sexta-feira, 25 de novembro de 2016
FRASES (149)
PORQUE NÃO MERGULHO DE CABEÇA NO CAPITALISMO – MELHOR FICAR DE FORA DISSO TUDO – QUATRO HISTÓRIAS DO ARCO DA VELHA Reúno umas poucas histórias, todas escabrosas e envolvendo meandros pouco conhecidos do capitalismo bauruense. Daí, ao tomar conhecimento de alguns poucos detalhes, o melhor mesmo é continuar vivendo e tentando flanar diante dessa lama toda, sem grandes penetrações (ui!), uma vez todos aqui estarmos instalados e sem grandes possibilidades de fuga. Pra que vou querer fazer parte disso tudo? Deixem-me viver longe dessas aberrações todas. Vamos às historietas, todas verdadeiras (ou tudo não passa de mero devaneio) e envolvendo algo bauruense:
Primeira: Um negócio das arábias, todos começam assim e os olhos crescem, lotando as burras com muito capital. Esse fez um baita negocião com um cara lá do norte do país (não cito o ramo para não o identificarem), ganharia os tubos, vendeu seu negócio pro cara. No dia marcado o cara veio até Bauru e ele lhe repassou com escritura no cartório tudo em nome do novo dono. Recebeu ali mesmo o valor só que nada depositado em conta e sim em espécie, numa mala. Isso uma sexta, final do expediente e daí, única saída levar tudo para casa. Levou e ao chegar lá, sua casa já estava ocupada, sua família sendo seviciada e os caras ali exigindo mais. O horror estabelecido. Eles queriam muito mais, insistiram. Todos permaneceram alguns dias em poder dos visitantes e toda a grana foi enfim levada, nem chegou a esquentar banco algum na cidade. Do jeito que entrou por uma porta, saiu por outra. Reclamou, tudo foi devidamente investigado e nada foi comprovado. Perdeu o que tinha e ficou a lamber os beiços.
Segunda: Outro muito esperto fazia negócios do arco da velha, alguns pagou (os que não tinha mesmo jeito), outros não e o princípio era um só: muito lucro. Uma vez lá pelos lados do Mato Grosso ludibriou um de forma grandiosa, passou-lhe a perna e ficou com tudo, a parte dele e a do outro, quantia vultuosa. Voltou para cá e tocava sua vida da melhor forma possível. Num outro grande negócio recebeu uns interessados de fora, vieram consultar as possibilidades de comprar um lote do que vendia e quando o negócio estava praticamente fechado, esses lhe entregaram uma pasta de fotos e lá todos os seus, filhos, mulher, escola deles, roteiro completo de toda sua família. Uma escopeta foi colocada na mesa e lhe dito: “Sabe aquela dívida do Mato Grosso, viemos receber e passaremos aqui amanhã. Se nos denunciar, não vai escapar ninguém, você me pega, mas não aos outros. Escolha o que quer fazer, somos matadores profissionais e competentes no que fazemos”. Dia seguinte aquela antiga dívida foi quitada sem maiores consequências.
Terceira: Um mercado de vila, sucesso no local, casa sempre cheia, tinha até redes grandes de mercado interessadas no seu empreendimento. Juntou muito, trabalho suado e com o juntado comprou uma fazenda lá pelas bandas matrogrossenses, com gado. Engordou o rebanho, cada vez maior. Quando estavam no ponto de serem vendidos apareceram os primeiros interessados. Tornaram-se íntimos, próximos, coisa de aproximadamente um mês de acompanhamento, até o momento da compra. Diziam-se de um grande frigorífico, tudo certo, gente com referências, dessas que você põe a mão no fogo: pessoas ilibadas. O negócio foi fechado numa entrada de final de semana e alguns cheques foram ali sacramentados. O primeiro a ser descontado alguns dias depois. No final de semana muitos caminhões foram chegando na fazenda e levaram tudo, como combinado, limpa total. Enfim, vendeu tudo, lucro absoluto. Chegou o dia de descontar o primeiro cheque e daí a surpresa, tudo foi armação. Tudo foi feito para encontrar o paradeiro dos tais donos de frigorífico, mas nada foi conseguido. A perda foi imensa, um recomeçar quase do zero, fazenda sendo entregue na bacia das almas e mais anos e anos de muita labuta para tentar equilibrar o perdido.
Quarta: O negócio de petróleo é altamente lucrativo e esse se dá em uma cidade bem próxima daqui. Uma empresa compra regularmente boa parte da produção de álcool de várias usinas e as repassa para postos variados, espalhados país afora. Um toma lá dá cá dos mais lucrativos, pois nesse país e em todos os onde o capital prevalece, o atravessador é quem sempre ganha mais. Na verdade o grande negócio entre esses, na imensa maioria das vezes foi falar mal de governos mais à esquerda, “os piores ladrões da história do país”. Do seu negócio, tudo dentro da mais absoluta normalidade e o convencional é a compra da produção fechada, se dois mil litros, metade vem com nota, outra sem. E a mesma nota vai rodando tantas vezes se fizer necessário, até passar numa fiscalização e daí outra é emitida. Fazem isso e levam e trazem combustível por essas estradas como se fosse a coisa mais normal desse mundo. O donos dos postos agem da mesma forma, tudo num confiável conluio e dessa forma impostos não são recolhidos e daí, o grande mal desse país, como fazem questão de apregoar é o tal Impostômetro colocado lá defronte a FIESP, cobrando as burras dos pobres capitalistas e não o Sonegômetro, praticado pela imensa maioria dos mesmos ilibados senhores, donos de quase tudo nesse grotão varonil. Uma indigesta festa.
Histórias iguais a essa existem aos borbotões na história dessa e de todas nossas alvissareiras cidades. Nesse meio acontece de tudo, a ponto de um ilibado juiz aposentado certa feita me dizer numa roda: “Aqui em Bauru todas as fortunas foram construídas de uma forma, ou algo de errado ocorreu na trajetória ou foi por ganho na loteria. Só que tem uma coisa, por enquanto, ninguém por aqui ganhou na loteria”. Reparem na última ilustração, a tira da Mafalda e me digam se é ou não mais conveniente abdicar de participação nesse imodesto banquete? Grandes negócios, incomensuráveis preocupações. Vivo das e nas rebarbas.
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