terça-feira, 27 de junho de 2017

RELATOS PORTENHOS / LATINOS (39)


“NÃO NEGOCIO E NEM ABAIXO O PREÇO, PREFIRO MANTER FECHADO” – A LÓGICA NADA (I)LÓGICA DO CAPITALISMO
Como era gostoso estar nessa banca...

A burrice do negócio capitalista é aquilo do inconcebível do ser humano. Conheço inúmeras situações se repetindo diante dos atônitos olhos de todos e quantos imóveis fechados por tempo indeterminado e pelo simples fato do seu proprietário não aceitar negociar o preço, preferindo mantê-lo com as portas abaixadas a alugado. Conto só uma história para ilustrar bem a situação. Coisa de um ano e pouco atrás, o jornaleiro Cláudio e seu filho Gustavo tocavam uma movimentada banca de jornais lá na Duque de Caxias, entre a Gustavo e a Araújo, um point de muito bate papo. Foram, acredito, mais de dez anos no mesmo lugar. A situação apertou para o segmento de revistas, ele diversificou, tentou inovar, variar e, diante da tal crise, tendo mais duas bancas, uma junto ao Paulistão da Nações e outra na frente do Confiança da Falcão, não viu outra situação, propor uma redução do aluguel ou o inevitável fechar as portas. Foi até o proprietário e esse irredutível, não arredou nem um centavo do preço. Resultado, a banca fechou e o público que ali consumia se diluiu entre as outras duas do Cláudio. Hoje passo lá pela Duque e ainda vejo o imóvel fechado, com a desbotada placa da banca ainda no alto do imóvel, tudo abandonado e em estado de plena desolação. Deixo a pergunta: não teria sido melhor abaixar o preço e mantê-lo alugado até hoje? Que lógica é essa do capitalismo impondo que, o braço não pode ser dobrado e tudo levado até as últimas consequências. O mesmo se dá com muitos imóveis fechados na cidade e em muitos ocorreu também uma tentativa de renegociar o aluguel e nada foi conseguido. Outros tantos, como exemplos vivos das dificuldades permanecem fechados e sem interessados em alugar. Em tempos de crise, de debacle financeira, será que o melhor mesmo é manter o imóvel fechado? Enfim, a linguagem do capitalismo é mesmo essa da intransigência, inflexibilidade e indiferença diante do problema do outro? Como você encara tudo isso?
Obs.: Numa velha foto, algo da então movimentada banca do Cláudio lá na Duque.

A BRIGA NA FEIRA

Foi domingo passado e não identifico nenhum dos protagonistas, mas traço umas breves considerações sobre isso de armar o barraco no meio da rua e no meio de muita gente, as tais provas testemunhais da contenda. Vamos aos fatos. Linha limítrofe entre a Feira do Rolo e a Feira Dominical da Gustavo, domingo passado e por ali uma cena, dessas que acontecem, para os envolvidos, constrangedora. Um casal passeava tranquilamente pela feira, quando surge diante dos olhos uma terceira pessoa, uma enfurecida mulher e diante do casal, passa em primeira instância a agredir o varão com palavrões e na sequência, com socos, alguns de intensidade acima das ditas moderadas. Ele não reage, sendo passivamente socado em alto e bom som. Se o local já era de grande aglomeração, juntou mais ainda, pois curioso nessas horas não faltam, aliás, surgem aos borbotões. Presenciar a desgraça alheia é algo rendendo uma boa conversa pro resto do domingo. O cara era socado e permanecia ali, sem falar nada. O assunto é comentado numa roda de amigos e um declara dos motivos: “Pro homem não adianta fazer nada. A mulher pode agredi-lo de todas as maneiras, verbalmente e fisicamente, mas a partir do momento em que reage e desfere um único soco, pronto, Lei Maria da Penha nos costados”. Será? Depois ficamos sabendo de poucos detalhes lá da briga. O casal era recém formado e a furiosa é a ex, que não aceitando o novo relacionamento, partiu para as vias de fato. E ela pode? Sei lá, deve poder, pois o gajo não reagiu.
Nessa o bicho pegou...

O tema tem história. Lembro-me de uma história a mim contada tempos atrás e acredito que já relatada num texto anterior. O cara saiu com outra e essa foi até a matriz, contou ter recebido a visita do seu marido: “Ele veio até mim e pagou minha conta de água”. Impávida, eis a resposta: “Se espera que arme um barraco com ele, não lhe darei esse prazer. Primeiro se pagou sua conta e foram para a cama, está paga, não tem do que reclamar e se recebeu, pois bem, estão quites. Preço combinado, preço pago. Só lhe digo que aqui em casa ele paga a luz, água, telefone, gás, aluguel, escola das crianças e tudo o mais”. Virou as costas e foi se acertar ao seu jeito, na encolha com o seu cara metade. Pelo que me diz quem me contou a h(e)istória estão juntos até hoje. Relatos como esse existem aos montes e por fim, na tal conversa que tive com amigos sobre a da feira, regada a cerveja e churrasco, minha resposta foi essa: “Nunca aconteceu comigo, mas acredito não saberia como solucionar o imbróglio ali diante de mim e sendo espancado. Não teria outra alternativa, sairia correndo e sumiria dali o mais rápido possível”. Isso é coisa de cagão?
OBS.: A foto é meramente ilustrativa e foi tirada numa contenda em uma micareta, algo de muito maior vulto do que o ocorrido na feira bauruense.

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