domingo, 1 de janeiro de 2017

DROPS - HISTÓRIAS REALMENTE ACONTECIDAS (138)


DOIS AMIGOS, DUAS SITUAÇÕES PRA LÁ DE PERTURBADORAS NA PASSAGEM DO ANO

SITUAÇÃO E AMIGO 1 – Cláudio Lago e sua esposa Luzia, ele ex-bancário, muito conhecido em Bauru dos tempos em que o Sindicato de sua categoria foi resgatado das mãos de um tal João, que conseguiu levar consigo um clube para uso pessoal, o Bancários. Desde sempre na lida pelas causas sociais. Conseguiu levantar sua morada lá pelos altos da cidade de Bauru, mais precisamente no jardim América, duas quadras abaixo da Nossa Senhora de Fátima e lá reside há mais de vinte anos. Diz conhecer todos seus vizinhos, mas nenhum deles faz nenhuma questão de conhecer uns aos outros. Na região a preferência é pelo isolamento. O máximo que consegue de todos é um mero cumprimento de mão nas trombadas diárias na quadra onde reside. Parar para conversas, nem pensar. Ontem dia 31/12, por volta das 19h30, após a saída de um dos filhos de carro e esse sem esperar que o portão eletrônico baixasse totalmente, três sujeitos travaram o mesmo e adentraram sua residência. Não se importaram com o cão no quintal, diante do casal e com uma arma a todo momento apontada para sua cabeça, encheram em quinze intermináveis minutos três malas com tudo de valor que encontraram pela frente, desde computadores, celulares, roupas, bebidas e, é claro, dinheiro. A perda foi significativa, mas só material. Hoje, um dia após, analisando friamente o ocorrido, ambos estão mais relaxados, tentam entre familiares e amigos não levar tudo tão sério, para não ficarem com traumas e com o que lhes restaram de comida em casa, produziram sua festa junto a demais membros da família que lá estiveram. Luzia tentou ainda argumentar com o menor deles, ela acreditando ser menor de idade e me disse que se o encontrasse pelas ruas logo mais (todos estavam sem capuz) o abordaria e lhe pediria para mudar de procedimento, pois ainda terá um fim trágico. Cláudio relembra dos detalhes deles escolhendo bermudas de seus filhos, jogando as mais velhas, assim como uma sua camisa e um kit do São Paulo Futebol Clube. Saíram ilesos e começam o ano com uma perda significativa de bens, não resignados, nem culpando isso ou aquilo. Ambos sabem muito bem que fatos como esses devem aumentar mais e mais daqui por diante, quando o arroxo e o apertar do cinto econômico se intensificam. São vítimas e lá no fundo sabem que, os três violentos a adentraram sua casa também o são. O mais bonito ao conversar com ambos hoje foi perceber não uma revolta, muito menos resignação, nem clamores por morte aos ladrões, mas a intensificação do entendimento de que, isso tudo só se reverterá quando o país estiver mais justo num todo. Do jeito que está hoje, os sensatos sabem, resta-nos aumentar a tranca em nossas portas.

SITUAÇÃO E AMIGO 2 – João Félix Neto é um pequeno construtor, como seu pai o é e ensinou a profissão ao filho. Hoje, tentava tocar a vida num bar lé perto da vila Dutra, o Lado B. Milita no PT desde que me conheço por gente, ou seja, algo passado de pai para filho, no seu caso, hoje ainda acreditando numa reviravolta da contida militância partidária, renovando, oxigenado e reconstruído o único partido verdadeiramente do trabalhador no país. Mora com a companheira, ela trabalhando em Birigui e retornando para cá todo final de semana. Na véspera do Ano Novo, dia 30, posta nas redes sociais estar alegre e com passagem comprada para embarcar e voltar para casa, onde passaria junto dele a entrada de 2017. Ela simplesmente não chegou e continua desaparecida. O tempo foi passando e a falta de informações o enlouquece. Nada conseguindo de informações foi até Birigui e da empresa de ônibus lhe disseram ser impossível, no caso deles, fazer o controle de quem embarca com as passagens, pois não são identificados. Foi e voltou para lá sem conseguir comer nada e está sem dormir direito desde então. Na Emdurb aqui em Bauru, vai conseguir só amanhã ver as imagens gravadas da chegada do ônibus na rodoviária e ali poderá constatar se desembarcou na cidade. Familiares dela estão, como ele, desesperados e sem nenhuma notícia. Ligo e tento prestar solidariedade. Diz ser ela adepta do zap e que a última conexão feita foi por volta das 23h, pouco depois da chegada do ônibus, assim como seus celular desde então permanecer fora do ar. Foi e voltou só hoje na delegacia de polícia de Bauru por três vezes e nenhum sinal, nem uma pista, nada onde possa se basear para tirar alguma pista do que, porventura, possa ter ocorrido. Fez um desabafo dos mais tristes pelas redes sociais, numa intempestiva atitude de desanimo, desespero e até mesmo, desesperança. Pede aos amigos compartilharem seu texto pelas redes e eles já passam de vinte. A notícia está espalhada, mas nada de notícias. Para João Neto, o ano passado ainda não terminou e o novo, bem, o novo não passou de um dia dos mais insanos em sua vida, pois foi todo utilizado para tentar decifrar o que teria acontecido com a mulher amada. Sua vida desde então tem sido um martírio.

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