domingo, 4 de fevereiro de 2018

CARTAS (184)


CARTA ABERTA AO SECRETÁRIO MUNICIPAL DE SAÚDE*
* Missiva enviada para publicação na Tribuna do Leitor, do diário bauruense Jornal da Cidade.

Meu caro José Eduardo Fogolin Passos, ou somente Fogolin, como sempre te chamei. Você é daqueles pelos quais creditava poder incluir no rol dos considerados, aqueles pelos quais a conversa flui aberta, sincera e espontânea a cada reencontro. Já fizemos juntos, num passado não tão distante a choraminguela das perdas ao país depois da injusta deposição do governo de Dilma Rousseff, o tal golpe que fez o país retroceder em todos os sentidos, voltando aos seus tempos de Colônia. Na Saúde, sua especialidade, sabemos como isso se deu. Um ministro inoperante e atuando à serviço do desmonte, por exemplo do que ainda nos resta do vigoroso SUS e um Governo estadual, praticante do Estado Mínimo e se desfazendo de tudo, empurrando o osso já roído para os costados dos prefeitos, que pouco podem fazer.

Vivemos tempos sombrios, onde você sabe muito bem, quase impossível recusar algo vindo do Governo Estadual, mesmo que isso, lá na frente, seja do conhecimento geral, irá trazer danos irreparáveis aos cofres municipais. Qualquer ser sensato sabe identificar um “Cavalo de Tróia” quando colocado no meio da praça central de uma cidade com quase 400 mil habitantes. Sei que vives entre a cruz e a espada, mas foi tu que escolheste estar aí na função hoje ocupada. Sei também que não foges da contenda, mas algo ainda não está bem explicado para a população neste crucial momento em que a Câmara de Vereadores vai analisar a chegada ou não dos tais OSs – Organizações Sociais de Saúde para administrar, num primeiro momento, o Hospital de Base e se bobearem, toda a Saúde.

Não temos muito o que conversar. Tenho lido e ouvido suas explicações, todas feitas em completo alinhamento com as da atual Administração Municipal, uma que, em tese, não consegue, não pode e não quer se contrapor às condições impostas pelo Governo Estadual de Geraldo Alckmin. Questão de escolhas. Se a questão já é decisão tomada, assim como a da condenação de Lula, que sei foi contra, nessa vejo que nas idas e vindas junto aos vereadores, somente novas tentativas de convencer os ainda em dúvida. Nada mais contra a proposta já sacramentada pelo sr prefeito e, assim sendo, discussão encerrada. Pelo que vejo, assim como na condenação de Lula, vão ganhar de lavada. Tanto lá como cá, sabemos quem perderá no final.

Poucos se importam se os heróis de hoje serão os vilões de amanhã, pois pensam só no momento presente. Reflita sobre isso e não desmereça tudo aquilo que brilhantemente te fez circular país afora, de cabo a rabo, construindo uma nova mentalidade na Saúde, hoje praticamente desmantelada. Enfim, o que vale mesmo a pena, enfrentar os bastiões da maldade com aquela nossa espadinha de Quixote ou se aliar aos que tomaram conta de tudo e hoje modificaram tudo o que vinha sendo feito? Tem quem não altere a forma de pensar e agir mesmo sob tortura, esses os inquebrantáveis e tem quem mude de ideia e de ação de acordo com a temperatura ambiente. Impossível ocorrer uma mudança de trajetória, linha de pensamento alterada em tão pouco tempo. Esse trem ainda vai descarrilhar, tome tento. Quero lembrar de ti com orgulho, não só pela sua atuação com Dilma, mas também pela ação junto aos de nossa aldeia, quando a coisa degringolou e uma voz conseguiu se sobressair. É justamente neste aflitivo momento que esperamos de ti o algo novo, pois dos demais envolvidos no imbróglio, dificilmente algo virá.

A gente se vê por aí. Abracitos cordiais do

Henrique Perazzi de Aquino – professor de História e jornalista.
OBS.: As fotos que ilustram o texto foram tiradas na praça Rui Barbosa, momentos antes da descida do bloco farsesco, burlesco e algumas vezes carnavalesco, o Bauru Sem Tomate é MiXto no ano de 2016, quando Dima ainda era presidenta e Fogolin atuava nas hostes do Governo Federal.

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