sábado, 7 de outubro de 2017

O QUE FAZER EM BAURU E NAS REDONDEZAS (94)


ROTEIRO LADO B DE BAURU
Locais inusitados desta cidade, dita como “sem limites” e também “coração do estado”, pela sua central localização no mapa. Dias atrás me foi solicitado um roteiro do Lado B para prováveis visitantes de um Congresso Acadêmico, ou seja, onde gente vinda de longe poderia querer botar os pés, longe dos agitos costumeiros e roteiros ligados a empredendorismo turístico e regado a passeios por abastados lugares. Cito dez dicas de andanças por outro lado da aldeia bauruense:

1 – FEIRA DO ROLO – Essa feira é algo parecido com tudo o que acontece mundo afora nas denominadas “Mercado das Pulgas”. Um espaço regional, a maior concentração popular ocorrida hoje em Bauru, onde de encontra de tudo, desde peças de decoração variadas, antiguidades, utilidades usadas e roupas. Ver pessoas provando roupas no meio da feira, em improvisadas cabines é só um pequeno detalhe das possibilidades do lugar. Um livreiro, Carioca, reúne uma galera disposta a discutir Cultura na cidade. Imperdível.
Localização: Começo da feira dominical, quadra 3 da rua Gustavo Maciel, confluência com rua Júlio Prestes, diante da antiga estação da Cia Paulista Estrada de Ferro, somente aos domingos e funcionando das 6 às 12h. Um bar, o do Barba, encruzilhada da feira segue adiante com todos que saem da feira e não querem ir para suas casas.

2 – ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DA NOB – Bauru foi o mais importante entroncamento ferroviário do interior brasileiro e daqui saia o famoso trem ligando o país aos Andes, chegando até a Bolívia. O que restou dessa história, a de três ferrovias, a Noroeste, Paulista e Sorocabana pode ser visto nessa estação e ao lado no Museu Ferroviário Regional de Bauru. Local recentemente adquirido pela Prefeitura, encontra-se em fase de pré-ocupação por entidades culturais, com possibilidade de conhecer seu interior e também a composição férrea do projeto Ferrovia para Todos, com uma Maria Fumaça em pleno funcionamento, mas sem poder sair pelos trilhos, pois dizem ser a malha bauruense ainda utilizada (somente para carga). A estação possui uma beleza interior remontando aos anos 30, inagurada por Getúlio Vargas. Localização: na estação da Noroeste do Brasil , praça Machado de Mello, centro da cidade. Museu funciona de terça a sexta, horário comercial e aos sábados até 13h.

3 – LOJAS DO CALÇADÃO E ADJACÊNCIAS COM CARA DO PASSADO – A rua Batista de Carvalho é a principal artéria do centro comercial de Bauru, sendo transformada em Calçadão e nela muitos locais a merecer que o pescoço seja virado para cima, num retorno ao passado. Muitos casarões antigos permeiam suas quadras, alguns restaurados e transformados em lojas comerciais, como o da farmácia Drogasil, esquina com a rua Virgílio Malta. Um lugar imperdível é ir olhar as chitas expostas na beira da calçada na Casa São Jorge, na rua Azarias Leite, a mais antiga em funcionamento na cidade, especializada em tecidos finos e cheios de muitas cores. Vale por ter sido repassada, após falecimento dos proprietários, para seus funcionários que tocam o negócio como os tempos de antanho. As lojas de magazine existem iguais espalhadas país afora e as poucas locais merecem atenção especial, essa uma delas,cheiade charme e encantos.

4 – CASA PONCE PAZ – Uma pioneira casa dos primórdios de Bauru, hoje transformada na Pinacoteca Municipal, abriga obras de arte e boa parte do acervo público de arte. Está localizada no cruzamento das ruas Ezequiel Ramos com Antonio Alves, aberta ao público durante a semana no horário comercial e sempre com novidades no quesito artistas da atualidade, com produção cult e fora dos roteiros da galerias ditas avançadinhas da cidade. Além do interesse pela casa, ainda em fase de restauro, aflorando de suas paredes afrescos pintados pelos primeiros moradores, algo intriga no local. Dizem ser a casa mal assombrada e barulhos estranhos acontecem no seu interior principalmente à noite. Vale pelo clima ameno propiciado por muitas arvores no seu entorno e pelo clima de arte, num dos únicos redutos com essa finalidade numa cidade de pouco menos de 400 mil habitantes.

5 – BARES ANTOLÓGICOS – LA PINGUETA é um bar com decoração toda feita com caixas de mercado e algo inusitado para os frequentadores. Nos intervalos da música ali apresentada, todos podem se servir de uma coleção ode LPs, os velhos e sempre útil vinil, escolher o que lhe aprouver e por pra tocar. Conseguir se encontrar com seu Zé da Viola, sempre sentadinho ali na entrada é a consagração, sendo ele uma instituição na cidade, violeiro pé no chão. O ARMAZÉM é um dos mais antigos da cidade em funcionamento, mais de 30 anos, no centro da cidade e com programação exclusiva de rock, mas do velho e bom rock and roll. Seus proprietários, são do tipo que possuem a cara do negócio, ou seja, envelheceram por ali e são a cara e o focinho do rock. O BAR AEROPORTO é daqueles antigões, localizados em aeroportos dos anos quarenta. O de Bauru ficou intacto e avança no tempo, bem localizado e no verão num dos locais mais agradáveis da cidade, além de fazer o original sanduíche bauru. Nos hangares do Aeroporto, algo para ser visto, todo o madeiramento do teto foi feito por ferroviários, tudo intacto e bem preservado. Nas pontas de vila, um tanto de bares merecedores de bebericagens múltiplas e diversas, inclusive alguns rurais e localizados em distritos, com a cara dos ditos "pé atolados", a marca caipira desta localidade.

6 – ENY’S BAR – Bauru é mundialmente conhecido por muitas coisas, desde Pelé, que aqui começou a jogar bola, pelo astronauta, pela famoso sanduíche também por algo que a sociedade bauruense não gosta muito de lembrar. Era aqui um dos maiores bordéis brasileiros, lembrado até hoje, a famosa Casa da Eny, transformado num livro de Lucius de Mello e para ser imortalizado numa minissérie de TV. Uma chácara nos arredores da cidade, hoje quase vizinho do Alameda Quality Center, tem até hoje um letreiro que pode ser visto da rodovia. Elke Maravilha ali esteve, Vinicius de Moraes adorava o lugar e a alta frequência tornou o bordel conhecido pra muito longe. Visitação só com autorização dos atuais proprietários, mas ver de longe e imaginar o que ocorria isso é mais do que permitido. Foi para uso de uma nata financeira, pelos custos, mesmo que alguns boêmios de pouca grana souberam se divertir por ali driblando os preços altos. Sentar e reviver em conversas isso tudo é altamente empolgante.

7 – CONGLOMERADO NOROESTE E PANELA DE PRESSÃO – O Esporte Clube Noroeste é o time de futebol da cidade, com mais de 100 anos de vida e um estádio todo construído por ferroviários, que lhe dão o nome. No velho conceito de alguns antigos estádios, mantém um clima bucólico, com trilhos servindo de pilastras para sua arquibancada. O Noroeste disputa hoje a 3ª Divisão do Paulista e ali do lado, o ginásio de esportes, conhecido como Panela de Pressão, pelo sufoco preovocado pelo calor em dias quentes. Também construído pelos ferroviários, hoje abriga os times de basquete, campeão nacional 2017 e o de vôlei, na 1ª Liga Nacional. Dando sorte pode ocorrer algum jogo nesses dias ou mesmo treino de algum dos times. São construções antigas, remonatando anos de ouro do esporte bretão. Esse estádio, por exemplo, foi todo construído pela grana advinda da Rede Ferroviária Federal, algo inimaginável nos dias de hoje e tem a cara da ferrovia em tudo. Lugar de imenso saudosismo.

8 – PRAÇA DOS TRAILLERS – Indicar lugares que você encontra em toda cidade não vai representar muita coisa para visitantes. Interessante mesmo é ir ver algo diferente a ocorrer na cidade. Na vila Independência, mais precisamente na praça ao lado da Hípica, bairro distante cinco quilômetros do centro, uma aglomeração de traillers numa praça incendeia o lugar, ou seja, movimenta tudo à sua volta. Tudo começou com a chegada de alguns carrinhos de lanches, depois trailers e hoje os food trucks tomando todo o contorno da praça. Ali se come de tudo, a praça cheira a comida e a ampla movimentação até altas horas garante a segurança do lugar. Quem está em busca de alguma comida rápida e fora dos conhecidos points onde o preço é salgado, essa uma ótima saída.

9 – ASSENTAMENTO CANNÃ E MORADA DA LUA
– Em Bauru esse imenso assentamento de trabalhadores urbanos sem morada e aguardando definição sobre legalização do lugar onde moram é nosso maior conglomerado de pessoas em busca de morada definitiva, demonstrando como se dá de verdade a luta dos movimentos sociais na região. São mais de mil casas, a imensa maioria em madeira e recentemente conseguiram prolongar a estada no local por mais dois anos, ampliando a negociação para conseguirem lugar definitivo. Lá tem pequenas vendas comerciais, local de reuniões, estudos coletivos, mas pouca plantação, pois como se trata de local urbano, existe pouco espaço físico para essa finalidade. Uma possibilidade de conhecer outro lado da cidade, pouco ou quase nada conhecido pelos visitantes. Conversar com seus moradores é de grande utilidade, pois é desta forma que se desmistifica o padrão de que nesses lugares estão tipos perigosos e violentos, também ditos por parcela da população como vagabundos. Conhecendo in loco essa impressão logo se dissipa.

10 – BAR DO MUSEU DO BAIANO – Esse bar funcionou por muitos anos em Bauru e seu dono, o Baiano foi aceitando doações de clientes e amigos, uma imensidão de preciosidades, tudo sendo armazenado no local. Ganhou fama por causa disto e foi até chamado de museu, por causa da inusitada reunião, que vai desde uma casquinha da casa Rosada na Argentina e uma legítima bandeira cubana ou mesmo fotos autorgrafas de Fidel Castro. Para tudo ali existe o devido espaço e o motivo de piada, enquanto funcionou é que podia cair uma bigorna em cima do seu prato enquanto comia. Ele fechou as portas, se aposentou, mas mantém intacto o lugar, hoje utilizado para reuniões, encontros festivos e furdunços dos mais variados. Está localizado nos altos do bairro Geisel, caminho da Unesp e merece ser visitado, além daquele papo prolongado com o organizador de tudo, o Baiano, um já lendária personagem da cena bauruense.

E por fim, um ítem adicional, mas bem dentro do espírito do roteiro sugerido:

11 – COSTUREIRAS TERCEIRIZADAS – Essas dificilmente poderão ser visitadas, mas existem aos borbotões espalhadas por Bauru. Pela cidade muitas grifes de marca e espalhadas pela periferia uma infinidade de costureiras, todas contratadas pelas lojas com grifes. Nas casas simples, máquinas instaladas aos fundos, em pequenas edículas, elas cortam, cozem, costuram e fixam as marcas famosas, tudo terceirizado e na maioria, não legalizadas. Algumas, pelo volume de trabalho, terceirizam a terceirização. Fazem parte de importante contingente humano, especialíssimas no que fazem e ajudando a manter o segmento com emprego regular. Ao visitarem as lojas da Zona Sul, as dos dois shoppings centers, imaginem como são produzidas todas aquelas roupas. Todas essas abnegadas costureiras trabalham em suas casas, com suas máquinas de costura, espalhadas cidade afora e costurando quase vinte e quatro horas do dia.

Foi esse meu roteiro. Faltou algo? Faltou muita coisa, mas dá para se começar a conversar a respeito, não?

OBS.: As fotos estão publicadas na sequência da numeração.

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