ADILSON E NEIDE POSSUEM UMA AURA SOB O QUE FAZEM TODO DOMINGO NA FEIRA Diante deste casal um escrito me veio á mente. "O historiador equivale ao pintor de vastos painéis onde se fixam importantes e decisivas etapas vencidas pela humanidade. Já o cronista, esse comentador de tudo quanto é momentâneo, se assemelha ao modesto fotógrafo lamber-lambe da imensa praça pública que é a vida quotidiana", Flávio Rangel, no livro "A praça dos sem poderes". Eu tento ir registrando as pessoas dentro dessa dimensão de vida. Meu olhar viaja com eles e tento ser o transmissor da "pequena história", uma que muitos menosprezam, mas muitos historiadores consideram de extrema importância para o entendimento - ou ilustração, pelo menos - da realidade de um dado tempo. Eu saio às ruas propondo dar voz aqueles que por qualquer motivo, estão emudecidos, mas, nem por isso, amortecidos. Ao meu modo e jeito tento cumprir um papel, o de ser um dos intérpretes da maioria silenciada ou atemorizada. Quando escrevo deles, tento transmitir o reflexo do que pensa e como age o povo sofrido, a sua consciência abafada. Hoje na feira, me derreti diante desses dois, imensas figuras humanas.
ADILSON GONÇALVES, 55 anos e NEIDE BINCOLETTO, 65 anos são dois exemplos típicos de carregadores de piano. Casados de longa data, ela trabalha durante a semana inteira na cozinha da loja da Renault, ali na Nações Unidas, defronte o Teatro Municipal e ele atua na Vidraçaria Lukisa, onde entende tudo de vidros, variados e múltiplos. Casa um para um lado logo pela manhã e o reencontro em casa no final do dia. O que fazem no domingo pela manhã é mais que um complemento de vida. Trabalham nos bastidores da Choperia do Barba, ali na esquina da Feira do Rolo e são os que, anonimamente tocam tudo com aquele jeito simples, carregado de sapiência e luz mais que própria. Ela comanda a cozinha do estabelecimento e todos os sucos vendidos na feira, aqueles com misturas inusitadas passaram pelo seu crivo. Impecável no que faz, sem ficar rodeando nada, chega, faz e acontece. Ele a mesma coisa, atendendo como garçom na parte interna e externa. É desses que sabem como tratar o semelhante e na simplicidade conquistou a todos. Os frequentadores do local não tem do que reclamar, pois com eles por perto, a garantia de uma manhã auspiciosa e alvissareira. Quando tudo termina, ainda sobra a limpeza do local e só a partir disso, quando a calmaria volta a se estabelecer no local é que pensam em como voltar para o bairro Santa Edwirges, onde moram. A feira dominical de Bauru é um reduto iluminado, recheado de seres como esses dois, simples até a medula, boníssimos em tudo, gente que você bate os olhos e se apaixona logo de cara. Fui arrebatado pelo casal e o que escrevo aqui deles é pouco diante de tudo o que fazem ali na manhã no Bar do Barba.
Adilson, educadissimo. Sempre com um sorriso no rosto. Ela não me lembro, mas também me parece ser gente boa. Parabéns ao casal.
ResponderExcluirHELENA AQUINO