segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

UM LUGAR POR AÍ (103)


A FOTO NA CAPA DO JORNAL É O CENÁRIO NU E CRU DO RIO DE JANEIRO, NESTE CHUVOSO JANEIRO
Vejo o Rio de Janeiro da janela. Estou aqui a serviço (ufa!, que serviço!). Um trampo de doer os ossos. Mal tenho tempo de olhar pelo retrovisor ou pela janelinha. Mas o que vejo e faço questão de gravar são cenas deste Brasil dando murreo em ponta de faca. Leio que por aqui são 15 mil moradores de rua e os vejo por todos os lados, jeitos e maneiras. São muitos e dão o tom, o que me chama a atenção. Na capa do jornalão desta cidade, edição de ontem, aquele golpista até a medula e que me recuso a repetir o nome, uma foto do Marcos de Paula e com o carimbo do que me chama a atenção por esse e todos os lugares.

O cenário é conhecido de todos, o Sambódromo da Marques de Sapucaí ao fundo e numa brecha, um morador de rua, instala o seu habitat. Debaixo do vão da rua, talvez causado pela inclemência das chuvas dos últimos dias (como chove nesta cidade!), o cidadão encontrou o buraco com a exata medida para se instalar e descansar, tirar o tal do "sono dos justos". Juntou o que possui, tudo reunido numa caixa de madeira, umas tábuas enfincadas na frente, para chamar a atenção dos demais e ressaltar, "aqui já tem alguém" e um resto de lona azul, tentando proteger um soslaio de vento e chuva.

Esses são os desvalidos deste mundo insano e cruel onde vivemos. Não existem abrigos suficientes para receber a tanta gente e no desGoverno de Crivella, o capo da Universal, pouco caso com todos esses. A desculpa do prefeito é sempre a mesma e serve para tudo: "é a crise". Com a desculpa pronta, nada faz e ver mais gente pelas ruas do que na última visita é algo também reflexo do que fizeram com o país. E as pessoas desprovidas de tudo vão se instalando como podem e nos lugares onde conseguem se enfiar e tentar ter alguns momentos de quietude, onde necessita estar isolada de tudo e de todos.

o fotógrafo intutulou sua foto de "O Rio no buraco", pois é exatamente onde vive messes, os desprovidos de tudo, disputando espaços entre os iguais, muitas vezes a tapa ou no laço. Eu os vejo por todos os lados, jeitos e maneiras e isso dói. Vendo essa foto me lembrei de algo que li tempos atrás do músico Alceu Valença. Ele é nordestino, de uma pequena cidade, minúscula, no meio do agreste e sempre que voltava para lá era cercado de gente, crianças e adultos e todos vinham em primeiro lugar pedir algo, comida principalmente. Veio o Governo Lula, Alceu continuou voltando para sua terra e disse numa entrevista: "O pessoal de minha terra continua me cercando, mas agora não mais para me pedir comida ou dinheiro, pois o básico conseguiram. Eu sou o filho famoso da terra e canto para eles".

Vendo a foto sei que a pobreza ainda não aumentou, irá aumentar e muito nos próximos passos dados. A concentração de renda foi acelerada e a crueldade sendo incentivada, miserabilidade exposta como chaga pelas ruas. Se no Rio são 15 mil largados, quantos seriam em Bauru? Tanto aqui aqui, como aí, muito mais evidente e latente o aumento do povo das e nas ruas. A tristeza se acentua quando você olha para eles e não vê nenhuma esperança da situação se alterar, pois desde que Temer & Cia adentraram o campo de jogo, a insensibilidade para com os com poucos recursos só tem aumentado. E a fato é dessas para dar depressão em quem ainda vive com os olhos voltados para o social. Como ser feliz diante disto? Dessa vez eu vim pra cá para trabalhar, mas também penso em ter algum ócio, aproveitar alguma rebarba, mas o que encontro por todo lado é isso e a angústia toma conta de meus atos. Grande possibilidade de aumentar o estado depressivo. Eu sei, com a publicação da foto no jornal vão até lá para tirá-lo do lugar, mas nada oferecem para esses todos. Sonho com a cena.

HPA

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