quinta-feira, 28 de junho de 2018

PRECONCEITO AO SAPO BARBUDO (128)


A TRAVESTI QUE FOI DAR SEU JEITO EM BUCARESTE, ROMÊNIA – O BATER ASAS DO BRASIL

Interessam-me as histórias. Encanto-me por elas. Essa uma delas. Não fui autorizado a citar o nome da personagem, mas o faço com sua história, para mim um relato de algo dos nossos tempos. As travestis brasileiras saírem mundo afora em busca de darem um jeito em suas vidas, amealhar melhores condições, juntar o suficiente para quando do retorno poderem levar uma vida mais tranquila, isso não é novidade para ninguém. O fazem desde que me conheço por gente. Já nos anos 80, quando comecei a ler os primeiros relatos dessas aventuras mundo afora, algo de tantas conseguindo belas soluções de vida distantes do solo brasileiro. Em cada novo relato uma história de vida. Nem todas belas, mas a maioria comovente. Isso é o que me interessa, essa disposição de ser, fazer e acontecer. Não esperar sentado, ir à luta e tentar a todo custo dar um jeito em sua vida. Conto um história de uma delas. Para muitos pode ser algo trivial, mas vejo nela algo de uma desbravadora.

Vivenciando as dificuldades por essas plagas, foi-se para a Europa. Como? Não me perguntem. O fazem e conseguem. Assim como clandestino faz de tudo para ingressar, por exemplo, nos EUA, as travestis inventam jeitos e chegam aos seus destinos. Já foi muito mais difícil e complicado que hoje. Sei de relatos de viagens como praticamente clandestinas em embarcações suspeitas. Hoje não se faz mais necessário tanto risco. As fronteiras ainda permanecem abertas e elas se atiram mundo afora. Todos que já estiveram pela Europa já se depararam com elas pelas ruas e noticiários. Ocupam não só a Europa, América, mas o mundo. Após o acabrunhamento do desenrolar da crise por aqui, eis que me cai nas mãos algo de uma delas. Saiu de Jales, interior de SP, primeiro foi conhecer o Brasil, corpo bonito, escultural, viajou pelas capitais e principais cidades num conhecido esquema de rodízio. Chegam como novidades, levantam uma boa grana e quando essa começa a rarear vão para outras plagas. Foi para a Europa, a grandes capitais e hoje ousou um pouco mais.

Rodou, como o fez no Brasil, pelas capitais e o que lá encontrou? Uma grande concentração de outras nas mesmas condições. Oferta em abundância, todas com o mesmo objetivo. Qual a saída? Buscar novos nichos de mercado. E desta forma foi dar com os costados na capital da Romênia, num quadrilátero ainda pouco frequentado pelas brasileiras. Alguns lhe alertaram dos perigos dessa parte da Europa, dominada por máfias que sequestram pessoas envolvidas com prostituição, mas mesmo assim, criou coragem e lá esteve. Atendem pouco hoje nas ruas e mais nos sites de relacionamento. Está no circuito Atenas e outras capitais, esse novo mercado na Europa Oriental. Até o que sei foi bem sucedida. Daí, venho para minhas parcas observações. Gosto dos arrojados. Ela, uma delas. Age diferente de muitos que vejo hoje país afora escapulindo do país, tendo apoiado o golpe e a queda de Dilma, mas quando diante de um país intolerante, cruel e insano, fingem não terem tido culpa nos acontecimentos e batem em retirada. Para esses, a inclemente pecha de serem uns merdas. Para gente como a travesti citada, algo novo e logo mais o retorno, ou quando muito, a definitiva permanência por lá, quando se deparam com um auspicioso relacionamento.

Ainda ontem falava com um amigo sobre os jogadores de futebol e ele me passou uma cifra desconhecida até então por mim. Mais de mil jogadores de futebol se lançam ao mercado mundial da bola por ano e estão espalhados vendendo sua força de trabalho. Tem para todo tipo de situação. Desde a dos craques milionários, até aos que se escravizam em troca de migalhas. Esses me interessam. Na rede de prostituição se dá a mesma coisa. Quantas não saem mundo afora por ano? Milhares. Algumas poucas muito bem sucedidas e até podendo ir para lugares pouco antes frequentados, mas a maioria penando o “pão que o diabo amassou”. A história aqui relatada serve como exemplo de um estudo posterior, dos motivos dessa evasão, dessa conquista de terras desconhecidas, enfrentando os eminentes riscos, tudo para amealhar uma vida diferente da que teriam seguindo a mesmice. Eu viajo junto com os personagens dessas histórias. Elas me arrebatam e quando diante delas, despertam meu interesse pelos detalhes. Outra instigante é a do Luciano Bebê, um jogador de bola que já atuou pelo Noroeste de Bauru, rodou o país e agora, perto dos 40 anos se foi para a Europa. Sabem onde se encontra? Na ilha de Chipre, mar Mediterrâneo, perto da Grécia e as últimas notícias é a de que não tem intenção de voltar tão cedo. Parece ter encontrado seu paraíso, para ele e sua família, morando num reduto com muito mar, sol e algum para gastar. Enfim, todos querem isso, ao menos encontrar a felicidade, algo cada vez mais de difícil acesso nos tempos atuais. Já que aqui pelo Brasil tudo anda cada vez mais complicado, histórias como as deles sugestionam essa debandada ampla, geral e irrestrita.

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