quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

RELATOS PORTENHOS / LATINOS (33)


A FALA DO RADIALISTA DA AURI VERDE, OS COLOMBIANOS, A CHAPECOENSE E A SOLIDARIEDADE ENTRE LATINOS
O ocorrido com o time inteiro da Chapecoense é mesmo de doer, chorar, lamentar muito e também repudiar, pois teve muito de irresponsabilidade. A causa principal foi falta de combustível e uma empresa andando no fio da navalha. Um dia o fio arrebentou, poderia ter sido com a seleção da Argentina, com o próprio time colombiano que também já viajou com eles ou com qualquer outro, pois eram especialistas em transportar equipes de futebol em voos fretados. Foi com a Chape. Muito já foi dito e lido. Acrescentaria pouco, mesmo em forma de crônica, como li algumas, belíssimas, dolorosas, sentidas. Prefiro ir por outra vertente. Conto abaixo.

Diante de tudo, abro as redes sociais em busca de um algo mais e lá na página do Sensacionalista, algo para se pensar: “Deus adia o apocalipse em um século após ver homenagem de colombianos ao Chapecoense” -http://www.sensacionalista.com.br/…/deus-adia-o-apocalipse…/. Pode parecer brincadeira, mas é a mais pura verdade, estamos todos também derretidos pela sensibilidade colombiana. Nas entrelinhas do que está no título, presenciei algo ontem. Estava no carro final de tarde e sintonizei a indefectível rádio bauruense, a Auri Verde (toc toc toc), onde confabulavam Alexandre Pittoli, o diretor da emissora e hoje seu mais importante comunicador, Rafael Antonio. Pittoli num certo momento fala algo, que não discordo, pois sei ser o conhecimento que a maioria da população brasileira possui dos países latinos. Disse mais ou menos isso: “Sabe aquilo do europeu dizer que a capital do Brasil é Buenos Aires, que convivemos com macacos e cobras circulando livremente em nossas ruas, pois bem esse desconhecimento lá deles é o mesmo que sinto hoje. Confesso, sabia muito pouco da Colômbia além de que lá é a terra das FARCs, do narcotráfico e do Pablo Escobar. Hoje conheci algo mais e me espantei, vi pela TV algo encantador, uma cidade muito bela, tudo no lugar e mais que isso, com o que fizeram ontem a noite lá no estádio onde ocorreria a partida, uma solidariedade que não vejo igual faz muito tempo”.

Tenho desavenças pessoais com o Pittoli, pois o vejo defensor do golpe, golpistas e um anti-esquerdista inveterado, inclusive abrindo espaço na rádio para somente uma linha de pensamento expor suas ideias, principalmente no quesito colunistas fixos. Isso é uma coisa, outra foi seu comentário ontem. Veio tabém com uma pitada de conservadorismo, pois nele embutido algo de que o Brasil está anos luz à frente de todos os demais países latinos, mas foi sincera. Pelo visto, a ficha deu uma caída ontem e deve ter sido ótimo. O fato é que o que os colombianos fizeram lá, com aquele gesto de lotarem o estádio, demonstrando de forma sincera, sofrida, o quanto estavam também combalidos, como todos os brasileiros foi um gesto bem latino. Um gesto latino e até então pouco entendido pelos brasileiros, principalmente os que nos enxergam como os primos ricos do continente. Talvez com isso ele entenda dos motivos de Lula e Dilma terem tratado de igual para igual o Evo Morales lá na questão do gás boliviano, quando ouvi pelas ondas da mesma rádio, que devíamos ter sido duros, implacáveis. Enfim, somos irmãos ou não?

Finalizo com algo sobre essa necessidade de uma melhor compreensão entre nós, seres humanos e vivendo no mesmo continente. O ocorrido com a Chapecoense nos traz de volta para a realidade brasileira. Na noite em que o país estava estarrecido com o ocorrido e as TVs despejavam em nossas casas imagens da tragédia (espero que não intencionais e aliadas aos malfeitores da nação), em Brasília, uma cambada de políticos decretava o endurecimento da vida para toda sua classe trabalhadora. Corda no pescoço pelos próximos vinte anos. Foram cruéis até a medula, insensíveis e insanos. Nada de novo, mas escolheram um dia onde poucos estavam atentos às suas ações. Bateram também desbragadamente no povo diante do Palácio do Planalto, como nunca foi visto nos últimos treze anos. E daí, me volto para o povo de Chapecó e o lá da Colômbia. A fraternidade está hoje mais presente nas ações dos povos latinos, com o Brasil ainda de fora, esse mais duro, querendo mais se parecer com o norte-americano do que com o seu vizinho parede meia. Até quando? Se Pittoli percebeu algo a ponto de tecer os comentários ouvidos, outros tantos devem ter se tocado. Pois que, esse toque sirva para transformar nossas relações para com todos à nossa volta, primeiro com os de classe inferiores à nossa e depois para com todos, indistintamente. A fala dele poderia ser um marco, até para ele mesmo se redirecionar e tantos outros, enfim, todos nós, brasileiros enfurnados nesse ódio que nos divide e nos afunda num atoleiro sem eira e nem beira. Será que esse episódio tão triste, não poderia servir desse algo novo tão necessário para fazer desse país algo bem mais palatável? Torço para que sim.

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