sábado, 9 de junho de 2018

O QUE FAZER EM BAURU E NAS REDONDEZAS (102)


SÁBADO DE MANHÃ JUNTO AOS FREQUENTADORES DA PRAÇA PRINCIPAL DA ALDEIA BAURUENSE, A RUI BARBOSA - O QUE VEJO ESCREVO

Sem quase nenhuma possibilidade de diálogo pelas redes sociais (ontem golpistas venderam mais poços de petróleo), acordo acabrunhado e quando isso ocorre, desânimo estabelecido, nada melhor do que arejar cabeça, tronco e membros. E qual a saída? Dia friozinho, sábado modorrento, deixo alguns compromissos de lado, tudo para tentar reestabelecer o elo perdido com a parcimônia da vida. Saio tendo como rumo ir estar por alguns instantes com os tipos que frequentam e habitam diriamente a praça principal da cidade, a Rui Barbosa.

Passo todos os dias por ali e algo sempre me chama muito a atenção, a imensa quantidade de gente crocodilando pelos bancos, muitos esperando o tempo passar, com um olhar distante, longe de tudo o que acontece por ali. Quando a pessoa entra num transe desses, muito mais fácil ser surrupiada de tudo o possui, pois fica desplugada da realidade, a cabeça viaja para longe. Em muitos momentos também me sinto assim e só não sentei num banco, pois achei que se o fizesse poderia também viajar para outras paragens.

Preferi ficar ziguezagueando de um lado para outro, na urubuservância do que de fato acontece. Rola de tudo um pouco e isso é contagiante. Uma praça dessas é para isso mesmo, as pessoas irem se achegando e nos ajuntamentos ir buscando algo para passar o tempo ou mesmo ter um encosto para um breve descanso. O maior conglomerado nessa manhã era o dos vendedores de relógios, grupo estabelecido e que também frequenta a feira dominical. Cada um chega com uma novidade e ela é apresentada para todos, surgindo daí os interessados. Eles ficam ali morgando e conversando como jacarés ao sol. Alguns permanecem sentados mais afastados e jogam desde dominó, carteado, purinha e afins. Vale tudo. Muitos chegam, assuntam e se afastam não havendo nada que lhes interesse no momento. Outro aproveitam para vender outras peças, como capas de celular. Levantar uns trocos é primordial.

Quantos sentam e vagueiam? Muitos vem dos bairros distantes e quando no centro, a praça acaba se tornando o local de ponto de encontro, descanso e para ir se atualizando do que o centro da cidade ainda possibilita de afazeres. Serve também para o reencontro com os demais na mesma situação. O pastor continua com sua ladainha, atraindo poucas pessoas num dos seus cantos, mas alguns abnegados, tipo torcida organizada, batem palma no meio da sua fala. Ele ocupa o lugar do seu Varme, um que pregava e ria, conversava com as pessoas e era mais divertido. Os de hoje são mais carolas, pregam e pregam, mas não são bons de ouvido e sim de fala. Vejo um velhinho com uma roupa caprichada para a manhã de sábado. Saiu de casa na estica e ali está sentado esperando não sei o que. Na verdade, talvez nem ele o saiba, mas sair de casa é imprescindível, arejar a cabeça junto a outro tanto de pessoas. Me coloco no seu lugar e procuro flanar da mesma forma e jeito.

Um mendigo, o único descamisado no lugar, fica ora sem e ora com uma blusa, falando sózinho. Ele não é o único a falar sózinho por ali. Eu nesse momento penso sózinho, o que é algo da mesma laia. Ele fala eu penso e assim tocamos o barco. Procuro e não encontro meu amigo Greifo, o ilustrador que fica com sua banca bem defronte a casa lotérica, essa com uma longa fila. Muitos pagam contas, mas sei todos sonham em sair dessa vida e para tanto jogam, fazem a tal fezinha, pois essa a única chance de dar uma salto em suas vidas. No meio da praça dois PMs acompanham tudo à distância, sem se intrometer no que rola ao redor. Conversam entre si e talvez o assunto seja o jogo de amanhã, o salário baixo e o fato de estarem no trampo numa manhã com tanta coisa para se fazer em casa.

A vida segue modorrenta, sem muitas novidades. Tiro foto das placas do lugar e na entrada da igreja católica, um senhor está encostado ao gradil e fica como aquele matuto mascando um fiapo de mato, olhando o que acontece diante dos seus olhos. O observei na chegada e quando bati em retirada ainda lá estava, do mesmo jeito e maneira. Tirou a manhã para vadiar, ficar ali paradão só na observância. Ele não é o único. Um senhor de chapéu colrido, passa com uma camisa colorida impecável e o sigo como a me deliciar por ter alegrado meu dia com seu jeito bonachão, singelo e simples. Os simples são tudo de bom.

Num outro canto da praça um rapaz novo, rosto pintado, sapatos coloridos conversa animadamente com uma amiga, essa negra, riem alto e isso é gostoso de ser visto. A alegria pode fluir das mais inesperadas situações e quando ocorre assim do nada, sem grandes motivos e torna as pessoas alegres por instantes, não consigo me conter e fico a observar mais a cena. Não quero chamar a atenção e desvio o olhar, sigo caminhando. Um senhor gordo anda de um lado para outro e o que chama a atenção são suas roupas sujas, camiseta manchada e de um jeito a entristecer, pois não é para trazer alegria a ninguém ver alguém em situação degradante. Dá aquela vontade de ir ter com ele sobre o que se passa, mas não o faço com ninguém. Fico nas minhas observações e com elas circulo.

Num outro canto uma feira artesanal e ao vê-la eternas lembranças de minha mãe quando viva, ela também participando com minha tia, irmãs gêmeas e iguais até no gosto pelas ruas. Observo uma senhora sentada dentro de sua banca e tricotando. Paro diante dela e foi a coisa mais fácil tranportar sua imagem para de minha mãe e tia. A praça me contagia, pois hoje, quando triste lá pelas bandas do mafuá, quiz vir dar essa arejada e acredito ter acertado na mosca. Circulando por entre esses todos, muitos com o mesmo sentimento de desilusão sentido por mim nesse momento, mas confesso, fico muito mais feliz em aqui estar do que lá naquela festança no aeroclube, o tal do Arraiá do Avião. Aqui na praça o cheiro popular, o contato com o povo mais simples, esse sim me revitaliza e fortalece. Tenho que deixar a praça, pois tarefas me esperam. Sento para escrever, pois o que vi, esses olhares trocados precisam ser registrados e eternizados. É o que faço com esse texto.

Tenham todas e todos um ótimo sábado, mesmo com tudo o que esses insanos golpistas nos fazem. Enquanto vendem nossas riquezas todas na bacia das almas, não tendo como ir lá e esbofeteá-los, venho para a praça e tento esquecer, mesmo que por menos de uma horinha. Infelizmente, já voltei para a realidade da vida. Inexorável ela me chama de volta para as agruras próximas e distantes.

OBS.: Quando eu sento e escrevo de uma só tacada, como nesse texto, o faço com muitos erros. Na releitura vou corrigindo e quem lê o que escrevo logo após a publicação encontra errinhos de grande monta, que tento ir corrigindo na medida em que consigo ir tendo tempo para reler. Tudo vale mesmo assim.



SEIS DIAS DA COPA DO MUNDO - UM TEXTO POR DIA SOBRE FUTEBOL (02)
NIRLANDO BEIRÃO é um desses jornalistas que fazem falta para qualquer publicação nos dias de hoje. Quem o tem como colunista deve se sentir um privilegiado. A melhor revista semanal brasileira, Carta Capital o tem toda semana no comando da brilhante seção QI. Aqui um primoroso texto sobre o sentimento do brasileiro sensato diante de torcer pra Seleção envergando a camisa que os coxas se utilizaram para deixar o país nessa nhaca golpista. Um primor.
https://www.cartacapital.com.br/revista/1005/apos-7x1-e-impeachment-da-para-torcer-pela-selecao-na-russia

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