terça-feira, 16 de maio de 2017
INTERVENÇÕES DO SUPER-HERÓI BAURUENSE (102)
BAURU, CAPITAL NACIONAL DA COBRANÇA
“Cada lugarejo possui algo que a identifique e a dignifique. Cada aldeia faz esforço pessoal para ficar marcada e ser lembrada. Ibitinga é a terra do bordado, Jaú do calçado feminino, Franca do calçado masculino, Brotas dos esportes de aventura, Borborema do bichinho de pelúcia, Gália da seda, Marília da bolacha, Dois Córregos da poesia e assim por diante. Bauru é conhecida como a terra de onde saiu Pelé e o astronauta, a do famoso sanduíche, antigamente do voo à vela e sempre muito lembrada pelo Noroeste e pela inenarrável Casa da Eny. Alguns a diziam cidade do Caderno, por causa da Tilibra, outros capital da Terra Branca por causa da terra ruim, outros do Abacaxi, devido imensas plantações (Izzo um deles), mas pegou mesmo o tal do Cidade Sem Limites. Inicialmente utilizado para designar uma cidade sem limites para o progresso, hoje se vale do slogan para afirmar não possuir limites na forma inadequada de alguns dos seus próceres. Mas tem mais, a cada dia, o slogan vai se retransformando como Frankenstein e hoje, possui uma nova característica a dar-lhe outra pujante designação e destinação”, começa sua fala o glorioso Guardião, super-herói bauruense (criação da verve do traço do artista Leandro Gonçalez e com pitacos escrevinhativos do mafuento HPA).
Guardião fundamenta melhor o que quer dizer: “Ontem liguei para um amigo lá no Rio de Janeiro e como todos sabem, a coisa anda hoje pela hora da morte, comércio fechando suas portas, dívidas se acumulando e coisa e tal, tudo fruto desse insano golpe nos costados dos brasileiros, principalmente dos trabalhadores, os que mais sofrem com tudo isso. Ligo três vezes e nada dele atender. Na quarta atende meio ressabiado. Quando me apresento ele respira fundo, percebo daqui e me diz que de uns tempos para cá não atende mais ligações de telefones oriundos de Bauru e do DD 14. Pergunto dos motivos e ele me surpreende com sua resposta ao afirmar que, tendo o 14 no início da ligação quase sempre é proveniente de cobrança. Ou seja, são as tais firmas de telemarkting, a maioria encravadas em solo bauruense. Fazem a cobrança variada e múltipla para o país inteiro, quiçá América Latina”, continua seu relato.
A descoberta pode ser hilária, mas têm vários outros desdobramentos. “Todos sabemos que tais firmas dão emprego e ninguém é contra isso. Salutar quem ainda o tenha e o que restará daqui por diante será, mais e mais, algo deste tipo. Vou mais além, constato a crueldade disto neste momento vivido pelo país. No aperto que todos passam, cobrança é algo do dia-a-dia, faz parte do tempero habitual do café da manhã, almoço, jantar e quando houver também do desjejum. E a cobrança hoje, quer queiram ou não, aceitem ou não, tem uma cara, a de onde é oriunda: Bauru. Daí, o pomposo título de Capital Nacional da Cobrança, algo natural e, pelo que vejo, sem concorrente à altura para tirar-lhe o título, cetro e coroa. Podem me criticar pela descoberta, tecer loas contrárias e mesmo favoráveis, mas ninguém pode ousar dizer não possuir ela aquilo que denominamos de empatia "goma arábica", ou seja, aquela que gruda, cola e para se ver livre, muito trabalho. Colou em Bauru, pegou e lhe cai bem por vários motivos. Tem também a cara desse novo modelo empreendedor capitalista predatório sendo praticado nos últimos tempos (aqui e alhures), muito bem representado aqui pelas ações intempestivas do seu mercado imobiliário”.
E nada mais falou, alçando voo para atender chamado vindo das entranhas bauruenses.
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