sexta-feira, 26 de agosto de 2016
O PRIMEIRO A RIR DAS ÚLTIMAS (28)
QUERO ESCREVER DE UM CARA: EDUARDO FRANCISCO, FALECIDO ANTEONTEM
EDUARDO FRANCISCO não é uma pessoa de meias palavras. Funcionário público graduado atuou mais incisivamente num cargo de maior visibilidade na administração do ex-prefeito Nilson Costa. O tempo ali passado lhe dava até hoje tremendas dores de cabeça, pois já havia até sido condenado pela Justiça, supostas irregularidades na aquisição de produtos, como feijão e vinha protelando desde certo tempo a consumação do motivador dos seus tormentos. Tinha uma longa explicação para o ocorrido, cheio de maus entendidos. Vivia entre a cruz e a espada, mas não entregava os pontos. Grandalhão, muito inteligente, leitor desses de devorar tudo o que encontra pela frente, estava sempre muito antenado com os últimos acontecimentos. Um gigante no tamanho, bravo, bom de briga e desses que não fugia do pau. Enfrentava todos seus algozes de peito aberto.
Isso o marcou profundamente no fim da vida, calou fundo. Nem por isso fugia das ruas. Da última vez que o vi, na loja de rações do amigo em comum, o Lúcio, ali na Baixada do Silvino (ótimo ponto de encontro), como não privo de sua amizade, fiquei na minha, quieto. Ele se aproximou e puxou conversa. Somos amigos internéticos. Citou alguns de meus textos já lidos por ele e disse produzirmos a luta de forma errada, essa contra o impedimento de Dilma e o massacre de Lula. Faz uma citação de um amigo em comum, Silvio Selva e falando sério, diante desse aumento expressivo do tacanho conservadorismo, os tais verde-amarelos que ainda pululavam nas ruas (hoje não mais): “Silvão age errado se propondo a rachar a cabeça com um taco de beisebol, sempre na bolsa, de quem vier lhe encher o saco nas ruas. Vai pegar um só, muito pouco para o que precisa ser feito. Ele precisaria conhecer a técnica das tachinhas e pregos numa bomba que faria um serviço amplo, geral e muito mais ampliado”. Rimos e depois contei a história para o Silvio. Mais risos.
Nesse mesmo dia lá na loja do Lúcio, ele me pede para acompanha-lo até seu carro e ao abrir o porta-malas, vejo por ali muitos livros. Pede para escolher três. Tinha títulos para todos os gostos. Demorei, mas o fiz. Quando terminei, pega outro e diz que esse era para levar pro Silvio Selva, seu velho colega de trabalho na Prefeitura, alguém que admirava à distância. Era sobre iluminação teatral. “Vai ser muito mais útil nas mãos dele, pois ele agora pegou gosto por isso lá no teatro. Os seus também, cansei de guardar livros”, disse. Dias depois encontro o Silvio e entrego o mimo. Não me lembro de sua resposta, mas daquele largo sorriso aberto quando revelo o autor do presente.
Ainda daquele dia, ele me faz saber que estudou junto de minha irmã, Helena, lá no Moraes Pacheco. Conta coisas de sua época de juventude e de como foi pegando gosto pela leitura e pelos pensadores mais à esquerda. Não era dia para eu falar nada, pois ele, pelo visto queria desabafar, falar, botar algo para fora. Falou pelos cotovelos e eu que, havia ido na pressa buscar ração para o cão e acreditando voltaria no máximo nuns quinze minutos para o mafuá, fiquei lá bem quase umas duas horas. Lúcio queria fechar a loja, era um sábado, próximo horário almoço e nós ali, ainda consumindo suas cervejas. Ele num certo momento me disse que muitos cortavam volta dele, mas ele não estava mais nem aí com isso, pois tinha a consciência tranquila. Descreveu como era seu trabalho nos tempos da Prefeitura, o que fazia e o que não fazia. Por fim, não sei se ele queria que eu escrevesse algo sobre aquilo tudo, algo que não o fiz e nem o farei, mas deixou claro manter consigo uma pá de documentos, muitos não considerados pela Justiça quando de seu julgamento. Sua mágoa residia também no fato de estar afastado do trabalho. Acho que continuava recebendo o soldo, mas não podia exercer suas funções. Queria continuar sendo útil e não conseguia.
Enfim, ontem ao tomar conhecimento de sua morte, pelo mesmo motivo a levar quase todos à nossa volta (nossa hora está chegando), um enfarte, desses sempre agravados pelos tantos problemas acumulados dentro do corpo humano, tensões e distensões, acredito não ter entendido o recado dado por ele a mim quando daquele encontro. Ele queria prosear mais, botar mais coisas para fora e depois, uma pena, não nos vimos mais. O corpo humano resiste cada vez menos a essas tensões dantescas a que somos submetidos e deixamos de existir assim num “pluft”. Melhor assim, Eduardão já sofria em silêncio com muita coisa e não suportaria permanecer confinado em camas pela aí. Sua história devia ter um algo mais ainda não conhecido naquilo tudo onde esteve envolvido e se agora ele se foi, acho mais pertinente tudo ir-se com ele e não revirar mais nada.
O que fica do grandão são alguns dos seus últimos posts lá no seu facebook. Por ali já dá para ter uma noção de quem era e como agia. Se tinha que te falar algo, não perdia a oportunidade e tascava na cara logo no primeiro encontro, pois não tinha mais nada a perder. Tinha feito uma bela caminhada e depois, quando obrigado a retroceder, perdeu muito da paciência e, mesmo brincalhão e jocoso, o pavio curto era também outra forte característica. Não o julgo por tudo aquilo onde se meteu e nem tenho esse direito. Quero mais é continuar me lembrando daquele gigante cheio de uma ótima conversa, bate papo para mais de metro e no frigir dos ovos, empreendendo a boa luta contra esse grande mal nos comendo pouco a pouco, dilacerando nosso ímpeto de lutar e até de viver. Naquele dia ainda me disse no meio da conversa que o “mundo está só piorando, cada vez mais. Cada um que pode lutar se unindo acabam brigando, ocorre o contrário, com um distanciamento crescente uns dos outros”. Isso mesmo, Eduardo sacou isso. A direita unida e se fortalecendo e a dita esquerda cada vez brigando entre si e se fragilizando. Esse é mais um onde a conversa fluía de forma gostosa numa mesa qualquer e com sua ida, um a menos para encaraminholar nossas mentes com provocações tão necessárias. PS Final: Essa tira do Miguel Rep publicada ontem no diário argentino Página 12 é bem a cara da luta empreendida por, ainda uma pá de gente. Insiro Eduardo nesse rol, ao seu modo e jeito.
COMENTÁRIOS VIA FACEBOOK:
ResponderExcluirSilvio Selva Grande em todos os sentidos. Devorei o livro que aliás, está ao meu lado. Posto a foto e seu autógrafo. Chegamos a conversar sobre o taco e rimos demais com isso. Esta semana foi meio pesada. E a lembrança de nossos papos desde os anos do carro biblioteca, ajudou a torna-la mais leve.
Helena Aquino Puxa que lindo isso que você escreveu do Eduardão mano. Inteligente, irreverente, brincalhão mas tbém sarcástico. Já discuti muito com ele que éramos jovens e ele nem ligava, saia rindo e erguendo os ombros. Uma figura que se foi. Fique em paz amigo.
Sonia Scaquetti Muito bacana! Um cara inquieto, e só isso já era um valor e tanto. Siga em paz Eduardo, e que bom que na adolescência mesmo acertamos as nossas diferenças. Eram brigas seguidas de escusas. Excelente. 😗
Dalva Aleixo Eduardo foi ponta firme do Diretório Acadêmico "Di Cavalcanti", na minha gestão como presidente. Fazia Comunicação Visual. Era de verdade muito inteligente e como tal, sarcástico. Há uns dias ligou-me propondo uma conversa. Pena que no meu isolamento, adiei. Ele podia não concordar com o que fazíamos, mas estava sempre ao nosso lado. Bem típico do Eduardo, a contradição e a lealdade aos amigos. Sinto muito pelo amigão que perdi! Acho que o Eduardo Francisco esteve na sua diretoria do DADICA também. Ulysses Telles Guariba, por favor, avise a Denise sobre a morte do Eduardo. Marcos De Souza Lima, eu não soube a tempo de ir ao velório. Artemio Caetano, o Eduardão se foi.
Carlos Alberto Couvre ·
Pra nós, era o Duardão, sem o "E", pois era muito grande seu caráter. Quem melhor o definiu, foi o nosso professo,r o Fernando Barros, ele era um cara que tinha uns cem livros numerados. O problema é que não conseguia colocar em ordem. Hoje eu digo, pr...Ver mais
Dalva Aleixo Sente o mesmo que eu, Carlos! Às vezes os amigos nos pedem tão pouco e nós, sem querer, negamos.
Henrique Perazzi de Aquino O Carlos Eduardo Couvre lembra algo que o Eduardo também disse a mim e ao Lúcio, o da Casa de Rações, sobre esse plano mirabolante para ser bem sucedido nos negócios. Vou ver com o Lúcio se ele captou a coisa, pois eu não pesquei nada. Mas ele parece estava convicto disso, alguma ideia desenvolvida por ele e que poderia revolucionar nossas contas e vidas. Será que deixou algo escrito sobre isso? Um jeito de vencer e driblar os esquemas capitalistas...
Janice Pinheiro · 5 amigos em comum
Pois olhando essa foto acho que foi Eduardão mesmo o autor da única lembrança "traumatizante" que tenho de um colega, lá na Cantina dos Celulari , no Moraes Pacheco hahahahahaha
Carlos Alberto Couvre · 3 amigos em comum
bem provável, ele não era de passar incólume, tudo era brilho.... Poxa, que pena que não chegamos a nos encontrar de novo!! Se animem pessoal, vamos marcar um encontro pq a terceira idade se aproxega hahaha
Marisa Tonetti Jacques Vão deixar saudade Eduardo
José Roberto Terrabuio Puxa vida não fiquei sabendo da morte do Eduardo . Tinha amizade com ele, pois estudamos juntos . Ele moravfa atualmente na esquina de rua floresta com a al. primavera . Que ele descanse em paz
Henrique Perazzi de Aquino Sim, bem ali pertinho da Baixada do Silvino onde costumava ir sempre bater papo com o Lucio, na Casa de Rações.