fazer isso, mas não como da outra vez. Não penso neles estragando a democracia. Podiam destituir todos de uma só vez e marcar novas eleições onde nenhum dos hoje eleitos, nem seus parentes podiam se candidatar. Seria uma renovação total. Os militares só acompanhariam, sem se intrometer com violência, mas impedindo os que estão aí de continuar agindo como o fazem. Todos os que estivessem metidos no meio da corrupção seriam obrigados a devolver tudo e presos sem dó e piedade. E não só lá, também nas Câmaras e nos estados e prefeituras. Com a renovação ocorrendo, os militares estariam de fora, mas alertando sempre com algo assim: ‘Estamos aqui, cuidado com o que vão fazer’. Não vejo outra solução”.

Saio de lá e o filho comenta comigo: “O desespero de certa fatia da população é tão grande e chega ao cúmulo de guardar dentro de si um grau de credibilidade e respeito para com os militares e esses, sabemos não são tão diferentes de tudo o que vemos. Também fazem parte do contexto e agem da mesma forma de tudo o que criticamos. Quer queiramos ou não, em muitos permanece esse discurso do militar salvador, o que é uma falácia perigosa”. A fala do Orlando e o comentário do filho foram ótimos para apimentar a discussão. Percebe-se um desalento nas ruas, instituições, partidos e mesmo pessoas em total descrédito. Na ânsia pela busca de uma solução ocorrem hipóteses como essa, esdruxulas e até inconsequentes, mas a saída que cada um tem diante de tudo. Pelo bem, pelo mal, todos, ou a maioria quer ver o país em outro estágio. E você, qual seria a sua solução hoje para o país?