quarta-feira, 11 de julho de 2018

CHARGE ESCOLHIDA A DEDO (136)


SERVIÇO PÚBLICO: É UM TAL DE FAZER ACORDO COM A PARTE CONTRÁRIA
Trabalhar no serviço público deveria ser motivo de orgulho. Sei que para muitos o é e assim deveria ser com todos. Infelizmente não o é e para entender isso, talvez só analisando algo da formação do brasileiro. Nem quero seguir por essa linha. Escrevo sobre esses a depreciar a belezura que é o profissional ser chamado/lembrado para prestar seus serviços, algo em prol dos seus e dos bens públicos. Repare da grandiosidade de um profissional atuando na iniciativa privada e num dado momento ser convidado para, por durante certo tempo, emprestar seus conhecimentos para governos, sejam eles municipais, estaduais ou federais. Ao aceitar, sendo remunerado para tanto, deveria estar imbuído de algo incomensurável dentro de sua vida. A oportunidade de mostrar algo mais e coletivamente. E quando lá no cargo, uma real possibilidade de transformar, provando na prática com a realização de iniciativas auspiciosas, como nem tudo está perdido. Lindo isso, algo como uma missão, mas nem sempre é assim.

Por todos os lugares exemplos nada dignos de pessoas se impondo aos cargos, algo imposto por partidos políticos fazendo parte da administração e precisando lotear os cargos para os seus. Muitos são alocados em lugares onde não possuem a mínima qualificação. E aceitam numa boa, sem ao menos ousar dizer a quem os ali colocou: “Desculpe, não estou qualificado para tanto. Minha especialidade é outra. Nada sei disso onde me coloca para trabalhar”. Trabalho todos precisam de um para si e sei, cada vez mais difícil ocorrer a recusa, ainda mais sob a alegação sugerida por mim. As histórias dos tantos atuando em lugares onde desconhecem o mínimo daquela função é mato e continuará a ocorrer, pelo menos enquanto o país tiver mantida sua forma de se resolver politicamente. Nem adianta reclamar disso. No país os cargos sempre foram ocupados dessa forma e jeito. Entra governo, sai governo, mudam-se os nomes, não a forma de loteamento dos cargos. Uma escancarada e escarrada vergonha, dando uma substancial ajuda para a degradação da coisa pública.

Lembrava hoje com um amigo o fato de antigamente, para algumas funções não era permitido ao servidor trabalhar em nenhum outra. Juiz era assim. Só podia dar aula, nada mais. Hoje fazem de tudo. Não era tolerado ao servidor que atuou numa função onde obteve informações privilegiadas, sair e já ingressar de imediato numa atividade onde pudesse extrair privilégios dela. O cargo de ministro exigia essa lisura no comportamento. A ética exigia um período de carência para adentrar o mercado normal. Hoje, além da vista grossa, pois a lei ainda não permite, mas o cara está lá na função e de lá mesmo faz indicações para si e os seus, beneficiando-se descaradamente das informações recebidas, numa avacalhação sem precedentes. A pessoa aceita trabalhar no serviço público e ao invés de se doar para dar o melhor de sai na função, entra e já começa a atuar para benefício próprio.

Boas histórias de tantos valorizando o serviço e a função pululam pela aí e do outro lado, circulam até com maior intensidade as tantas a denegrir a função. Cargo de confiança, o próprio nome já diz tudo, trata-se de confiança de alguém, mas nem por isso deve ser ocupado por um parente próximo e sem qualificação. Enfim, todo cargo deve exigir uma qualificação mínima. Hoje até se vê em alguns lugares, aqui mesmo foi tentado isso, li algo no passado, mas não vingou, que para assumir qualquer cargo o indicado teria que comprovar sua qualificação, até com currículo. No Brasil atual isso não vinga, pois a exigência e fome por cargos em quem é eleito é incomensurável. Ganhou e foi empossado é praxe, começa a lotear não de qualificados, mas os apaniguados. Atender, sob pressão, todos os que o ajudaram a chegar aos píncaros da glória é algo imediato, faz até parte da cultura nacional.

Diante de tudo isso, a belezura que é a pessoa se doar, dar o seu quinhão de participação, ensinar o que sabe, passar algo dos seus conhecimentos para os demais, cai por terra. E no mundo de hoje, interesses pessoais extrapolados, individualismo exacerbado e incentivado, leis do mercado predominando sob tudo o mais, a luta para ocupar cargos continua das mais intensas e o que menos importa é a real qualificação da pessoa. Daí, como cobrar eficiência desses governos, se o que vale mesmo é a ocupação sem nenhum critério dos cargos? E alguns ainda chegam lá e acabam por se beneficiar de outros subterfúgios e privilégios, tudo para enricar o quanto antes, enquanto persistir a oportunidade. Mercado em franca expansão é um para atender essa demanda, a de informações privilegiadas recebidas de quem está lá dentro, em firmas variadas e múltiplas, muitas delas, hoje sem o despudor de esconder quem sejam os sócios. Nomes se cruzam, gente dali de dentro em cargos direcionais nessas empresas. A fiscalização deveria existir, mas a impunidade está tão em alta que, muito melhor correr o risco e driblar os percalços. Está valendo tudo, onde misturar o público com o privado é só a ponta de um imenso iceberg. Não é aqui, nem só ali ou acolá, mas tudo espalhado como praga, vicejando por tudo quanto é lugar.

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