segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

BEIRA DE ESTRADA (90)


BOUQUINISTES NA BEIRADA DO RIO SENA
Quem gosta de livros, leituras variadas e múltiplas quando num lugar diferente, uma das primeiras coisas que faz, muito além de comer, beber e ver onde vai se instalar é ir em busca do seu objeto de prazer. No meu são livros e um lugar onde sempre quiz conhecer, se um dia viesse em Paris são os BOUQUINISTES, os históricos e antológicos livreiros na beirada do rio Sena. Tinha lido muito sobre a forma inusitada como sobreviveram a tudo, inclusive ao tempo e às intempéries da natureza. Em antológicas fotos, aquilo deles exporem seus livros em pequenas bancas, muitas sofrendo todo tipo de ação, a pior delas a da chuva é algo desse maravilhamento propiciado somente pelo amor à leitura. Aquele amontoado de livros, resistindo ao mofo de um lugar não tão apropriado, com fiéis e ávidos leitores no seu entorno me fazia querer mais e mais conhecer, não só o lugar, como os tais livreiros.

No último domingo realizei meu sonho, quando junto de Ana Bia fomos perambular pelas imediações do Sena. Com um frio dos mais intensos (nem demos bola para ele), caminhamos muito, nos perdemos em muitas viagens de metrô, saltando de uma estação a outra, tudo seguindo um roteiro de perdição dentro de nossas cabeças, bem longe dos famosos pontos turísticos, os tais que todos turistas precisam e devem conhecer em Paris (fugimos deles). Chegamos na tal beirada do rio Sena e quando me vi diante dos bouquinistes, os tais livreiros, embasbacado, boquiaberto e em extado de puro êxtase, passei a percorrer cada milímetro com o que ainda me resta de visão e mesmo não tendo encontrado por lá os tais livros, sai de lá plenamente satisfeito.

Conto algo mais da visita. Para minha decepção, os bouquinistes não mais vendem livros e sim pequenas lembranças de Paris. Se achei livros por lá, foram algo para se contar nos dedos. Da decepção, passo a entender dos motivos. Vivemos nesse mundo onde o negócio é dar certo, vender, auferir lucros e dentro desse espírito, o negócio de livros antigos, ou mesmo um sebo na beirada do rio mais famoso da França é algo romântico, mas devia ser uma penúria financeira. Daí, concluo eu, os herdeitos ou os que vieram na sequência dos velhos, arrojados, desbravadores, persistentes e antológicos bouquinistes não resistiram e mudaram de ramo. Deixaram os livros de lado e foram todos em buca de algo mais lucrativo. Vendem de tudo para o turista, aquele sempre ávido por trazer uma recordação da bela cidade. Quem hoje ainda viaja e nada trás de recuerdos banais, imãs de geladeira e afins. Todos, inclusive eu. Vasculhei tudo, principalmente a estrutura das barracas, como são fixadas na lateral, a murada do rio, mas não tive coragem suficiente para trazer nada dali. Fossem livros traRia alguns, mesmo nada lendo em francês (tive aulas no Ginásio, mas isso já faz tanto tempo).

Pelo sim, pelo não, conheci os tais bouquinistes. Missão cumprida.

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