domingo, 12 de fevereiro de 2017

O QUE FAZER EM BAURU E NAS REDONDEZAS (86)


TERRA DO NUNCA - COMO, AO OLHAR COM OS OLHOS DA FOLKCOMUNICAÇÃO PARA BARRACÃO LÁ NO GASPARINI, VIAJO DENTRO DA SABEDORIA POPULAR

Que o país todo está de pernas para o ar com a chegada desse (des)Governo golpista, disso não existe mais nenhuma dúvida? Trouxeram com eles a insegurança, a canastrice no jeito de tocar as coisas públicas, a bisbilhotice, a malversação declarada e inescrupulosa e também, além do desleixo, uma pitada de “podemos fazer de tudo com eles, pois não existirá reação”. Eles, os golpistas jogam muito com isso e assim tramam maldades dia após dia. De certa forma sabem que, assim como disse Ciro Gomes num evento semana passada onde estive presente, existe um medo diante de tudo à nossa volta sendo destruído: “Nosso povo está é com medo, bem diferente de passividade. Como um cidadão trabalhador, duas horas de ônibus para chegar ao seu emprego, mal remunerado, instabilidade total, come mal, duas horas a mais para voltar para casa, dorme mal, mulher reclama das contas não pagas, como vai reagir? Ele nem imagina como fazê-lo, pois suas necessidades imediatas o consomem”.

A reação se dá de variadas formas e jeitos. Constato uma, fonte de meus estudos mestradinos, com a leitura das teorias de folkcomunicação. Isso é o passo adiante do que entendemos por folclore, pois analisa um algo mais. Entenda isso lendo essa definição: “Dedica-se ao estudo dos agentes e dos meios populares de informação de fatos e expressão de ideias. (...) Se o folclore compreende formas grupais de manifestação cultural protagonizadas pelas classes subalternas, a Folkcomunicação caracteriza-se pela utilização de estratégias de difusão simbólica capazes de expressar em linguagem popular mensagens previamente veiculadas pela indústria cultural.”.

“Cada vez mais, as culturas regionais e locais vêm se posicionando no contexto globalizado, suas manifestações passam por uma ‘atualização’, e também criam modelos próprios para inseri-los na arena digital. Alia-se a isso a existência hoje de uma consciência da importância da cultura local como fator de desenvolvimento e consolidação das diferenças entre grupos e de sua protagonização na cultura global”, diz um renomado autor. Ou seja, as mensagens criptografas pelos variados e múltiplos agentes locais estão por todos os lugares. É a forma como se comunicam com o mundo externo, já que não dispõe de meios para estarem atuando dentro dos meios convencionais de mídia. Criaram os seus, como o muro da Faneco com suas mensagens, os papéis colados nos postes com dicas do que rola nos bairros, o cartaz fincado no buraco com a chacota pelo descaso do poder público e por aí adiante.

Cito um caso para ver como, de uns tempos para cá, tudo me interessa. Por onde circule recolho essas manifestações e ao fazê-la, incremento meus estudos e isso me instiga em mais e mais: ser um observador de como em tudo o que o povo mais simples faz, dificilmente lá não está cifrado uma mensagem, um toque, uma dica, uma comunicação. Foi o que vi e aqui reproduzo através de fotos num ambiente de lazer funcionando lá no Gasparini, uma casa de jogos de malha, boliche. Localizada na beirada do bairro, também da rodovia Bauru/Araçatuba, um galpão e lá funcionando o tal espaço. Dentro um bar e a pista de malha (sabiam que existem muitos campeões estaduais de malha em Bauru?), gravado do lado de fora em letras grandes e feitas por algum artista local, o nome dado pelos próprios usuários ao lugar: TERRA DO NUNCA.

Assim como na terra de Peter Pan, o suburbano, o periférico, o morador das entranhas de qualquer cidade, cria seus espaços próprios, seus pontos de convergência, onde trocam figurinhas, confabulam e se unem para muitas e muitas coisas. O nome ali gravado, por si só, merece um “estudo de caso”. Diante da perversidade do momento, nada melhor do que um seguro refúgio, num sacrossanto lugar com o nome muito sugestivo de Terra do Nunca. Viajo na maionese com esses nomes saídos na sabedoria popular e ao publicar só esse, peço para que pensem comigo: quantos outros não estão espalhados cidade afora e possuem a mesma conotação? Você já reparou em algum outro? Cite-os aqui e vamos ampliar essa boa discussão. No mais, sigo com o pessoal lá do Gaspa, a Terra do Nunca é mesmo um ótimo lugar para viajarmos nesse instante vivido pela cidade, estado e país. E não nos esqueçamos da Sininho e do seu pó de pirlimpimpim...

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