terça-feira, 19 de junho de 2018
OS QUE FAZEM FALTA e OS QUE SOBRARAM (113)
CONVESCOTE ESQUERDISTA NAS BARBAS DO GENERAL E NA NOITE DE SEGUNDA
Antonio Pedroso Junior hoje morando em Sorocaba, quando retorna para a cidade, nem que seja por alguns dias, não gosta de permanecer sozinho. Já vai fazendo contatos na viagem de volta e tenta aglutinar amigos para que o esperem com a devida pompa no seu quartel general, o General Bar, ali ao lado do clube Nipo Brasileiro. Dessa feita os consistentes chamativos despertaram a atenção de alguns e mesmo numa segunda-feira um tanto friorenta, os motivos eram mais do que fortes.
Numa mesa do lado de fora do estabelecimento, sem a proteção de uma mera cobertura, todos sujeitos às intempéries da natureza, o convescote foi de todo animado, pois um dos requisitos básicos para a convocação era o de pertencer ao segmento da esquerda bauruense. Lá estiveram além do proponente, Darcy Rodrigues, o sempre lembrado como braço forte do sempre saudoso capitão Carlos Lamarca, Milton Dota, um ex-vereador desses que faz falta em qualquer Casa de Leis, José Canella, um que não mudou de lado mesmo tendo auferido sucesso nos seu empreendimento comercial, Jeferson Rodrigues Barbosa, o Jeffé, emérito professor de Ciências Sociais da Unesp Bauru e mentor político de uma pá de boas histórias dos bastidores dessa cidade, Eduardo Piotto, o vigilante, ou simplesmente um dos diretores de um dos Sindicatos dos Agentes Penitenciários da região e este escriba.
Imaginem os senhores a conversa que rola num encontro como esse, regado a algumas doses de uma boa cachaça e muita cerveja, gelada como só o Wagnão, dono do bar numa das encruzilhadas mais politizadas da cidade e de sua esposa e partner, prestativa até a medula em petiscos de grande valia intestinal? Sentiram o clima? Na verdade, nem sei por onde começar. Assunto não falta a todos para, não só se reunirem, como deitarem muita falação. O convescote durou bem umas quatro horas e não teve a presença feminina, não que elas não fossem convidadas, mas pelo não comparecimento. Seriam e são sempre bem vindas, pois estariam muito bem enfronhadas com a temática pairando no ar.
De cara um compromisso assumido. Pedroso está realizando encontros de bate papo futebolísticos, com mistura de temas políticos com nada menos que Afonsinho, o primeiro jogador a receber passe-livre no futebol brasileiro e o irmão do Zico, o revolucionário Nando, o primeiro jogador anistiado do país. Uma mistura que dá um papo desses de adentrar a noite. Definido que, quando estiverem em agosto na vizinha São Carlos, o grupo de Bauru os trariam para fazer o mesmo em algum lugar ainda sendo pensando por aqui. Falou-se de todos esses que, de uma forma ou de outra infernizaram a vida dos dirigentes esportivos deste país, desde os dois, mais Sócrates, Almir Pernambuquinho e outros capetas. Em agosto a coisa vai acontecer por aqui, compromisso selado na mesa do bar.
A novidade na mesa e desses que circula por aqui com maior espaçamento de tempo ficou por conta do Jeferson, uma espécie de guru político de muitos ali presentes e de outro tanto ausentes. Da conversa sobre quem lançou quem na política, quem fez isso e fez aquilo, viro para ele e lhe provoco: “Isso tudo que ouço aqui não está ainda contado em nenhum livro, registrado em lugar nenhum. E por que não escreve isso? Tem muita história para contar”. E provocado pelos da mesa, as histórias fluem, umas cabeludas, outras picantes, mas todas por demais interessantes. Poderia dar nomes a alguns bois aqui, para ir levantando a lebre de tanta coisa que falta ser revelada sobre o passado político bauruense, mas não o faço, até por não ficar publicando pequenos fragmentos. Num bar, esses são esmiuçados no pé do ouvido, mas colocar no papel, mereceriam melhor acabamento. Fica para outra ocasião, mas ouvir coisas que ainda não tinha tomado conhecimento de bastidores.
Darcy rivaliza, no bom sentido, sem que nenhum tenha necessidade de fazer uso da faca na algibeira, com o Pedroso. São histórias compridas de um lado e de outro. Eu e Zé Canella, ouvidos atentos, mais calados que falantes, aprendendo com a sapiência da somatória dos anos ali desfraldados. Divertido ver como ocorrem as interrupções nos relatos. Esses tem muito o que falar e quando diante de uma rica oportunidade como o dessa noite, a aproveitam nos seus mínimos detalhes. Outro que esbanja histórias é o Dotão, um sempre procurado para se lembrar de algum detalhe esquecido no meio de uma história. “Quem é mesmo aquele que...?”, buscam a revelação pela mente sempre atenta e acervo de valorosa consulta coletiva. Eu sei que num certo momento, nem sei quem dos presentes, mas relembraram de uma reunião, nem sei se clandestina ou não, mas ocorrida numa mesa de bordel. Um deles reafirma: “Muita coisa eram decidida nessas mesas”.
Jeferson contou uma linda história da rua onde mora em Natal, a São Matias, sobre a escolha de Cristo para ele completar o quadro de discípulos após a traição de Judas. “O mais simples, o menos empoado, o com menos cabedal e pompa”, diz. E explica dos motivos. O assunto recai no tema comida e por fim num especialista, o folclorista Luiz Câmara Cascudo. Todos versam sobre ele e eu para encerrar o assunto conto algo dele sobre comida. “Perguntaram a ele, entendido de todas as comidas brasileiras, qual a melhor de todas. Ele não vacila, responde curto e grosso, a melhor mesmo é a que produz uma boa bosta”. Um assunto vai puxando outro e dentro das possibilidades e do poder de convencimento de cada um dos presentes, cada um fica por instantes com a palavra e a faz uso da melhor maneira possível.
Ali ninguém quer convencer ninguém de nada, nem ser um pedante com o outro, querer aparecer, nada disso. Trata-se de uma conversa entre velhos amigos e conhecidos. Em alguns momentos a roda se divide, um ou outro se afasta para uma conversa mais ao pé do ouvido, um assunto entre paredes, mas logo o grupo está refeito e o furdunço tem continuidade. Claro que o assunto permeando as boas discussões foi a política atual e o momento vivido com essa insano e cruel golpe sob os costados de todos. Todos com Lula e alguns até mais confiantes. “Sai essa semana”. Outros menos. “Sai só quando não representar mais perigo para os canalhas no poder”. Esquerda reunida, vários segmentos dela ali juntados, todos com uma longa história de vida política, mas com uma convergência, a de estarem perfilados com Lula neste momento da vida nacional. A cada menção são sacados relatos do arco da velha, histórias revividas e enquanto cada um conta uma, na preparação muitos outros relatos, uma na sequência do outro, mal dando tempo para a fungada respiratória.
Quem acabou a festa foi o Wagnão, com o seu jeito de simples de resolver isso da última mesa a ser fechada num bar, sempre com aqueles renovando a cada chamado a saideira e isso tendo prolongamento sem definição garantida. Mesas são retiradas no entorno, cenário ficando pelado, mas essa resistindo. O dono dá uma de elefante numa loja de cristais, entra na conversa mais para dispersar o grupo e só consegue no adiantado da hora. Assunto existia para muito mais e a promessa é algo dessa natureza ter prolongamentos em outras oportunidades, talvez na próxima visita do Pedroso à Bauru. Foi só o pessoal se levantar, até a mesa foi recolhida e quando um olhou para o outro, todos em pé, luzes sendo apagadas, o jeito foi ir dormir. Mesmo com a desfeita, a conta foi paga.
Cuidado que General Bar é nome de reduto Bolsonarista. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirSe for a gente os expulsa, somos maioria.
ResponderExcluirHenrique - direto do mafuá