domingo, 4 de março de 2018

RELATOS PORTENHOS / LATINOS (49)


VENEZA PELOS OLHOS DO HPA - O REGISTRADOR MALUCO

Às vezes eu escrevo e noutras eu tento transmitir a minha mensagem de outras formas e uma delas é pela fotografia. Não sou fotógrafo e nem tenho a pretensão de sê-lo. Sou amador em muitas coisas que faço vida afora, na fotografia uma delas e assim sou feliz. Meu negócio é registrar as pessoas, principalmente as consideradas por mim no Lado B deste mundo. Minha justificativa é plausível: para registrar as consideradas socialites já existem paparazzi aos borbotões, mas para registrar as pessoas mais simples, aquelas que conduzem o mundo, mas são esquecidas e menosprezadas, poucos registros.

Neste caso, em viagem por um lugar onde nunca antes havia botado os pés, fui além e fiz registros mais do lugar do que das pessoas e espero não ter seguido pelo caminho do lugar comum. Minha intenção foi bem outra, a de registrando meus passos construir uma crônica visual dos lugares por onde estive. Daí escrevo pouco e registro muito. Num só dia nessa cidade mais que fantástica, Veneza, a dos canais oceânicos, esquentei minha resistente maquineta fotográfica e cliquei tudo. Quem saiu ganhando foi a companheira de todas as horas, Ana Bia Andrade, quase sempre na frente da lente e daí, ela em quase todos os ângulos. A visita se deu no último sábado, 3/3.

O que dizer de Veneza além de tudo o que já foi escrito e fotografado. Pouca coisa acrescentaria e não saberia fazê-lo a contento, até porque estava deveras emocionado. Olhava para aquela imensidão de vielas, braços de mar cortando aquilo tudo e minha imaginação viajava no tempo e no espaço. Como teria sido possível levantar aquelas gigantescas construções dentro de um braço de mar e séculos atrás, quando a tecnologia nem guindastes possuía? O braço humano fez coisas inimagináveis mundo afora e uma dessas ocorreu na Itália, toda recoberta de obras gigantescas. Tudo aquilo teria sido possibilitado pela mão de obra escrava ou já existia paga para o trabalhador executar o serviço pesado? Nem mesmo com toda leitura que já fiz sobre o período de levantamento da cidade, a cabeça ferve de indagações. As próprias igrejas, uma mais suntuosa que a outra, verdadeiros museus a céu aberto, com paredes com mais de metro de grossura, com certeza foram levantadas através de braços muito mal remunerados. Se os artistas ganharam para ali deixar suas obras, qual teria sido a paga para os trabalhadores levantar aquilo tudo?

Além das indagações de praxe, algo me veio à mente enquanto andava por lá. Uma velha história. Não consigo lembrar se a ouvi de alguém ou a li em algum livro, talvez até frase famosa. Lembro-me dela, mas não me recordo a autoria. Ela diz respeito em como o turista chega aos lugares onde visita. O viajante de hoje quando quer ir, por exemplo, para Buenos Aires, pega um rápido voo e em questão de poucas horas é despejado no centro daquela cidade e ali começa o seu tour. Já o viajante de cem anos atrás ao fazer o mesmo percurso demorava meses e ia sentindo pouco a pouco as diferenças regionais, até chegar ao seu destino. Ele vinha observando as estradas, as cores, sentido os cheiros todos, conhecendo gente de toda espécie pelo caminho. A demora sempre é um problema, mas a rapidez tira também muito do brilho de não reconhecer algo nas entranhas do lugar onde você está.

Na viagem que fiz à Itália vim direto para Bologna e de lá, fiz o percurso como antigamente, chegando de leve, aos poucos, conhecendo os ricos detalhes, as beiradas de cada cidade. Não cheguei diretamente nelas e ao conhecê-las pelas rebarbas, tenho a mais absoluta certeza, sai ganhando. Conheci algo mais, aquilo que o turista normal deixa de conhecer. Em Veneza e em todas as outras cidades por onde estive isso aconteceu e em cada lugar um aprendizado novo. Com as fotos espero ter passado a todos um pouco disto. Foi essa minha intenção, mostrar algo além dos pontos turísticos.

Tenho mais a dizer e como sei, essa viagem não se encerra com meu retorno pra Bauru, ela será contada em drops, aos poucos, como gosto de fazer. Reconheço também escrever muita bobagem, mas alguma coisa sempre se aproveita dessa gororoba toda. Façam, por favor, mais que um esforço extra e tentem estraim proveitos dessas mal traçadas.

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