domingo, 30 de outubro de 2016

O QUE FAZER EM BAURU E NAS REDONDEZAS (82)


UMA FOTO E ALGO DE REENCONTROS NA FEIRA EM DIA DE ELEIÇÃO
Duílio Duka, Kyn Junior, Luiz Manaia, Hermann e HPA

Reencontrar pessoas conhecidas na feira é algo a se repetir a cada domingo. Hoje, dia de eleição no 2º Turno paulista, algo mais. Ainda em casa recebo um recado via Bate Papo do Facebook: “Henrique, onde você está, estamos na Feira do Rolo?”. Era um pedido para não me atrasar ainda mais, feito por Duílio Duka e Rosa Zanni. Ele, hoje morando pelas plagas botucatuenses, junto dela, legitimamente nascida naquelas frias terras. Rever Duka é sempre algo de bom agouro. Ele por aqui, festa em torno de um dos seus netos e foi antes rever amigos na feira. Nos encontramos sem marcar hora, lugar ali na Banca do Carioca. Conta as novidades todas, trocou seu Ka vermelho, para comprar material de construção e me mostra as mãos de professor, antes mais finas e hoje, aposentado, mas grossas, trabalhando com marchetaria e agora, como ajudante no levante para construção de uma nova morada. Feliz da vida, ele ri quando pechincho com Carioca e faço fiado para pagar semana que vem, pois vim quase duro, dinheiro mal dando para um suco de laranja (hoje cerveja nem pensar, ressaca brava).

Quem me chama defronte a banca é Fátima Schroeder e se aproxima para um abraço dominical. Pergunto pelo barbudo marido, o Hermann e ele está logo adiante, sorridente e puxando um carrinho de compras. Lembranças de quando estivemos todos juntos no processo que os Octaviani’s moviam contra mim (perderam feio). A conversa que mais flui é sobre a desesperança em tudo, inclusive na Justiça, cada vez mais injusta nos dias atuais: “A menina secundarista paranaense toma a dianteira, fala e faz o que muitos marmanjos deixaram de fazer e esses a criticam”, digo. “Nada de anormal, caro Henrique, a vanguarda que deixou de ser vanguarda há muito tempo não aceita ninguém fazendo o que ela deveria estar fazendo, mas já faz tempo que deixou de fazer. Entendeu?”, me diz. Sim, eu entendi e a contenda continua. Avistamos vindo lá de longe Carlos Ladeira, um que um dia foi considerado um dos melhores vereadores que essa cidade já teve e hoje, encostado num cargo na CDHU tem um dos discursos mais conservadores do momento. “É desses que, mesmo não batendo as ideias íamos bebericar algo pelos bares, hoje nem mais isso é possível, pois ficou bitolado, chato, endireitou até a mente e corta volta da gente, finge que não conhece, deve nos ver como inimigos”, digo. E ele vem, se aproxima da banca de livros, folheia, ele e sua companheira, não conversam com mais ninguém, deve ser chato a convivência com os de pensamento iguais ao dele, apostando fichas hoje nesse cruel neoliberalismo e jé tendo vivenciado outra coisa bem diferente quando militava com outra cabeça.

Ladeira sobe a feira e todos se acomodam na esquina mais famosa da feira, a do Bar da Feira, onde reina o sanfoneiro chopeiro. Kyn Junior se aproxima e percebe a gente comentando sobre Izzo Filho, o ex-prefeito, o único daqui que já foi preso, ter visitado eleitores com o candidato Raul. “Izzo é reconhecido até hoje na periferia, precisa ver ele chegando na Ferradura Mirim, não tem pra mais ninguém, uma admiração que passa de pai para filho”, diz em sua defesa. O encostamos na parede pelas tais “bombas” do passado e ele diz: “Não existiram bombas, aquilo foi no máximo uns morteiros, uns rojões, ampliaram muito e você acha que se fossem bombas sobraria algo?”, pergunta. Rindo lhe digo: “Pudera, colocaram a inexperiência em pessoa para manusear pólvora e saíram traques”. Ele fica vermelho, exalta Izzo e o lembramos do bem que fez à cidade trazendo para cá membros da República da Barra Bonita. Mais risos.

Só mudamos de assunto com a chegada de Ralinho Mania, o baterista cuja mãe mora ali na esquina da frente, ela possuidora das chaves da feira (autoriza a entrada e saída do local). Está com disco novo quase chegando à praça e com show marcado para 14/11 no SESC. Fico sabendo que a foto da capa do CD é de minha autoria e isso muito me orgulha. Foi tirada numa noite lá no teatro divinal da Monsenhor, o Trotótipo. Ralinho é morador ali do pedaço e não sei nem porque começamos a falar dos velhinhos que vivem a vida garbosamente até seus últimos dias. A lembrança que nos veio à mente de um que se foi recentemente é o pai da Paula e da Ma Velozo, um senhor boa pinta, viúvo e até o último momento com umas três senhoras na sua cola, ele garantindo algo a elas com financiamentos variados e levando a vida garbosamente com louvor. Se foi e as deixou, com uma dívida construída para os seus, toda em cima desse jeito malemolente de viver no melhor estilo dos verdadeiros boêmios. Ralinho lembrou até seu nome. E todos querendo intensamente viver do mesmo jeito até mais dos oitenta.


Foi quando se junta ao grupo o jornalista Benedito Requena (escapou da foto). Contamos a história para ele e relembramos também a boníssima história do médico prefeito bauruense que morreu na zona do meretrício, o Luiz Zuiani. “Quer coisa mais alegre e contagiante do que morrer numa festa na zona do meretrício?”, indago a todos. Pergunto sorrateiramente para Requena, um que já vivenciou histórias mil de prefeitos de antanho: “Você conhece algum que aprontou dentro das quatro linhas, ou seja, dentro do gabinete algo parecido com o que o Bill Clinton o fez com a estagiária Mônica Lewinski?”. Vivido e não querendo problemas para seu lado, me diz que sabe de algumas histórias, mas nenhuma assim explícita. E daí, cada um ao seu modo e jeito relembra algo das sacanagens já feitas em nome da saúde pública municipal. Por fim, saco de uma revista comprada fiado ali na Banca do livreiro da feira e lá uma frase resumindo toda essa nossa providencial e jocosa conversa. “É do Gylberto Freire (1900/1987), A maior delícia do brasileiro é conversar safadeza”. Nisso quem passa por ali é Fernando Medeiros, do Sindicato do Bancários e comunica a tudo e todos que algo alvissareiro, pouco provável e surreal, mas bem dentro das possibilidades desses tempos nebulosos acaba de ocorrer pelos lados do Sindicato: "Os que eram contra nós, capitularam e se compuseram novamente conosco, possibilitando termos novamente a maioria e voltando a poder praticar o verdadeiro sindicalismo, o voltado para o trabalhador". E sua mãe, um senhora das mais simpáticas diz que me lê e gosta, quase me derreto ali no quente asfalto.

Ainda falamos das safadezas ocorrendo nesse exato momento, quando o Jornal da Cidade denuncia que uma pesquisa eleitoral foi divulgada como realizada pelo jornal e para favorecer um dos candidatos (Raul), mas não explicita isso na edição de hoje, nem quem a fez, nem como foi utilizada, nada, só diz que está tomando as providências jurídicas. O calor ferve o cororutcho de todos e como já estava perto das 13h, alguns ameaçam uma dispersão, a verdura do carrinho do Hermann já começa a se desmilinguir, Kyn já está ruborizado em tanto defender Izzo, Requena quer espiar o que sobrou de livros lá na banca do amigo livreiro, Ralinho é chamado ao celular numa clara alusão que seu alvará chegou ao fim, Duílio e Rosana são chamados pela carona que chega para os levar para um regabofe, foi quando antes que a dispersão ocorra, deixo uma pergunta no ar para o Kyn e com ela, todos batem em retirada, cada um para um lado, quase sem olhar para trás: “Kym, para encerrar esse convescote nesta grata manhã, me diga com a máxima sinceridade, você acha que os soltadores de morteiro de antanho, os da tais bombas que não eram bombas, já estariam mais preparados e prontos para atuar com conhecimento de causa nos dias de hoje ou continuam todos tão amadores como antes?”.

Sigo meu caminho até o mafuá, coloco na vitrolinha um CD do Lindomar Castilho (Você é doida demais) e depois um de Dóris Monteiro, ambos comprados (fiado) na Feira do Rolo, ligo para a mulher amada, ela me diz onde iremos comer algo e depois votar. Em quem mesmo, hem?

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