quarta-feira, 7 de dezembro de 2016
DROPS - HISTÓRIA REALMENTE ACONTECIDAS (137)
BOECHAT E A REZA DOS POLÍTICOS PELO POVO BRASILEIRO SER O QUE É Antes ouvia muito mais rádio em seus noticiários políticos. Pioraram e hoje, a imensa maioria das rádios professa uma só linha de pensamento. Já escolheram o lado e dele fazem uma incondicional defesa. Não permitindo mais variedade de opiniões, perderam além da audiência, credibilidade. Um dos que ainda ouço pela manhã é o Ricardo Boechat. Trabalhando com o computador ligado deixo lá na Band News RJ e ele destila seu falatório. Gostar ou não é outra questão. Só pelo fato de estar ali na Bandeirantes já é sinal de ter que se adequar a certos condicionamentos, algo mais do que natural no jornalismo brasileiro, ainda mais no segmento rádio. Gosto de suas tiradas embutidas no meio do ainda permitido. Dia desses ao se ver diante de tanta iniquidade junta, com os políticos fazendo e acontecendo, cada vez mais amalucados e apunhalando o povão em praça pública, ele sacou essa: “Vocês tem que rezar todo dia para o povo brasileiro ser o que é”.
Digo isso e saio às ruas. Na copiadora algo mais do que inusitado. No balcão, um papai Noel enfeitando o balcão de entrada. Lindinho, gordinho, como todos os que conheço, mas com uma vestimenta algo alterada. Tiraram-lhe o fardamento vermelho e ali se apresenta na cor PRATA. Estava ao lado do filho e ele me segurou: “Pai, fique na sua, não questione nada. Vai se aborrecer à toa”. Me aquietei, mas ao ver chegar um comerciante conhecido, começamos um papo e lá na frente lhe digo: “Se viu o que os juízes estão fazendo, ganhando muito mais do que o permitido pela Constituição (salários maiores que o do Presidente da República) e querendo aprovar algo onde serão impolutos e acima da própria lei que legislam”. Ele, incrédulo com minha indignação, veio com essa: “Eles precisam ganhar mais mesmo, pois assim serão incorruptíveis e limparão o país da corrupção”. Engasguei e fui beliscado pelo filho ao me dizer no pé do ouvido: “Não te falei, quieto, vai se aborrecer”. Não o questionei, me concentrei no que fui ali fazer e ainda o ouvi praguejar: “Não devemos mexer com o atual Governo, eles chegaram agora e estão tentando limpara a bagunça”. Sai de lá me faltando ar. Quase precisei ser levado amparado para o carro ali estacionado.
Um vizinho meu trabalha na Prefeitura e diz não mais estar conseguindo conversar sobre política no ambiente de trabalho. Dia desses, me conta, estavam falando sobre aposentadoria e presenciou outro servidor dizendo: “Viu, vão ter que alterar a Previdência. Agora aposentadoria só aos 65 anos. Vão morrer trabalhando. O Lula não podia ter feito isso conosco”. Ele se espantou e lhe disse: “Pera lá, não foi nem Lula, muito menos Dilma quem fez isso, foi o Temer”. A resposta foi de arrepiar: “Cê tá brincando né? É petista? Ainda tem coragem de ficar defendendo o Lula?”. Daí ele me disse aqui no portão de casa: “Seu Henrique, como vou conseguir conversar com alguém pensando e agindo desse jeito. O cara é um pobretão como eu, mas apoia os que lhe apunhalam. Como faço para abrir os olhos desses?”. Não consegui lhe dar uma resposta convincente. Devo ter balbuciado algo e como não fui de grande auxílio, mudamos de assunto.
Ontem, na fila de uma agência bancária escuto a conversa dos que estavam na minha frente: “Essa agência do Banco do Brasil vai fechar e vamos ter que ir mais longe para buscar atendimento. Já não abre mais para saques noturnos, ou seja, o PT piorou o país”. Fiquei quieto, mas quem veio em socorro da verdade dos fatos foi o próprio funcionário do banco, ali organizando os trabalhos: “Não foi bem assim, com Dilma não estava bom, porém tínhamos diálogo, mas quem está nos demitindo é esse atual Governo, o do Temer. Ele sim é o mandante”. O inconformado não se conteve ao ser contrariado e desferiu: “Se você acha que era melhor antes, o melhor é ser mesmo demitido”. Quis esganar o sujeito, um senhor beirando os 70 anos. Fui contido por mim mesmo e lembrei na hora do conselho dado pelo filho, porém, quase vomitei ali na fila e aos pés do tal senhor.
A fala do Boechat é mais ou menos em cima do que está vicejando nas ruas. Uma cegueira absoluta, total e, pelo visto, dominando boa parte do país. Sim, concordo, os políticos brasileiros tem mesmo que rezar de joelhos no genuflexório pela existência do povo brasileiro no seu atual estágio. Daí me pergunto: Tá tudo dominado ou ainda existe uma saída?
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