segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

CENA BAURUENSE (168)


OLHANDO PARA OS LADOS E TROPEÇANDO EM CALÇADAS...
Eu já havia visto esse enfeitado poste outras vezes, mas hoje foi diferente. A cidade estava vazia e parei no sinal, na subida da rua Antonio Alves, duas quadras acima da avenida Rodrigues Alves, bem defronte um chaveiro. Um enfeitado poste, parecendo uma árvore de Natal. Do lado um portão, uma residência e com certeza, ali uma senhorinha, pois isto deve ser obra dela, alguém que gosta pouco da paIsagem à sua volta e a partir daí, resolve dar o seu jeito para embelezar um pouco mais o mundo, a aldeia onde vive.

Circundou o poste defronte sua residência com arames e neles, muito bem amarrados, vasos improvisados em latas coloridas, dessas descartadas de leite em pó ou mesmo de tinta. Em cada uma uma planta, algo regiamente regado e cuidado a pão de ló. Esmero desses que hoje, ao subir para o almoço no primeiro dia do ano, me fez dar marcha a ré no carro e me postando defronte a belezura, sacar algumas fotos e imortalizar a cena. Deu vontade de bater palma e conhecer seu autor, mas recuei e segui meu caminho na vazia cidade neste dia de feriado.

Adoro as pessoas com essa capacidade, a de intervir no cenário de sua aldeia e a partir daí, propor algo novo, um mimo para o lugar onde mora. Antes de acelerar e partir, olhei para a área da dita casa e vejo ali pouco espaço e com isto imagino, alguém cheio de ideias e sem muitas opções dentro do seu mundo. Esse extrapolar e partir para colorir tudo à volta, tornar mais belo é algo para não se perder as esperanças. Mesmo diante de tantas atrocidades e insanidades deste cruel e insano mundo hoje habitado pelos seres humanos, sempre existe uma réstia de esperança, uma proposta alternativa de saída pela tangente.

Os plantadores de flores em calçadas e lugares diversos são uma espécie de passarinhos, que com seus bicos colhem sementes e espalham mundo afora, possibilitando que um pé de tomate nasça num lugar insólito, uma mangueira em outro e assim por diante. Subi a rua pensando em minha mãe, dona Eni Perazzi de Aquino, professora, falecida já quase dez anos e que na rua onde mantenho o mafuá fez algo ali incrustrado até hoje. Plantou árvores do outro lado da rua onde morava, um baita terrenão gramado e sem nenhum padrão. O fez com mudas diferenciadas. O quarteirão se transformou no samba do criolo doido (obra do Stanislaw Ponte Preta), riqueza inenarrável que só quem passa por aqui pode desfrutar. No poste ali defronte o chaveiro a mesma riqueza e proposta. Ou seja, proposta nenhuma, só a vontade de fazer.

Ando notando mais essas particularidades das ruas. Num trajeto de alguns quarteirãos, uma besta missão de ir comprar pão na padaria na esquina, coisa de uns poucos minutos, acaba se tornando para mim um longo trecho, pois de uns tempos para cá, ando parando mais, olhando mais, me interessando mais pelos detalhes das ruas (faço isso para não enlouquecer). Qualquer coisinha me chama a atenção e com isso passo maravilhosamente meu tempo. Hoje tudo ocorreu exatamente desta forma e jeito. Teria que pegar irmã e esposa para almoçar pela aí, mas me atrasei. Botei a culpa nos vasos do poste. Sei lá se acreditaram ou fingiram. O fato, é que desta vez, foi a mais pura verdade.

HPA - Sem ideia para escrever algo neste primeiro dia do ano, isto foi o melhor que consegui. Bom ano para tudo, todas e todos.

O SOM DO HPA - O QUE ROLA NA MINHA VITROLINHA (01/2018)*
* Cada um possui suas manias, cada um coleciona algo, junta coisas. Eu gosto de papéis, livros, revistas e escritos variados. Eles tomam conta do espaço que consigo manter, o Mafuá. Tudo um tanto bagunçado e sempre com promessas mil de organizar tudo, revonadas neste momento. Junto a isto tudo LPs e CDs, principalmente brasileiros, MPB e afins. Não contei, mas são mais de 3000 CDs e uns 500 LPs. Ouço música o dia todo enquanto escrevo, trabalho ou circulo pelo local onde permaneço boa parte do meus dias (eu e meu cão, o Charles, que deitado ao meu lado, barriga para cima, olhos reviorados, parece gostar do que ouço). Volto a postar algo do que vou ouvindo, deste acervo conquistado nem sei bem como, duras penas. Quando diante de pouco dinheiro nos bolsos, entre almoçar e ter um novo CD, passo fome. Eis com quem dou o pontapé inicial das músicas em 2018: "DRUME NEGRITA" - MARINA DE LA RIVA, do cd Marina de La Riva, Marina de La Riva, Som Livre, 2007: https://www.youtube.com/watch?v=CG0JeR44geQ
Tenho uma adoração especial por está música. Para mim, a melhor gravação dela é com João Bosco, acompanhado de João Donato (tem desde Caetano Veloso, Gal Costa a Bola di Nieve e Omara Portuondo), mas essa também é linda, bem lenta, devagar, quase parando e me fazendo dançar sózinho aqui pelo meu espaço (não sei dançar, mas quando só me arrisco). Outro dia procurei para satisfazer uma dúvida de um amigo, o Aldo Wellicham, também devorador de boa música, todas as versões disponíveis no Youtube. Viajamos. Mas para começar o ano, em homenagem a negrita que faz minha cabeça, Ana Bia Andrade, essa versão que me chegou às mãos num lote de CDs adquiridos junto ao Carioca, o da banca na Feira do Rolo, quando de uma rádio fechada no Universidade São Judas SP. Esse precioso CD veio junto e essa voz me arrebata. Gasto a agulha da vitrolinha ouvindo suas latinas canções, ótima para dar o pontapé inicial neste ano.

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