domingo, 22 de julho de 2018

CENA BAURUENSE (174)


O JOÃO SOUBE DAR A VOLTA POR CIMA
Sempre gostei muito desse João. Primeiro por ter tido o prazer de conhecê-lo bem antes das atividades roceiras que hoje o dominam. Ele foi um elegante atendente na loja da Wilson Roupas, vivia na estica, calça com vinco e coisa e tal. Jogou tudo para cuma e foi viver enfronhado naquilo que gostava de fazer, plantas e vendas nas ruas. Viveu o céu e o inferno. Sei que não se arrepende, pois o reencontro e com uma cara das mais felizes. O João deu a volta por cima.

Fomos casados com duas irmãs Cunha. A minha faleceu, fiquei viúvo, ele continuou até pouco tempo atrás e hoje vive só, morando depois de vender sua casa no São Geraldo. Está lá pelos lados da Pousada da Esperança, onde se diz feliz, ermitão, mas com uma sorriso de orelha a orelha. Contei aqui tempos atrás sua história de quando vendia plantas, com sua Brasilia estacionada na rua Antonio Alves, ali defronte do Empório Barres, do outro lado da rua. Era uma balbúrdia. Começou com verduras, frescas e acabou, por fim, só com mudas de plantas. E é claro, nunca parou de vender na feira, num ponto tradicional, o quase na esquina da Gustavo com a Ezequiel Ramos. O João das Plantas é por demais conhecido. Cliquem a seguir e leiam o que havia escrevinhado quase dez anos atrás: https://mafuadohpa.blogspot.com/search?q=Jo%C3%A3o+verduras.

Sempre batalhou demais da conta pelas suas coisas. Um abnegado feirante, desses que sempre dá vontade de parar e prosear em cada reencontro. Sempre parei e lhe dei a devida atenção. Somos amigos, além de tudo. A coisa definhou e ele desanimou da vida. Perdeu seus pais, se separou e estava vivendo um inferno astral. Se segurava na religião. Os negócios foram se esmilinguindo. Certa feita o vi estudando e querendo prestar concurso para mudar de ramo. Nunca o enxerguei atrás de burocrática mesa, mas estava no desespero.

Tentava buscar uma saída. Ela veio. Muito conhecido por todos do ramo de plantas recebeu um irrecusável convite para cuidar do Viveiros e Mudas Braga lá no Ceasa Bauru, onde já há cinco anos atua de segunda a sábado no horário comercial e aos domingos, marca presença na feira no mesmo lugar de sempre. Enfim, são 30 anos de feira e sempre fazendo algo envolvido com essas questões de plantas e coisas oriundas da terra. Ficou o responsável por tudo no referido box, bem amplo, lugar arejado, cheio de opções, onde atende Bauru e toda região revendendo mudas e plantas, além da orientação de quem entende do assunto, expert no metiê.

João completou 64 anos, está com aquela carinha rachada de sol, queimado até não mais poder, barriga proeminente, roupas puídas, em fim, seu estilo mais que próprio. Simpatia em pessoa, calmo, comedido no que diz, mas um especialista no que faz. No reencontro nos domingos na feira, no último junto com o professor José Laranjeira e dias desses no Ceasa, só de bater os olhos vi nele a cara estampada da felicidade. Soube reverter o momento ruim, conseguiu continuar enfronhado nas duas coisas que gosta, a de ter um emprego para chamar de seu, num lugar onde é o bam-bam-bam no assunto e aos domingos vai flanar na feira, rever pessoas e completar sua renda. O João Sidnei Felipe é mais do que um baita de um cara. Escrevo dele com uma incontida felicidade, pois sei dos trancos e barrancos e agora, sei também ter ele conseguido um lugar estável, onde toca sua vida da melhor maneira possível. Está só, porém feliz. Uma pessoa merecedora não só de uma besta escrevinhação como a minha, mas de um forte abraço. Agora mesmo, domingo, 10h40, acabo de escrever isso tudo, publico e saio para a feira, onde com certeza vou rever o amigo e lhe dar mais um abraço e papear mais um bocadinho.
Feirante João e professor Laranjeira se abraçam na feira dominical.

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