sábado, 27 de maio de 2017

PERGUNTAR NÃO OFENDE ou QUE SAUDADE DE ERNESTO VARELA (123)


“CRÔNICA DA DEMOLIÇÃO”, UM VÍDEO MAIS QUE PERTURBADOR – BAURU NA JOGADA


Quem procura acha. Não fico atento ao que rola somente num canal de TV, numa emissora de rádio, num jornal. Quem se prende a somente uma linha de pensamento, acaba repetindo ad eternum coisas impostas e o sujeito deixa de pensar. As ideias ficam cada vez mais lentas. Com o tempo, nem mudar de canal ele mais consegue. Estará definitivamente perdido e dominado. Pois bem, fuçando aqui e ali descobri que está sendo lançado um documentário do diretor Eduardo Ades, o “Crônica da Demolição”. Trata de edificações grandiosas espalhadas país afora e que, por motivos ditos para alavancar esse tal de “progresso” são colocados abaixo. Os motivos da destruição do passado são muitos e vão desde a especulação imobiliária pós ditadura-civil-militar, o poder de destruição do meio de condução/locomoção denominado automóvel e na conjunção disso tudo, algumas edificações passam a ser considerados velhos demais (ou lucrativos de menos) e são descartados da paisagem urbana brasileira.


Bauru tem exemplos grandiosos nesse quesito, como não podia deixar de ser. Enfim, estamos inseridos nesse contexto de que sem o tal do “mercado”, não nos resta outra alternativa de vida. Em Bauru um economista dita isso como regra de vida, repete isso o dia todo, em artigos de jornais e na fala diária numa de nossas rádios. Sem o mercado o caos, prega e repete como mantra. Bestial demais isso, viver submisso a uma lei onde o trabalho está totalmente desprezado e o que vale é investir, auferir lucros, especular e que se dane o resto. Daí, para derrubar edificações antigas é um pulo. Aqui na cidade já colocaram abaixo um modelo de praça, como o da antiga praça Rui Barbosa, tudo para dar lugar a espaço vazios, onde é mais fácil fazer a segurança das pessoas (sic). A nossa Polícia Militar pensa desta forma e jeito. Os ditos progressistas gostam muito de concreto exposto e ar livre, daí, ponha-se abaixo prédios antigos, cheirando a mofo. O Automóvel Clube que se cuide. O Aeroclube vai ser motivo de continuado assédio até conseguirem o intento daquilo tudo estar loteado de prédios e mais prédios, todos arranhando os céus e pondo uma cá de cal no passado.


Volto para o documentário. Sua estreia ocorre num momento em que o Brasil é implodido mais uma vez. O prefeito paulistano derruba paredes tombadas pelo patrimônio histórico, numa edificação com gente dentro, tudo para varrer do mapa os indesejáveis mendigos e drogados, párias humanas no caminho do progresso. Pois bem, não podia ser mais oportuno. Crônica da Demolição desponta ali para demonstrar o quanto existe de bestialidade nas atitudes humanas. Disputa entre poderosos são ininteligíveis. O filme retrata isso, mais uma fria e crua história de poderosos contra poderosos, com um olhar sobre uma peça de renomado valor sendo colocado abaixo no ano de 1976, o Palácio Monroe no Rio de Janeiro. Era majestoso, mas estava no caminho do metrô. Foi impiedosamente derrubado e o metrô não passou debaixo daquela área e nem seria preciso tal atrocidade, mas já está feita.
Aeroclube Bauru: Para especulação imobiliária isso aqui não diz nada...


Bauru vê se aproximando a queda dos seus ainda em pé Palácios Monroe (antiga sede da Câmara dos Deputados e Senado da República). Já citei aqui o Automóvel Clube e o Aero Clube. Quanto tempo resistirão? O que menos vale hoje com esses insanos no poder são o respeito a leis de patrimônio. Passam por cima destas com trator e tudo. Que se cuide a Estação da NOB, a da Cia Paulista, a Panela de Pressão (ainda útil, mas até conseguirem o tal novo Ginásio), o barracão da Cia Paulista defronte a Feira do Rolo (lugar ideal para o hoje proposto Mercadão), pois se tornando obstáculos, virarão pó. Fiquemos com o documentário, podendo ser utilizado como alerta. Eis o trailer do filme:https://vimeo.com/141722942. Ali numa fala isso, sobre o que aconteceu com o Rio de Janeiro: “A cidade passou a ser tratada como um pasto de negócios, de interesses financeiros e interesses políticos”. Vejam esse vídeo de Carlos Nepomucemo descoberto no google: https://www.youtube.com/watch?v=V7T_SP4DJG8.

Existe entre nós, embutida e encravada na própria concepção de vida a que estamos submetidos uma tal de “eugenia predial”. Destrói-se o velho para colocar no lugar o novo, de dúbia serventia. O novo precisa ser levantado e a qualquer custo, pois gera ganhos no momento e isso é o que vale, a roda precisa girar e todos nela ganhar a sua parte, o seu quinhão. Dane-se o resto. Pesquisem mais sobre esse tema no próprio google e ampliemos o debate. E é claro deem seu jeito de assistir o documentário.

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