quarta-feira, 22 de março de 2017

DROPS - HISTÓRIAS REALMENTE ACONTECIDAS (140)


EXISTEM PRESOS POLÍTICOS NO PAÍS? – O CASO DO TRABALHADOR RURAL DIEGO CUMPRINDO PENA EM BAURU*
*Esboço de um texto sendo pensando para publicação em algo de âmbito nacional, necessitando de mais dados e fundamentação.

A criminalização dos movimentos sociais no Brasil não é balela, muito menos conversa para boi dormir. Guilherme Boulos, militante do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) está aí para não nos deixar mentir e só não o enjaularam por causa da repercussão do caso envolvendo sua arbitrária prisão. O blogueiro Eduardo Guimarães, do blog O Cafezinho foi encaminhado por condução coercitiva para que abrisse sua fonte, em mais uma decisão arbitrária do juiz Sergio Moro. Aqui e ali se sucedem prisões, processos e mortes de sindicalistas e gente ligada na defesa dos movimentos sociais.

Se em plena maior cidade brasileira acontece uma arbitrariedade sem fim, imaginem o que se passa nos cafundós do país. Histórias infindáveis de destratos com militantes fazem parte do dia-a-dia de quem está envolvido com as questões da terra e estão aumentando gradativamente após o golpe levando Michel Temer ao poder. A história aqui relatada a seguir não é a primeira e muito menos, infelizmente, deverá ser a última. Mais uma. Escabrosa como todas.

Ainda no imaginário da nação o ocorrido sete anos atrás na pequena cidade de Borebi, interior de São Paulo (30 km de Bauru, 330 de São Paulo), quando tratores derrubaram pés de laranja numa propriedade grilada pela Cutrale, uma das grandes no quesito suco de laranja no país. O trabalhador levou a pior, ou seja, a culpa, mesmo com toda informação sobre o assunto sendo disponibilizada ao longo do tempo. Isto se deve a ação da mídia que, mente descaradamente e oferece ao público consumidor de informação algo distorcido da realidade dos fatos.

Carta Capital publicou na época, escrito por mim, dentre outros, um texto em sua edição virtual, certificando o que vinha a ser a tal de Borebi no contexto dos movimentos sociais organizados e com relatos de um fato ocorrido na festa da eleição que naquele ano, 2010, a que levou Dilma Rousseff para seu primeiro mandato presidencial. Eis o link para reler a matéria: http://mafuadohpa.blogspot.com.br/search….

Quando foi divulgada a notícia da vitória de Dilma, muitos dos componentes do Assentamento Noiva da Colina (lembrando o causo de uma noiva a desfilar no alto de um descampado) vieram comemorar na cidade mais próxima, no caso Borebi. O fato seria corriqueiro se no meio do caminho não estivesse o próprio prefeito da cidade, Antônio Carlos Vaca (hoje em mais um mandato à frente do pequeno município, com pouco mais de três mil habitantes). Saiu de sua casa e de pijama foi discutir com quem fazia festa. Do confronto entre os que se encontravam ao seu lado e os assentados, leva um tapa na cara. Foi o que bastou para se hospitalizar e se dizer agredido de forma violenta.

A agressão virou processo e após longo período de tramitação gerou uma discutível condenação no Fórum de Lençóis Paulista, distante pouco mais de 20km do incidente. Lorana Harumi Sato Prado, advogou para o até bem pouco tempo para o réu, hoje condenado e me informa da pena: quatro anos e oito meses de detenção, iniciada no CDP – Centro de detenção Provisória e hoje já no regime semiaberto, antigo IPA, ambos em Bauru.

Jeferson Diego Gonçalves, o nome desse assentado, mas conhecido por todos simplesmente como DIEGO, trinta e poucos anos, oriundo do Ponta do Paranapanema e desde sempre na luta pela posse de um pedaço de terra. Sua prisão de deu no domingo de Carnaval, 26/3, sendo então encaminhado ao CDP – Centro Detenção Provisória em Bauru, onde foram dificultadas as visitas e contatos. Hoje, já transferido para o regime semiaberto, começa a cumprir sua pena. “Eu vivencio muito bem como se dá atualmente a situação dos assentados em Borebi. Qualquer vestígio de roupa ou o famoso boné vermelho na cabeça é sinal para atenção redobrada. Tudo foi insuflado ao longo dos anos e de algo amistoso, hoje não mais. Dá a entender a existência de um movimento orquestrado, para dificultar a relação com os habitantes da cidade. A gente percebe, pouco a pouco, um por um, todos os que estiveram lá quando da ação dos tais pés de laranja, estão caindo e sendo presos. Existe claramente para com os do movimento, um jeito de não escaparem e os agressores do lado do prefeito, nem sequer foram intimados e ouvidos”, relata uma militante da Ação junto ao MST.

Esses parágrafos iniciais estão ainda sendo formatados para se transformar em mais uma denúncia sobre como se acelerou de uns tempos para cá o processo de CRIMINALIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS. O caso não é sui generis. Mostra como um mero tapa, num confronto de rua, se dado por um dos lados pode ser o gerador de uma ação judicial, sendo que do contrário, pode ficar por isso mesmo. Estou ouvindo as partes, construindo o texto e juntando as partes para dar prosseguimento a uma história começada mais precisamente em 2010 em Borebi e tendo um provável desenlace em Bauru, neste fatídico ano de 2017.

Mais teremos sobre este tema nos próximos dias, mas começar já a desvendar essas histórias, algo mais do que necessário, principalmente para se entender como estão se processando essas cada vez mais difíceis relações entre os vários Brasis existentes dentro desse território continental e prestes a explodir como barril de pólvora em muito pouco tempo. A partir daí, outra boa discussão: quantos declarados presos políticos temos hoje no país?

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