quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

FRASES (165)


A DIFERENÇA DE FAZENDA E FAZENDEIRO ENTRE ITÁLIA E O BRASIL
Dentro do capitalismo nada é perfeito e disso até as pedras do reino mineral tem conhecimento. Imperfeição e ampliação das desigualdades é o padrão. O que ocorre na Itália difere do Brasil, mas em nenhuma das situações enxergo a solução definitiva para a questão fundiária, porém não nego a daqui melhor que a do meu país. Estou instalado numa região da província de Ravenna, na Itália, mais propriamente em sua zona rural e algo perceptível a olho nu é como são denominados os pequenos proprietários rurais, todos aqui chamados de “fazendeiros”.

Nisto uma grande diferença do Brasil. Circulando de carro pela região, não observei até agora grandes propriedades rurais, todas de pequeno porte, ao estilo dos pequenos sítios brasileiros. Em cada uma um casarão, quase sempre de dois andares, um barracão ao lado e no seu entorno a plantação. Nessa região o predomínio é por vinhedos, mas são também famosos pelo cultivo de frutas, desde maçãs, pêssegos até tâmaras. Franco Mazzotti, quem hospeda a mim, Ana Bia e Ana Rebello me explica: “Na Itália também existem os grandes proprietários rurais, mas o predomínio é por gente igual a mim, todos relativamente pequenos, uns mais outros menos. A grande diferença que vejo com os grandes proprietários brasileiros é que aqui, todos trabalham na sua propriedade. Todos estão à frente das atividades em sua terra, pegam no pesado o tempo todo, isso é da nossa cultura”.

O cenário é exatamente este por onde ande. A plantação e a casa com o barracão, tudo numa sequência que me faz lembrar os loteamentos dos atuais assentamentos rurais brasileiros, como é feito com os denominados sem-terra. Neles, além do cultivo principal, uma espécie de horta, onde se planta de tudo um pouco. A maioria do que eles consomem de comida é plantado por eles próprios. Franco é um ótimo exemplo, levanta 6h da manhã e mesmo durante o inverno, aqui muito rigoroso, não deixa de estar diariamente em sua pequena propriedade, cuidando pessoalmente de sua plantação. Já teve animais, principalmente porcos, mas hoje se restringe à uva. Frutas e legumes variados, esses só para consumo próprio. Quem circula pelas estradas entre as muitas vilas dá de cara com esse cenário, um atrás do outro e isso é bem diferente do Brasil. Não vejo por aqui áreas sem nenhuma espécie de plantação sendo cultivada. Tudo muito bem ocupado.

Claro, levo em consideração ser a Itália muito menor que o Brasil e nem sei se isso aqui vislumbrado pode ser considerado uma espécie de reforma agrária, mas essa divisão estabelecida me faz pensar como poderíamos ser uma nação mais justa com tudo melhor dividido e com a imensidão de terra improdutiva distribuída nas mãos de pessoas como o fazendeiro italiano Franco, com uma dedicação exclusiva para o trato com o seu pedaço de terra. O que faz, me diz, vem desde os tempos de seus avós, algo passado de pai para filho. Não sinto aqui a avidez deles por ter mais terras, pois isso também dificultaria o trato, o cuidado dado. Muito comum ver um ajudando o outro na colheita, a safra do vizinho, ainda mais quando ocorre em épocas diferentes.

O fazendeiro daqui da Itália, algo inimaginável no Brasil. Eis mais uma de nossas atávicas diferenças. Nenhum deles aqui é rico, mas com o suor de sua labuta seguem com uma vida das mais dignas, uma casa confortável, um bom veículo na garagem e uma boa renda. Os vejo e os sinto felizes.

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