domingo, 12 de novembro de 2017

COMENTÁRIO QUALQUER (169)


GIRO À DIREITA
Percebam, a ilustração está  postada à direita.

Nem tudo está perdido e pode surgir um tempo melhor. Será? Sim, mas talvez isso possa demorar muito tempo e daí, penso eu, teria eu todo este tempo para ver novamente este país vicejando por caminhos soberanos...

Penso muito nisto enquanto permaneço ao lado de minha sogra, Darcy Soliva da Costa, num quarto da Beneficência Portuguesa na capital paulista. Desde quinta por aqui, leio muito, converso mais ainda e quando me sobra um tempinho, escrevo, como neste dominical texto.

Por que deste giro à direita? O que seria isto? Na minha concepção trata-se de uma descarada, despudorada e desavergonhada concentração de riqueza por uns poucos, com o consequente aumento da pobreza, essa para a maioria da população. Este o atual ciclo político de muitos dos governos na América Latina. Denomino a isso como GIRO À DIREITA. Analiso levando em consideração o que observo dos atuais governos de Brasil e da Argentina, irmãos siameses na desenfreada crueldade, capitaneados por dois insanos representantes de um neoliberalismo doentio, tendo o rentismo como mola mestra, fazendo uso da concentração de renda como ingresso de poder econômico e este manuseado na manutenção dos seus privilégios. Este avanço de governos de direita em alguns países da região é a expressão predominante dessa reação conservadora.

No início do milênio havia na região 225 milhões de pobres (44%) com quase 100 milhões de indigentes (19,3%). Esta cifra havia caído a 29% e 12%, respectivamente, o que implica ao menos 50 milhões de pessoas saindo da linha do pobreza e 25 milhões da indigência. Hoje, essas cifras voltaram a se elevar, mais e mais. Sobe o número de pobres e indigentes. O capitalismo não cuida destes, ou melhor, não se importa a contento com estes. A vertente neoliberal é ainda mais cruel. Não está nem aí se sofrem, se comem ou mesmo se vivem. Os avanços impulsionados por vertentes sob o comando de Lula e Cristina Kirchner foram descartados, jogados na lata do lixo. Nenhum destes foi perfeito (onde reside mesmo a perfeição, hem?), mas impossível não notar a diferença do que fizeram pelos trabalhadores, assalariados e menos favorecidos e o abandono disto hoje. Tudo piorou e deve piorar mais.

As cifras de qualquer pesquisa séria pode constatar isso. A perda do poder aquisitivo das camadas populares, nela incluindo a dita classe média é latente. Em breve, nem mais existirá uma classe média, tal o nivelamento por baixo proposto pelos atuais governos neoliberais. A pobreza da América Latina hoje tem a cara da mulher, do índio, do negro, do homem do campo, do trabalhador sendo levado ao desemprego e a terceirização da mão de obra. Tudo sendo precarizado, no campo e na cidade, com perspectivas de na permanência do atual sistema uma desigualdade que os perseguirá durante todas suas vidas. Para reverter o flagelo da desigualdade, recomenda a Cepal “políticas públicas que garantam a titularidade dos direitos, se deve reconhecer e potencializar o trabalho produtivo e de qualidade como a chave para a igualdade e como instrumento por excelência para construção do bem estar e universalizar a proteção social ao largo de toda uma vida (a infância e a adolescência, a juventude, a idade adulta e a velhice), como olhar sensível para com as diferenças (Cepal, 2017)”.

Inimaginável dentro do capitalismo neoliberal a estreita relação entre o acesso a educação de qualidade, melhora da situação sanitário e da habitação, acesso a tecnologia e outras condições para obtenção de emprego de qualidade, ou seja, com implementação de “políticas ativas”. Para que o Estado possa colocar em pratica políticas ativas é necessário que o gestor (Governo) tenha nítidas intenções neste sentido e conte com fundos para efetuar essa tarefa. Governos favorecendo atividades rentistas, fazem exatamente contrário, pois concentram renda para manutenção de seus privilégios. Esse é o tal “giro á direita”, expressão máxima do conservadorismo reinante como praga, favorecendo essa minoria e, consequentemente, aumentando as diferenças entre os com tudo e a maioria com quase nada.

Exemplos não faltam para comprovar a atividade ilegal dos setores opulentos na tentativa de impedir o avanço dos setores oprimidos da sociedade. A evasão fiscal dessa minoria é um escândalo pouco investigado, permitido para alguns, sob a vista grossa, inclusive do Judiciário, conivente com a situação. Comissões altíssimas para toda e qualquer obra e tudo sendo levado para paraísos fiscais, manobras dolosas das grandes multinacionais em muitos espúrios negócios, tudo com a complacência de parte significativa da opinião pública, numa interligação umbilical com os atuais postulantes destes Governos. Não que isso não existia nos governos anteriores, de Lula e Cristina, mas existia também a sensibilidade social, hoje totalmente abandonada. A economia especulativa, tudo dominado pelas leis de mercado, corporações planificando o destino das vidas humanas, tudo atentando contra o atendimento das necessidades das camadas mais significativas e numerosas. Só pensam em reduzir custos, o que quer dizer, quantidade infindável de gente desempregada e sem salários. Esse é o modo anti-humano de funcionamento da economia de mercado, aquela que Temer e Macri louvam e seguem religiosamente em proveito mais que próprio. Ambos possuem pendengas com a lei, mas os que legislam a lei fingem tudo estar muito bem.
A resistência encontra-se à esquerda.


A violência econômica praticada por esses é uma atividade perfeitamente aceitável. Concentração de riqueza não é mais problema, nem imoralidade, enfim, acumular dinheiro e delitos é plenamente justificável, assim perseguir quem não o faça ou quem tente investigar as malversações dos neoliberais. O dolo, furto, roubo, fraude, apropriação indébita, plágio, deslealdade comercial, extorsão, cartelização, evasão fiscal são moedas correntes e práticas dos grandes conglomerados empresariais. A corrupção tem sua origem nas empresas e leva uma vida nababesca quando irmanada com a política. Tudo são facilitadores de bons negócios.

Enquanto isso, a imensa maioria do povão só pode contar consigo mesmo. Devem mobilizar-se e organizar-se, do contrário estarão cada vez mais num “mato e sem cachorro”. Diante de um país com nítida tendência conservadora mostrando as unhas, garras e dentes, seria necessário uma educação transformadora para reverter isso, mas como algo assim demoraria demais, para aprender a se defender da manipulação patrocinada pelos poderosos só mesmo indo pras ruas e botando pra quebrar. O capitalista neoliberal conservador não vai nunca aprender que, progresso é algo para si e para todos, daí só mesmo quando notar que a maioria tem força irá se vergar. Não existe outra saída, mas as massas ainda não se deram conta disso. Por enquanto, a guinada pra direita continua.

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